APRESENTADO POR

Bom dia!

O agro fecha 2025 com safra gigante e PIB turbinado, mas a conta de 2026 já vem com aviso em letras garrafais: inadimplência nas alturas, seguro rural capenga e banco cada vez mais seletivo. No meio disso, produtor encara ciclone, recall de carne na Europa, banco de investimento montando loja na roça, alerta de raiva bovina em Goiás e um Plantão Rural que mistura floresta em pé, cesta básica mais leve e canavial tentando não faltar no caixa.

Pra você acordar bem informado

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

COMMODITIES
Açúcar (Saca 50kg) R$110,82 -30,72%
Algodão (Centavos R$/LP) 347,47 -17,25%
Arroz (Saca 50kg) R$52,92 -46,62%
Boi gordo (Arroba 15kg) R$322,50 0,30%
Café Arábica (Saca 60kg) R$2.241,23 -0,03%
Etanol anidro (Litro) R$3,3128 9,19%
Milho (Saca 60kg) R$69,99 -4,04%
Soja (Saca 60kg) R$142,19 2,35%
Trigo (Tonelada) R$1.183,48 -15,06%

Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).

NAS CABEÇAS DO AGRO

CNA puxa o freio: sem seguro rural parrudo, o PIB do agro também perde tração

Foto: AgFeed

A CNA olhou pro retrovisor de 2025, viu uma safra recorde de mais de 350 milhões de toneladas, o PIB do agro decolando 9,6% e VBP perto de R$ 1,49 trilhão, e saiu falando com convicção que o ano foi bom. Só que pra 2026, o painel vira árvore de natal e começa a piscar um monte de luz amarela. A confederação projeta que o PIB do agronegócio cresça só 1% no ano que vem. A produção segue forte, mas a rentabilidade, o crédito e o humor do clima prometem testar o campo.

O grande calo tá no bolso. A inadimplência da pessoa física no crédito rural saltou de 3,5% em outubro de 2024 pra 11,4% neste ano, maior nível da série histórica. No meio do caminho, teve La Niña atrasando plantio, chuva demais em uns cantos, seca em outros, queda de preço em várias commodities, taxa Selic de 15% ao ano e banco bem mais chato na hora de renovar custeio. Como resultado disso, muita gente foi empurrando com a barriga até onde deu, mas agora travou tudo. A CNA já fala em produtor entrando em 2026 com pacote tecnológico mais enxuto e mais vulnerável a qualquer tropeço de safra.

É aí que entra o xodó da entidade e de todo mundo que realmente entende de agro: o seguro rural. Na conta da CNA, o PSR em 2025 foi praticamente desmontado. O governo reservou R$ 1,06 bilhão, mas bloqueou uma fatia gorda e só liberou verba pra cobrir uns 3 milhões de hectares, menos de 5% da área agricultável do país. A demanda da confederação é por R$ 4 bilhões por ano pro programa, transformando o seguro em política de Estado, não em linha que some na primeira tesourada de orçamento. A comparação que eles fazem é bem direta: ou se coloca R$ 4 bilhões pra segurar risco climático antes ou se gasta R$ 12 bilhões depois com medida provisória pra renegociar dívida e ajudar produtor que se ferrou com a imprevisibilidade.

E ESSE TEMPO, HEIN?

Ciclone bota o Sul no castigo

Giphy

O ciclone extratropical que tá passando por aqui resolveu ficar mais um dia no palco principal e atinge o auge da força nesta quarta (10), colado no litoral do Rio Grande do Sul. O Inmet manteve alerta vermelho pra região, com chuva passando fácil dos 100 mm e ventania forte em SC e RS. É aquele combo clássico que tá rolando a semana toda: enxurrada, vento chato e cronograma de lavoura indo pro espaço.

Na Serra Gaúcha, o cenário de filme dramático veio em versão pocket. Em Flores da Cunha (RS), a Climatempo confirmou um tornado de curta duração que destruiu pelo menos 20 parreirais e atingiu 3 vinícolas, além de casas, galpões, estufas e outras estruturas. Pelo menos o ciclone começa a se afastar e ir em direção ao mar, mas deixa um estrago no meio do caminho.

O resto do país não passa ileso. No Sudeste, a madrugada em São Paulo deve ser de chuva forte em praticamente todo o estado, antes da instabilidade migrar pra Minas e Rio. No Centro-Oeste, norte e leste de Mato Grosso do Sul entram em alerta pra pancada mais pesada, com temperatura voltando a passar fácil dos 30 ºC nas capitais. Nordeste e Norte seguem naquele equilíbrio esquisito entre chuva forte em bolsões como sul do Maranhão, oeste da Bahia, Amazonas e Rondônia e tempo firme com umidade baixa no restante.

O AGRO EM NÚMEROS

Soja entope navio, milho engata marcha e café faz dieta em saca

Foto: Freepik

A soja segue mandando no fluxo de caixa do agro. A Anec elevou a projeção de exportação em dezembro pra 3,33 milhões de toneladas, mais que o dobro das 1,47 milhão de toneladas de 2024, surfando a safra recorde de 2025 e a fome firme da China. No acumulado de janeiro a novembro, o Brasil já mandou 104,8 milhões de toneladas lá pra fora, alta de 6,06%. Quem puxa a fila é o Mato Grosso: só em novembro, o estado embarcou 898,68 mil toneladas, salto de 840%, e já chega a 31,12 milhões no ano, quase 30% de toda a soja exportada. No campo, a Conab mostrou que o plantio da safra 2025/26 tá quase acabando, passando dos 90% de área, com Mato Grosso e São Paulo já fechados e Mato Grosso do Sul, Minas e Paraná quase zerando a conta.

No milho, o filme é de continuidade com um tiquinho de ansiedade. A Anec projeta exportação de 6,30 milhões de toneladas em dezembro, bem acima dos 4,99 milhões da previsão anterior e com alta de 2,7 milhões na comparação anual. No verão, a Conab aponta 71,3% da área plantada, com o Paraná já finalizado, Santa Catarina batendo 98,9% e Rio Grande do Sul em 87%, mas sentindo o baque da falta de chuva.

Já o café resolveu fazer dieta no volume e regime de engorda na receita. Em novembro, o Brasil exportou só 3,58 milhões de sacas, queda de 26,7% frente a 2024, mas o cachê subiu 8,9% e chegou a US$ 1,535 bilhão. O preço médio bateu US$ 428,55 por saca, alta de quase 49%. No acumulado dos 11 primeiros meses de 2025, saíram 36,87 milhões de sacas, 21% a menos, mas a receita cambial cresceu 25,3% e chegou a US$ 14,253 bilhões. Além da menor oferta, pesaram os quase 4 meses de tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre o café brasileiro.

Na indústria, o agro também frita batata e minera bitcoin. A McCain decidiu dobrar a aposta no Brasil e anunciou R$ 1,8 bilhão pra ampliar a fábrica de Araxá-MG, com novo prédio, mais armazém, linha de batata pré-frita e produtos pré-formados, além de previsão de 350 empregos diretos e mais de 1.000 pessoas envolvidas no campo. No lado financeiro, a Adecoagro prepara um follow-on de US$ 300 milhões na Nasdaq, com a Tether, que já controla 70% da companhia, mostrando que tá com fome pra comprar US$ 200 milhões em ações.

DE OLHO NO PORTO

A JBS e a treta do bife com estradiol

Foto: JBS/Divulgação

O bife brasileiro foi parar na vitrine errada do outro lado do Atlântico. A Comissão Europeia mandou tirar do varejo vários lotes de carne bovina da JBS por suspeita de resíduo de estradiol, hormônio usado em reprodução de fêmeas e proibido por lá. A carga saiu de uma unidade em Campo Grande (MS) e rodou gôndola na Áustria, Bélgica, Chipre, Croácia, Alemanha, Grécia, Itália, Holanda, Eslováquia e até Reino Unido. Pra saúde, a dose residual tende a ser mínima, mas em regulamento europeu não tem meio termo: apareceu na papelada, sai da prateleira.

Do lado de cá, o Ministério da Agricultura avisou o serviço de inspeção em Campo Grande (MS) sobre as notificações de Itália, Holanda e Espanha e pediu investigação e plano de ação. A JBS rastreou os 20 mil kg exportados, identificou que a fazenda fornecedora tinha divergência de informação sobre uso de estradiol, suspendeu certificadora e produtor pra embarque pra União Europeia e segue embarcando normalmente de outras origens, com o SIF da planta mantido.

Técnicos lembram que o estradiol não é hormônio de engorda e que o abate acontece bem depois da aplicação, o que deixa o resíduo lá embaixo. Só que, na prática, o caso vira prato cheio pras entidades ruralistas europeias que já são contra o acordo Mercosul–UE e adoram apontar dedo pro controle sanitário do Brasil. A carne continua boa, o risco ao consumidor continua perto de zero, mas qualquer vacilo na rastro e na papelada vira tempero extra pra discurso protecionista travestido de zelo sanitário.

RADAR SANITÁRIO

Raiva bovina acende luz vermelha em Goiás

Giphy

A tranquilidade no pasto levou uma mordida que ninguém queria. A Agrodefesa confirmou vários casos de raiva bovina em um rebanho de Turvelândia (GO) e outros 10 animais da mesma fazenda tão sob suspeita. Segundo o time da Faeg/Senar/Ifag, não é caso isolado: já pintaram ocorrências em Carmo do Rio Verde (GO), Silvânia (GO) e em outras regiões onde o morcego anda fazendo hora extra no plantel.

Os sinais são aquele combo que dá arrepio em veterinário e produtor: bicho cambaleando, babando, deitando sem levantar e morrendo em seguida. Raiva não tem cura, e quando o sintoma aparece o desfecho tá praticamente escrito. Pra piorar, a falta de comunicação rápida atrapalhou a investigação de mortes anteriores na fazenda, reforçando o óbvio que muita gente ainda ignora: suspeitou de problema neurológico, a ordem é avisar o serviço oficial na hora, não só o grupo da família no WhatsApp.

O recado pros dois lados da cerca é direto. Pro produtor, vale vacinar onde a raiva já deu as caras, monitorar abrigo de morcego, usar luva e máscara com qualquer animal babando e conversar sempre com a defesa sanitária da região. Pro mercado, um surto mal conduzido pode tirar volume de oferta em alguns pontos, aumentar custo com manejo e vacina e bagunçar planejamento de arroba. Quanto mais cedo o alerta sobe, menor a chance da raiva morder o bolso junto com o rebanho.

SAFRA DE CIFRAS

BTG sai da Faria Lima e enfia a bota no barro

Foto: Divulgação

O BTG Pactual decidiu que só olhar o agro da Faria Lima não tá dando mais conta do recado. Com a parceria com a mineira Ceres, o plano declarado nos bastidores é virar a maior casa de investimentos do agro até 2030, juntando um portfólio de R$ 7 bilhões e uma certeza: dinheiro tem, falta chegar direito na fazenda. O primeiro passo é abrir pelo menos 12 escritórios até 2026 em polos rurais de peso, de Goiás e Bahia a Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina.

Esses pontos físicos vão seguir um modelo de agência completa, oferecendo trading, câmbio, derivativos, crédito e acesso ao cardápio de wealth management do BTG. A Ceres entra com o histórico de bater papo em curral, andar em Uberaba (MG) com botina suja e entender que agro não é só duplicata de soja e milho. O banco entra com o checão, o funding e a engenharia financeira pra transformar essa proximidade em produto estruturado de gente grande.

A parceria nasceu depois de um CRA pulverizado de R$ 1 bilhão, lastreado em dívida de produtor, que entregou retorno de 9% com inadimplência abaixo de 0,1%. Deu tão certo que virou casamento. O BTG ganha capilaridade pra chegar em cultura que não aparece em telão de corretora e a Ceres ganha braço e bolso pra escalar o modelo. No fundo, a aposta é simples: se o agro carrega o PIB nas costas, alguém vai ganhar muito dinheiro sendo o banco da fazenda antes dos concorrentes.

PLANTÃO RURAL

  • Safrista com carteira assinada e Bolsa Família junto. O Senado aprovou projeto que permite ao trabalhador de safra manter benefícios sociais enquanto pega contrato temporário. A ideia é simples: ninguém precisa escolher entre colher safra e perder renda fixa. Agora o texto segue pra Câmara, com o agro de olho nessa mão de obra que tá faltando.

  • Cesta básica mais leve no bolso. Em novembro, o preço da cesta básica caiu em 24 capitais, puxado por supersafra e oferta folgada de arroz, tomate, açúcar, leite e café. São Paulo (SP) continua campeã em custo e horas trabalhadas, enquanto Aracaju (SE) faz a alegria de quem confere o extrato antes de ir ao mercado.

  • Pulverizador na régua e no decreto. O Sindiveg, em parceria com Senar e CropLife, lançou um curso on-line e gratuito sobre pulverizadores tratorizados com barras. O módulo ensina regulagem, calibração, manutenção e, principalmente, EPI e condição de clima certa. É o tipo de conteúdo que evita deriva no campo e dor de cabeça no processo.

  • Cana paraibana com caixa quase seco. Na Paraíba, a Asplan fala em 1.500 produtores de cana, 90% dependentes do Pronaf, à beira de não conseguir custear a próxima safra. Com preço do açúcar dificultando as coisas, o alívio vem do bônus de R$ 8 a R$ 15 por tonelada e da pressão por FNE e subvenção de R$ 12/t via MP.

  • Argentina dando desconto na exportação. O governo argentino cortou de novo as retenciones: soja cai de 26% pra 24%, milho e sorgo de 9,5% pra 8,5%, trigo e cevada de 9,5% pra 7,5% e girassol de 5,5% pra 4,5%. Resumo: vizinho fica mais competitivo e o produtor brasileiro precisa fazer conta fina no tabuleiro de grãos.

  • Trigo russo em promoção relâmpago. A Rússia zerou a taxa de exportação de trigo até 16 de dezembro e manteve cevada e milho com tarifa zero. Faz parte do esquema de amortecimento de preços que devolve grana pro produtor. Pro resto do mundo, é mais um empurrão pra segurar cotação internacional do cereal.

SE DIVERTE AÍ

O vício do dia é o Tradle, o joguinho que te joga uma tabela de exportações e pergunta “que país é esse, campeão?”. Você chuta, ele mostra quanto errou em Km e em similaridade e aí começa a graça: interpretar a lista igual trader lendo tela de soja e dólar. Viu soja, carne e minério bombando? Puxa país agroexportador na mente. Acertou o país, aí sim manda o print no grupo pra provar que geografia não era perda de tempo na escola.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Quinoa

Pergunta de hoje: Qual oleaginosa do Cerrado é conhecida como “ouro do Brasil” e já foi usada para fabricar sabão e lubrificantes?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

Keep Reading

No posts found