
APRESENTADO POR
Bom dia!
Na Alemanha, robôs a laser estão capinando com precisão cirúrgica, enquanto por aqui o Congresso mira no leite em pó importado. A Basf se prepara pra listar seu braço agrícola na bolsa, o café ganha fama de cardiologista e as hortas urbanas viram pauta climática em Belém. Tá vendo? O futuro do agro pode até ter IA, mas continua começando com uma boa xícara.
Pra você acordar bem informado
Por Enrico Romanelli
TÁ QUANTO?
Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).
SAFRA DE CIFRAS
Seguro rural tenta sair do papel

Foto: Mapa/Divulgação
O governo quer tirar o Seguro Rural da gaveta e botar no mapa das despesas obrigatórias. Carlos Fávaro levou o assunto direto pra mesa de Haddad, defendendo que o programa vire política de Estado e não mais uma vítima de contingenciamento. A conta é alta, mas a lógica é simples: prevenir sai mais barato do que remendar depois que o clima desaba.
A ideia é atualizar o modelo, com direito a seguro paramétrico, cobertura pra investimento e orçamento blindado das tesouradas de fim de ano. Tudo com base no projeto de lei da senadora Tereza Cristina (PP-MS), que cria um fundo de catástrofes e repagina as regras de subvenção. O plano é que as novas normas já entrem em campo em 2026, pra ninguém dizer que o agro ficou sem guarda-chuva.
Pra Fávaro, quem acessa crédito do Plano Safra com juro camarada vai ter que fazer seguro, pra levar 1 tem que levar os 2. A jogada é boa pro Tesouro, que cansa de virar fiador quando o clima dá calote. Se o produtor estiver segurado, o prejuízo não vai bater na porta de Brasília.
Mas convencer a equipe econômica é outra história. Haddad até entendeu a proposta, mas quer saber de onde vem o dinheiro. Fávaro jura que tem fonte, só não contou qual.
POR DENTRO DA COP30
Boi de carbono baixo e moral alta
O Mapa levou pra AgriZone, na COP30, um papo reto sobre o boi que arrota menos e rende mais. No painel “Mitigação de metano na bovinocultura de corte”, o ministério apresentou as estratégias pra reduzir as emissões do setor sem travar a produtividade, o sonho de todo pecuarista. O Plano ABC+ foi o destaque: a política pública quer convencer o produtor de que dá pra mitigar gases e engordar o lucro ao mesmo tempo.
Representantes da Embrapa, Imaflora, ICV e da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável mostraram que o caminho passa por tecnologia, manejo integrado e assistência técnica de verdade, porque nem todo pecuarista tem acesso às práticas mais modernas de baixo carbono. Como disse o auditor Sidney Medeiros, o desafio é fazer o produtor adotar o sustentável não por moda, mas por resultado.
O foco é claro: menos metano, mais carne e um clima mais leve, no pasto e nas negociações internacionais. O Brasil quer provar que dá pra fazer churrasco sem queimar a reputação ambiental.
O AGRO EM NUMEROS
Ovos subindo, café travado e carne de planta derretendo
O campo continua entregando contrastes dignos de novela. As exportações de ovos seguem botando resultado no ninho: em outubro, o Brasil embarcou 2,3 mil toneladas, alta de 13% sobre o ano passado. A receita cresceu 43%, pra mais de US$ 6 milhões no mês. No acumulado do ano, o salto é de 151% em volume e 180% em faturamento. Uma verdadeira galinha dos ovos de ouro.
Enquanto isso, o café brasileiro amarga gargalos portuários dignos de roteiro de suspense. Em setembro, 939 mil sacas ficaram presas nos portos, o que gerou prejuízo de R$ 9 milhões com armazenagem e frete parado. O Cecafé cobrou agilidade no leilão do terminal Tecon Santos 10, travado na burocracia. Segundo o setor, sem investimento logístico, o país segue perdendo tempo, receita e paciência.
Lá fora, o cenário também amarga. A Beyond Meat, que já prometeu revolucionar o churrasco, viu o prejuízo saltar pra US$ 110 milhões no trimestre e a receita cair 13%. A demanda por hambúrguer vegetal despencou, e até os investidores parecem ter voltado pro bom e velho boi. No Brasil, a Nutriplant, dos micronutrientes e fertilizantes especiais, lucrou só R$ 1,4 milhão, uma queda de 53%, e viu a dívida dobrar no ano. O campo continua girando, mas o saldo mostra que nem todo adubo é financeiro.
MENTES QUE GERMINAM
Os gringos aplaudiram: Embrapa é o MIT do mato
Pesquisadores das universidades mais badaladas dos Estados Unidos (MIT, Princeton, Notre Dame e companhia) resolveram estudar a Embrapa e chegaram a uma conclusão digna de nos dar mais um Nobel do agro: o Brasil viveu uma revolução silenciosa no campo graças à pesquisa pública.
Segundo o paper, cada R$1 investido em ciência agrícola rendeu R$17 de volta em produtividade. E mais: se a Embrapa tivesse seguido o modelo centralizador americano, o salto teria sido pela metade, ou seja, espalhar cientista pelo Brasil funciona bem demais.
O estudo coloca em destaque que essa estrutura descentralizada da Embrapa, com 43 centros de pesquisa espalhados pelo país, foi o segredo da virada. Do Cerrado à Amazônia, cada unidade virou um laboratório adaptado às condições locais, transformando o Brasil em referência global de inovação tropical. Parece que o Brasil não é só o país do futebol, mas também da pesquisa e inovação.
Enquanto os gringos se encantam, a Embrapa continua equilibrando o orçamento no fio da navalha: o dinheiro pra pesquisa caiu 80% em dez anos e só agora começa a se recuperar. Mesmo assim, a empresa segue firme, provando que o Brasil não virou potência agrícola só com sol e terra fértil, mas com cérebro, laboratório e um bocado de teimosia científica. Se os EUA têm o MIT, a gente tem o MIT do mato.
CAMPO ATUALIZADO
Trator falante

Gif by apala9tv on Giphy
Na Agritechnica 2025, em Hannover, a revolução não tá só debaixo do capô, tá na prosa também. O grande burburinho da feira veio da Valtra, que lançou o primeiro trator falante do mundo. Equipado com inteligência artificial, o Q Series Talking Tractor entende comandos de voz, responde dúvidas e até dá dicas de manutenção. É basicamente um agrônomo sobre rodas, pronto pra dizer se o consumo tá alto ou se a luz de trabalho ficou ligada.
Mas o trator tagarela é só o símbolo de uma tendência mais ampla. Segundo o relatório “Tracker Agritechnica 2025”, 76% dos visitantes já chegaram à feira com planos de investimento definidos e o foco é claro: digitalização, automação e robótica. Metade do público quer softwares de monitoramento e análise preditiva, 42% busca máquinas autônomas e 21% sonha com robôs que capinam, pulverizam e até colhem sozinhos. A agricultura tá virando um campo de dados, com GPS, sensores e IoT mais populares que bandeirante em feira de tecnologia.
A Agritechnica mostrou que o agro do futuro não vai depender só de força bruta, mas de conexão, de Wi-Fi e de ideias. As fabricantes deixaram de vender só máquinas pra oferecer plataformas digitais, manutenção remota e até assinatura de serviços. O trator agora fala, pensa e coleta dados. Falta só servir o cafézinho.
DE OLHO NO PORTO
China abre o cofre e o Brasil sai na frente

Foto: REUTERS/Diego Vara
A estatal chinesa Cofco assinou contratos de mais de US$ 10 bilhões pra comprar quase 20 milhões de toneladas de produtos agrícolas, incluindo soja brasileira, óleo de soja e palma. O pacote foi fechado durante a feira China International Import Expo, em Xangai, com direito a assinatura de peso: ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus entraram no rol de fornecedoras. E sim, o Brasil continua sendo o queridinho do dragão asiático, mesmo com Pequim tentando ensaiar uma reaproximação com Washington.
A China até fez umas comprinhas simbólicas de soja dos EUA, pra mostrar boa vontade diplomática, mas o grosso do estoque vem mesmo do Brasil. Mesmo com as tarifas americanas reduzidas de 23% pra 13%, a soja brasileira segue mais barata e competitiva, o que deixa os americanos só com o “good morning” nas mesas de negociação. Analistas dizem que, enquanto o grão verde-amarelo continuar entregando qualidade e preço, Pequim não vai trocar de fornecedor tão cedo.
A Cofco não confirmou os números totais, mas o gesto tem valor estratégico. Em plena tensão geopolítica, a China reforça laços com o Brasil e garante o abastecimento das suas prateleiras.
PLANTÃO RURAL + COP30
Leite quente na Câmara. O deputado Zé Silva (Solidariedade-MG) quer barrar o leite de fora reconstituído e vendido como se fosse brasileiro. O projeto de lei proíbe a prática em todo o país, protegendo o produtor nacional e evitando que o leite em pó importado, e muitas vezes subsidiado, derrube os preços pagos ao produtor.
Fim do drama americano. Depois de 42 dias de impasse, o Senado dos EUA aprovou o fim do shutdown. A medida ainda passa pela Câmara e deve ser sancionada por Trump. A normalização libera relatórios do USDA e traz respiro aos mercados.
Doce amargo. Com o açúcar valendo menos que o custo de produção, a São Martinho e outras usinas estão virando o canavial pro etanol e focando a moagem na produção do biocombustível.
Laser contra mato. Na Agritechnica, a alemã Digital Workbench apresentou um robô que elimina ervas daninhas com laser guiado por inteligência artificial. Custa de R$ 420 mil a R$ 1,4 milhão, mas promete reduzir o uso de herbicidas e a dependência de mão de obra.
Batata high-tech. Também na feira alemã, uma máquina da Tolsma Grisnich faz o trabalho de até 40 pessoas selecionando batatas e cebolas. Com câmeras de alta definição e deep learning, o equipamento opera 24 horas por dia e custa R$ 1,3 milhão.
Cafeína do bem. Pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram que uma xícara de café por dia pode reduzir em 39% o risco de arritmia cardíaca.
Horta urbana na COP. A Embrapa levou à COP30 projetos de agricultura urbana que unem produção local, saneamento e renda. As hortas comunitárias e o Sisteminha foram destaque no painel em Belém. Além de alimento fresco, o modelo ajuda cidades a enfrentar a fome e as mudanças climáticas.
Cartilha da Amazônia Legal. Governos estaduais lançam na COP30 um guia prático sobre regularização fundiária na Amazônia Legal. A ideia é dar segurança jurídica a investidores e produtores, fortalecendo cadeias produtivas sustentáveis e projetos florestais.
Mulheres em campo. O ministro Carlos Fávaro recebeu o movimento Agroligadas, criado por mulheres do agro em Mato Grosso. O encontro reforçou o papel feminino na inovação, sustentabilidade e abertura de mercados.
SE DIVERTE AÍ
O desafio de hoje é pra quem acha que entende de comércio exterior: o Tradle! O jogo mostra o valor e a origem das exportações de um país, e você tem que adivinhar de onde vêm os produtos. Cada tentativa revela o quanto você tá perto, com base em distância, direção e volume de trocas comerciais.
VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Castanheira do Brasil
Pergunta de hoje: Qual capim africano mudou a pecuária brasileira ao dominar as pastagens tropicais?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!




