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Bom dia!
O café de hoje vem forte em Brasília. O STF mandou o marco temporal pra gaveta e acende de vez o farol da insegurança fundiária no campo, enquanto Lula leva pra Foz do Iguaçu um ultimato pros europeus no meio do jogo duro de salvaguarda agrícola da União Europeia. Do lado do clima, o Sul acordou com geada e já se prepara pra forno a lenha, enquanto o Centro Norte tá sob alerta de chuva pesada e vento forte. No bolso, tem resto de verba pro seguro rural, cheque pecuária bancando pecuária com floresta em pé, grão demais pra silo de menos, alerta de ferrugem na soja e uma leva de movimentos de mercado que vão de chocolate amazônico com DNA de bioeconomia até cooperativa distribuindo sobra recorde e sementeira pisando no freio.
Pra você acordar bem informado
Por Enrico Romanelli
TÁ QUANTO?
ASSUNTO DE GABINETE
STF bota prazo de validade no marco temporal

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O STF bateu o martelo pra acabar com a discussão sobre terras indígenas. Em um julgamento virtual, os ministros já formaram placar de 6 a 0 pra derrubar a ideia de usar 5 de outubro de 1988 como linha de corte pra demarcação. A maioria seguiu o voto de Gilmar Mendes, que jogou fora os trechos da lei aprovada em 2023 no Congresso. Ainda faltam alguns votos pingarem no sistema, mas o roteiro tá praticamente fechado e envolve quatro ações que vão desde pedidos pra derrubar pedaços da lei até tentativas de validar o marco inteiro.
Na prática, o Supremo derrubou justamente o pedaço que o agro mais queria ver garantido: uma data limite pra saber quem pode reivindicar o quê. A tese do marco temporal dizia que os povos indígenas só teriam direito à terra se estivessem na área na data da Constituição, o que agora virou página virada. Na visão do setor, isso mantém a porta aberta pra novas demarcações e alonga aquela velha sensação de insegurança jurídica no campo.
Com o STF nessa posição, a margem de manobra fica pitica. Advogados até falam em embargos de declaração pra pedir esclarecimento, tentar modular efeito e discutir a partir de quando a decisão vale, mas ninguém no setor rural parece apostar ficha numa virada dentro do próprio STF. A CNA admite que já esperava esse desfecho desde o julgamento de repercussão geral de 2023 e das audiências de conciliação que não deram em acordo. A estratégia agora muda de campo: se o marco caiu no Judiciário, a aposta passa a ser ressuscitar a tese via PEC.
A estratégia política tá traçada, mas o roteiro tá longe de ser simples. A PEC que fixa o marco temporal já passou pelo Senado e o agro quer fazer pressão pesada na Câmara pra carimbar a mudança no texto da Constituição, mas mesmo emenda pode voltar pro crivo do STF se reduzir proteção de direito fundamental. A tendência é o tema seguir na justiça, com novo round de desgaste entre Congresso e Supremo.
No meio do ringue, o setor rural insiste em outro ponto: indenização cheia pro produtor de boa fé que perder área em nova demarcação. Como resumiu gente do próprio agro, no Brasil nem o passado tá 100% garantido, e a disputa agora é descobrir quem paga a fatura da correção histórica sem deixar quem tá com título na mão se ferrar.
DE OLHO NO PORTO
Ou dá match entre Mercosul e UE, ou tchau

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Lula resolveu dar um ultimato na novela Mercosul-UE. Na reunião ministerial na Granja do Torto, ele avisou que já soube pelos bastidores que os europeus não devem conseguir costurar apoio interno pra assinar o acordo no sábado (20) em Foz do Iguaçu (PR) e mandou o recado: se não rolar agora, o Brasil não assina mais nada enquanto ele tiver na cadeira. O presidente reclama que topou adiar a cúpula do Mercosul de 2 pra 20 de dezembro a pedido da UE, que prometeu chegar com tudo pronto dia 19, e agora tá vendo França e Itália travarem o processo em nome da política doméstica e dos agricultores irritados.
Do lado de lá do Atlântico, Bruxelas passou os últimos dias montando um pacote de salvaguarda agrícola sob medida pra essa treta diplomática. Conselho Europeu, Parlamento e Comissão se juntaram e fecharam um airbag verde que aciona investigação sempre que as importações de produtos sensíveis do Mercosul, como carne bovina, frango e açúcar, crescerem 8% em média em 3 anos ou empurrarem os preços 8% pra baixo.
O detalhe é que essa salvaguarda é totalmente interna da UE, não foi negociada com o bloco sul-americano e abre espaço pra DR pesada se for usada como barreira extra acima do que tá no texto do acordo. Se Bruxelas começar a apertar demais o funil pra carne e açúcar daqui, o Mercosul ganha argumento pra responder na mesma moeda, mirando produtos industriais europeus com instrumentos parecidos. Até sábado a gente vê qual vai ser.
O AGRO EM NÚMEROS
Cana devagar, quase parando, CAR acelerando e soja mineira em clima de otimismo

Foto: Globo Rural
A safra de cana 2025/26 no Centro-Sul já tá naquele clima de apagar a luz e trancar o portão. Até 30 de novembro, 173 usinas tinham encerrado a moagem e só 144 ainda tavam rodando, bem menos que as 196 do ano passado. Resultado: 16 milhões de toneladas de cana na última quinzena de novembro, queda de 21%, açúcar minguando 32,9% pra 724 mil toneladas e etanol segurando melhor, com 1,185 bilhão de litros e o mix bem álcoolico, com só 35,5% da cana indo pro açúcar e o resto virando combustível.
Enquanto a cana tira o pé, São Paulo pisa fundo no Código Florestal. O estado bateu 200 mil Cadastros Ambientais Rurais validados e já tem perto de 50% dos imóveis rurais com regularidade ambiental reconhecida, o que coloca SP na frente do pelotão nacional. Com vegetação nativa em cerca de 26% do território, o governo usa o número pra vender a ideia de agro que gera PIB, segura floresta e ainda vira case de governança ambiental pra mostrar em evento chique.
Em Minas Gerais, quem tá bem encaminhada é a soja. Em Patos de Minas, cerca de 90% dos 33 mil hectares previstos já tão plantados, com lavoura entre germinação e vegetativo e meta de produtividade em 3.900 kg/ha se a chuva continuar colaborando. No estado inteiro, a área de soja deve chegar a 2,41 milhões de hectares em 2025/26, alta de 1,3%, com produção estimada em 9,544 milhões de toneladas e rendimento médio de 3.980 kg/ha, um tico acima da safra passada. Se o clima não aprontar, o mineiro entra em 2026 com xícara cheia e planilha sorrindo.
E ESSE TEMPO, HEIN?
Do gelo ao forno em 3 dias

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O clima resolveu brincar de montanha-russa justo na reta final da primavera. No Sul, o fim de semana bateu perto de 40°C e, em questão de horas, uma frente fria derrubou as temperaturas pra casa de 1,5°C em Urupema (SC), com geada em São Joaquim (SC) e região, e ainda teve mínima perto de 3°C em São José dos Ausentes (RS). Agora, a massa de ar polar já começa a ir embora e o roteiro vira do avesso de novo: pra quinta (18) e sexta (19) a previsão fala em máximas entre 36°C e 38°C em boa parte do interior gaúcho, com Porto Alegre passando fácil dos 30°C.
Enquanto isso, do Centro-Oeste pra cima, o problema não é temperatura, é excesso de água. O Inmet espalhou um tapete de alertas de chuva forte e ventania pegando uma faixa enorme que vai de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul até Minas, Rio, Espírito Santo, Bahia, Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e Roraima. Tem aviso de perigo potencial com 30 mm a 60 mm por hora, acumulado diário de até 100 mm e vento chegando a 100 km/h, jogando na mistura os clássicos riscos de queda de árvore, alagamento, corte de energia e muita descarga elétrica em área rural.
COLHENDO CAPITAL
Seguro rural ganha 13º em dezembro

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O governo resolveu fazer ceia de natal com as sobras do seguro rural. O Comitê Gestor Interministerial do Seguro Rural oficializou a liberação de R$ 83 milhões que estavam esquecidos no fundo da geladeira orçamentária pra subvenção em dezembro. A fatia mais gordinha, de R$ 64,7 milhões, vai pra soja e outras culturas de verão tipo algodão, amendoim, arroz, milho e girassol. Frutas levam R$ 19 milhões, pecuária pega R$ 1,5 milhão, florestas ficam com R$ 500 mil e o resto, R$ 22,9 milhões, se espalha entre aquicultura, café, cana e olerícolas. Não é um banquete, mas é melhor que nada.
Quando olha o ano inteiro, porém, a conta azeda rápido. Em 2025 o governo autorizou R$ 565,4 milhões em subvenção, bem longe do R$ 1,06 bilhão que tava no papel, um corte de quase 47%. Desse bolo, R$ 67 milhões foram usados pra pagar pendência de apólice de 2024, R$ 177 milhões simplesmente sumiram do jogo com cancelamento e R$ 250,6 milhões seguem bloqueados.
Mesmo capenga, o programa de seguro ainda faz alguma diferença. Até agora foram aplicados pouco mais de R$ 487 milhões, cobrindo 2,26 milhões de hectares, com milho 2ª safra na liderança, perto de 1,5 milhão de hectares, seguido por trigo com 343,3 mil hectares e sorgo com 74,9 mil hectares. Com a liberação das sobras, o Atlas do Seguro Rural finalmente começou a mostrar cobertura em soja, com 65 mil hectares que tavam zerados até ontem.
SAFRA DE CIFRAS
Cheque pecuário ou cashback do carbono?

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O Pará resolveu colocar dinheiro onde o discurso verde tá: no bolso do pequeno produtor. Com o Cheque Pecuária, lançado em Xinguara (PA), o governo abre a carteira pra mais de 70 mil pecuaristas de base, que cuidam de 3,1 milhões de cabeças e muitas vezes carregam a fama de elo sujo da cadeia. A ideia é simples mas tem potencial de sobra: até R$ 20 mil pra quem topar entrar na linha da regularização ambiental ou adotar boas práticas que aumentem a lotação sem derrubar mais um palito de floresta.
O Imaflora fez a conta e gostou do que viu. Num cenário em que todo o público alvo adere ao programa, o Cheque Pecuária poderia empurrar 360 mil hectares pra manejo mais sustentável e isolar pelo menos 432 mil hectares pra recuperação ambiental, ajudando o Pará a cumprir metas do Plano ABC+ e do plano de vegetação nativa. Traduzindo pro agroês, dá pra praticamente dobrar a produção sem abrir nova área, segurar algo perto de 500 milhões de toneladas de carbono no chão, cortar 48,4 mil toneladas de metano com abate mais cedo de 3 milhões de cabeças e ainda remover 806,4 mil toneladas de CO₂ por ano com pasto bem manejado e floresta de volta onde hoje é pastagem cansada.
O recado político vem com filtro bem nítido: fica de fora quem sobrepõe área protegida ou tem rastro de trabalho análogo à escravidão, enquanto o dinheiro público mira justamente quem precisa de empurrão pra sair da irregularidade e não tem caixa pra isso. Pra fechar o ciclo, Imaflora já avisou que ainda falta colocar rastreabilidade individual do rebanho nessa conta e pediu monitoramento fino do programa nos próximos anos. Porque, se bem afinado, o Cheque Pecuária pode virar exatamente o tipo de política que o mercado cobra há anos: menos conversa genérica sobre pecuária sustentável e mais PIX direto pra quem topa produzir boi, clima e floresta na mesma fazenda.
PLANTÃO RURAL
Banco anti-aftosa na manga. Carlos Fávaro assinou um contrato pra montar um repositório brasileiro de antígenos de febre aftosa e criou um arsenal de vacinas de emergência. A ideia é não correr atrás de surto, e sim chegar antes, reforçando a imagem de pecuária séria pra exportador que anda bem de olho na sanidade.
Chocolate, floresta e Nobel na mesma caixa. A Mágio lançou uma coleção de chocolates com imagens cedidas por Sebastião Salgado e cacau de Yanomami, Ye’kwana, quilombolas e ribeirinhos. Bioeconomia amazônica virando negócio de milhões, com rastreabilidade, impacto social e disputa de prateleira com Dengo, Nugali e companhia no clube do chocolate premium.
Biotrop ganhando mapa-múndi. O grupo BioFirst colocou a subsidiária brasileira no comando da americana BioWorks, especialista em biológicos pra estufas nos EUA, Europa e África. A fábrica de Nova York tá usando só 1/4 da capacidade, e o plano é multiplicar receita por 4 e usar o canal lá fora pra empurrar tecnologia made in Brasil mundo afora.
Ferrugem asiática ligou o alerta. O Consórcio Antiferrugem já contabiliza 26 focos em lavouras comerciais de soja, sendo 23 no Paraná e registros em MS e SP.
Safra recorde e silo curto. A produção de grãos deve bater 354,4 milhões de toneladas em 2025/26, mas a capacidade de armazenamento fica na casa de 200 a 230 milhões. Sem espaço, a colheita entra em enxurrada, o basis derrete entre R$ 15 e R$ 25 por saca, e quem não tem estrutura própria vende pressionado enquanto paga o custo todo ano.
Nitrogênio em forma de legado. A Academia Brasileira de Ciências lançou o livro “A Herança de Johanna Döbereiner pra Ciência Agrícola Brasileira e Mundial”, resgatando a história da pesquisadora que bancou a fixação biológica de nitrogênio na soja e em gramíneas, derrubou a conta de adubo e colocou o Brasil no mapa da agricultura tropical de alta ciência.
Cocamar fecha o ano regando o bolso. A cooperativa começa a distribuir mais de R$ 200 milhões pros cerca de 20 mil cooperados, somando sobras, programas ao produtor e crédito em conta-capital. Mesmo com safra quebrada, preço ruim e ano azedo, a gestão diz que o retorno recorde é prova de planejamento afiado e cooperado firme no jogo.
Boa Safra puxou o freio de mão. A sementeira cortou 5% do quadro, extinguiu diretorias de Marketing e Novos Negócios e reposicionou o discurso: menos expansão agressiva, mais eficiência em SG&A. BTG e Citi reduziram o entusiasmo, investidor azedou e a ação caiu perto de 4%, num mercado de sementes com estoque alto, margens apertadas e seleção natural dos mais eficientes.
SE DIVERTE AÍ
O desafio de hoje é o Flagle, aquele jogo em que cada palpite revela um pedacinho da bandeira até você acertar o país. Parece moleza até surgir uma bandeira que nem o professor de geografia lembraria de cabeça. Chama o pessoal da fazenda, do escritório ou da sala, cada um joga no seu celular e vence quem matar a charada em menos tentativas; o resto vocês decidem se paga o próximo cafezinho ou só aceita a derrota em silêncio.
VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Sorgo
Pergunta de hoje: Qual planta cultivada há mais de 3 mil anos na Ásia é usada até hoje para produzir fibras e óleo comestível?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!

