APRESENTADO POR


Bom dia!

Na Alemanha, robôs a laser estão capinando com precisão cirúrgica, enquanto por aqui o Congresso mira no leite em pó importado. A Basf se prepara pra listar seu braço agrícola na bolsa, o café ganha fama de cardiologista e as hortas urbanas viram pauta climática em Belém. Tá vendo? O futuro do agro pode até ter IA, mas continua começando com uma boa xícara.

Pra você acordar bem informado

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

COMMODITIES
Açúcar (Saca 50kg) R$108,71 -32,04%
Algodão (Centavos R$/LP) 341,54 -18,66%
Arroz (Saca 50kg) R$55,42 -44,10%
Boi gordo (Arroba 15kg) R$322,15 0,19%
Café Arábica (Saca 60kg) R$2.294,47 2,34%
Etanol anidro (Litro) R$3,2094 5,78%
Milho (Saca 60kg) R$67,34 -7,68%
Soja (Saca 60kg) R$138,93 0,00%
Trigo (Tonelada) R$1.196,25 -14,15%

Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).

SAFRA DE CIFRAS

Seguro rural tenta sair do papel

Foto: Mapa/Divulgação

O governo quer tirar o Seguro Rural da gaveta e botar no mapa das despesas obrigatórias. Carlos Fávaro levou o assunto direto pra mesa de Haddad, defendendo que o programa vire política de Estado e não mais uma vítima de contingenciamento. A conta é alta, mas a lógica é simples: prevenir sai mais barato do que remendar depois que o clima desaba.

A ideia é atualizar o modelo, com direito a seguro paramétrico, cobertura pra investimento e orçamento blindado das tesouradas de fim de ano. Tudo com base no projeto de lei da senadora Tereza Cristina (PP-MS), que cria um fundo de catástrofes e repagina as regras de subvenção. O plano é que as novas normas já entrem em campo em 2026, pra ninguém dizer que o agro ficou sem guarda-chuva.

Pra Fávaro, quem acessa crédito do Plano Safra com juro camarada vai ter que fazer seguro, pra levar 1 tem que levar os 2. A jogada é boa pro Tesouro, que cansa de virar fiador quando o clima dá calote. Se o produtor estiver segurado, o prejuízo não vai bater na porta de Brasília.

Mas convencer a equipe econômica é outra história. Haddad até entendeu a proposta, mas quer saber de onde vem o dinheiro. Fávaro jura que tem fonte, só não contou qual.

POR DENTRO DA COP30

Boi de carbono baixo e moral alta

O Mapa levou pra AgriZone, na COP30, um papo reto sobre o boi que arrota menos e rende mais. No painel “Mitigação de metano na bovinocultura de corte”, o ministério apresentou as estratégias pra reduzir as emissões do setor sem travar a produtividade, o sonho de todo pecuarista. O Plano ABC+ foi o destaque: a política pública quer convencer o produtor de que dá pra mitigar gases e engordar o lucro ao mesmo tempo.

Representantes da Embrapa, Imaflora, ICV e da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável mostraram que o caminho passa por tecnologia, manejo integrado e assistência técnica de verdade, porque nem todo pecuarista tem acesso às práticas mais modernas de baixo carbono. Como disse o auditor Sidney Medeiros, o desafio é fazer o produtor adotar o sustentável não por moda, mas por resultado.

O foco é claro: menos metano, mais carne e um clima mais leve, no pasto e nas negociações internacionais. O Brasil quer provar que dá pra fazer churrasco sem queimar a reputação ambiental.

O AGRO EM NUMEROS

Ovos subindo, café travado e carne de planta derretendo

O campo continua entregando contrastes dignos de novela. As exportações de ovos seguem botando resultado no ninho: em outubro, o Brasil embarcou 2,3 mil toneladas, alta de 13% sobre o ano passado. A receita cresceu 43%, pra mais de US$ 6 milhões no mês. No acumulado do ano, o salto é de 151% em volume e 180% em faturamento. Uma verdadeira galinha dos ovos de ouro.

Enquanto isso, o café brasileiro amarga gargalos portuários dignos de roteiro de suspense. Em setembro, 939 mil sacas ficaram presas nos portos, o que gerou prejuízo de R$ 9 milhões com armazenagem e frete parado. O Cecafé cobrou agilidade no leilão do terminal Tecon Santos 10, travado na burocracia. Segundo o setor, sem investimento logístico, o país segue perdendo tempo, receita e paciência.

Lá fora, o cenário também amarga. A Beyond Meat, que já prometeu revolucionar o churrasco, viu o prejuízo saltar pra US$ 110 milhões no trimestre e a receita cair 13%. A demanda por hambúrguer vegetal despencou, e até os investidores parecem ter voltado pro bom e velho boi. No Brasil, a Nutriplant, dos micronutrientes e fertilizantes especiais, lucrou só R$ 1,4 milhão, uma queda de 53%, e viu a dívida dobrar no ano. O campo continua girando, mas o saldo mostra que nem todo adubo é financeiro.

MENTES QUE GERMINAM

Os gringos aplaudiram: Embrapa é o MIT do mato

Pesquisadores das universidades mais badaladas dos Estados Unidos (MIT, Princeton, Notre Dame e companhia) resolveram estudar a Embrapa e chegaram a uma conclusão digna de nos dar mais um Nobel do agro: o Brasil viveu uma revolução silenciosa no campo graças à pesquisa pública.

Segundo o paper, cada R$1 investido em ciência agrícola rendeu R$17 de volta em produtividade. E mais: se a Embrapa tivesse seguido o modelo centralizador americano, o salto teria sido pela metade, ou seja, espalhar cientista pelo Brasil funciona bem demais.

O estudo coloca em destaque que essa estrutura descentralizada da Embrapa, com 43 centros de pesquisa espalhados pelo país, foi o segredo da virada. Do Cerrado à Amazônia, cada unidade virou um laboratório adaptado às condições locais, transformando o Brasil em referência global de inovação tropical. Parece que o Brasil não é só o país do futebol, mas também da pesquisa e inovação.

Enquanto os gringos se encantam, a Embrapa continua equilibrando o orçamento no fio da navalha: o dinheiro pra pesquisa caiu 80% em dez anos e só agora começa a se recuperar. Mesmo assim, a empresa segue firme, provando que o Brasil não virou potência agrícola só com sol e terra fértil, mas com cérebro, laboratório e um bocado de teimosia científica. Se os EUA têm o MIT, a gente tem o MIT do mato.

CAMPO ATUALIZADO

Trator falante

Gif by apala9tv on Giphy

Na Agritechnica 2025, em Hannover, a revolução não tá só debaixo do capô, tá na prosa também. O grande burburinho da feira veio da Valtra, que lançou o primeiro trator falante do mundo. Equipado com inteligência artificial, o Q Series Talking Tractor entende comandos de voz, responde dúvidas e até dá dicas de manutenção. É basicamente um agrônomo sobre rodas, pronto pra dizer se o consumo tá alto ou se a luz de trabalho ficou ligada.

Mas o trator tagarela é só o símbolo de uma tendência mais ampla. Segundo o relatório “Tracker Agritechnica 2025”, 76% dos visitantes já chegaram à feira com planos de investimento definidos e o foco é claro: digitalização, automação e robótica. Metade do público quer softwares de monitoramento e análise preditiva, 42% busca máquinas autônomas e 21% sonha com robôs que capinam, pulverizam e até colhem sozinhos. A agricultura tá virando um campo de dados, com GPS, sensores e IoT mais populares que bandeirante em feira de tecnologia.

A Agritechnica mostrou que o agro do futuro não vai depender só de força bruta, mas de conexão, de Wi-Fi e de ideias. As fabricantes deixaram de vender só máquinas pra oferecer plataformas digitais, manutenção remota e até assinatura de serviços. O trator agora fala, pensa e coleta dados. Falta só servir o cafézinho.

DE OLHO NO PORTO

China abre o cofre e o Brasil sai na frente

Foto: REUTERS/Diego Vara

A estatal chinesa Cofco assinou contratos de mais de US$ 10 bilhões pra comprar quase 20 milhões de toneladas de produtos agrícolas, incluindo soja brasileira, óleo de soja e palma. O pacote foi fechado durante a feira China International Import Expo, em Xangai, com direito a assinatura de peso: ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus entraram no rol de fornecedoras. E sim, o Brasil continua sendo o queridinho do dragão asiático, mesmo com Pequim tentando ensaiar uma reaproximação com Washington.

A China até fez umas comprinhas simbólicas de soja dos EUA, pra mostrar boa vontade diplomática, mas o grosso do estoque vem mesmo do Brasil. Mesmo com as tarifas americanas reduzidas de 23% pra 13%, a soja brasileira segue mais barata e competitiva, o que deixa os americanos só com o “good morning” nas mesas de negociação. Analistas dizem que, enquanto o grão verde-amarelo continuar entregando qualidade e preço, Pequim não vai trocar de fornecedor tão cedo.

A Cofco não confirmou os números totais, mas o gesto tem valor estratégico. Em plena tensão geopolítica, a China reforça laços com o Brasil e garante o abastecimento das suas prateleiras.

PLANTÃO RURAL + COP30

  • Leite quente na Câmara. O deputado Zé Silva (Solidariedade-MG) quer barrar o leite de fora reconstituído e vendido como se fosse brasileiro. O projeto de lei proíbe a prática em todo o país, protegendo o produtor nacional e evitando que o leite em pó importado, e muitas vezes subsidiado, derrube os preços pagos ao produtor.

  • Fim do drama americano. Depois de 42 dias de impasse, o Senado dos EUA aprovou o fim do shutdown. A medida ainda passa pela Câmara e deve ser sancionada por Trump. A normalização libera relatórios do USDA e traz respiro aos mercados.

  • Doce amargo. Com o açúcar valendo menos que o custo de produção, a São Martinho e outras usinas estão virando o canavial pro etanol e focando a moagem na produção do biocombustível.

  • Laser contra mato. Na Agritechnica, a alemã Digital Workbench apresentou um robô que elimina ervas daninhas com laser guiado por inteligência artificial. Custa de R$ 420 mil a R$ 1,4 milhão, mas promete reduzir o uso de herbicidas e a dependência de mão de obra.

  • Batata high-tech. Também na feira alemã, uma máquina da Tolsma Grisnich faz o trabalho de até 40 pessoas selecionando batatas e cebolas. Com câmeras de alta definição e deep learning, o equipamento opera 24 horas por dia e custa R$ 1,3 milhão.

  • Cafeína do bem. Pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram que uma xícara de café por dia pode reduzir em 39% o risco de arritmia cardíaca.

  • Horta urbana na COP. A Embrapa levou à COP30 projetos de agricultura urbana que unem produção local, saneamento e renda. As hortas comunitárias e o Sisteminha foram destaque no painel em Belém. Além de alimento fresco, o modelo ajuda cidades a enfrentar a fome e as mudanças climáticas.

  • Cartilha da Amazônia Legal. Governos estaduais lançam na COP30 um guia prático sobre regularização fundiária na Amazônia Legal. A ideia é dar segurança jurídica a investidores e produtores, fortalecendo cadeias produtivas sustentáveis e projetos florestais.

  • Mulheres em campo. O ministro Carlos Fávaro recebeu o movimento Agroligadas, criado por mulheres do agro em Mato Grosso. O encontro reforçou o papel feminino na inovação, sustentabilidade e abertura de mercados.

SE DIVERTE AÍ

O desafio de hoje é pra quem acha que entende de comércio exterior: o Tradle! O jogo mostra o valor e a origem das exportações de um país, e você tem que adivinhar de onde vêm os produtos. Cada tentativa revela o quanto você tá perto, com base em distância, direção e volume de trocas comerciais.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Castanheira do Brasil

Pergunta de hoje: Qual capim africano mudou a pecuária brasileira ao dominar as pastagens tropicais?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

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