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Bom dia!

A edição de hoje tá com clima de mapa de risco no agro: tem sanduíche jogado no lixo virando caso de peste suína e travando exportação, produtor gaúcho tentando alcançar um crédito que não chega, safra de soja prestes a lotar caminhão e armazém, café fazendo bonito na conta e empresa olhando pro telhado do galpão como se fosse usina de energia solar.

Pra você acordar bem informado

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

FOCUS 2025 Semana 2026 Semana
Câmbio (R$/US$) 5,40 0,00% 5,50 0,00%
IPCA (%) 4,43 -0,46% 4,18 -0,24%
PIB (%) 2,16 0,00% 1,78 0,00%
Selic (% a.a.) 15,00 0,00% 12,00 0,00%

Os dados são publicados por BCB. A variação considerada nesta tabela é semanal.

  • O último Focus veio com um recado misto de alívio e puxão de orelha: a mediana do IPCA de 2025 caiu de 4,45% pra 4,43% e fica em 4,17% em 2026, com dólar estacionado em R$ 5,40 em 2025 e R$ 5,50 em 2026, mas a Selic segue lá em cima, parada em 15% em 2025 e só recuando pra 12% em 2026. Ou seja, a inflação tá descendo devagar, o câmbio não assusta e o juro continua fazendo qualquer plano de investimento do agro nascer dentro da planilha e ter medo de sair do papel.

SAFRA DE CIFRAS

Dinheiro tem, mas ninguém ta conseguindo pegar

Já faz um tempinho que o governo abriu uma linha subsidiada pra renegociação de dívidas pra quem teve dor de cabeça e prejuízo com o clima, mas o dinheiro tá encalhado até agora. Do bolo de R$ 12 bilhões, o Banco do Brasil recebeu R$ 4,3 bilhões e, até sexta-feira (29), só tinha uns R$ 1,8 bi em jogo, somando R$ 1,2 bi em propostas aprovadas e R$ 522 milhões em análise. Menos de 30% da grana saiu da gaveta num estado que sofreu com enchente, seca e pancada no caixa.

Pra tentar entender por que o produtor não tá encostando nessa linha, o vice-presidente de agronegócios do BB, Gilson Bittencourt, e o secretário de políticas agrícolas do Mapa, Guilherme Campos, vão colar no Rio Grande do Sul na quarta feira (3). Chegando lá, eles vão se reunir com Farsul, Fetag e outras lideranças pra ouvir o que tá travando e ajustar regra, comunicação ou expectativa. A comitiva ainda deve passar pelo Paraná depois, levando o mesmo raio-x do crédito rural.

Enquanto o crédito equalizado anda de lado, a linha com juros livres tá correndo bem mais. Quase 40 dias depois do começo das renegociações, o BB já somou R$ 13,5 bilhões em operações livres e tá falando de fechar dezembro na faixa de R$ 24 bilhões. Ou seja, quando o Tesouro entra pra baratear o juro, a demanda some, e quando o juro é livre, o produtor aparece. O banco diz que a adesão menor pode envolver muita coisa, como a expectativa de anistia que não veio, o teto de R$ 3 milhões por produtor e o fato de boa parte da agricultura familiar já ter sido atendida pelo Proagro e descontos em custeio.

Do lado das entidades, o tom é bem mais ácido. Farsul, Banrisul e Sicredi falam em um labirinto burocrático que ferra com tudo, com critérios de enquadramento que mudam até a data da contratação, exigência de quitar encargos antes de renegociar, exclusão das operações feitas depois de 30 de junho de 2024 e custo alto nas linhas livres. Ainda entra na conta a exigência de laudo técnico pra provar perda climática e problemas de registro no sistema de crédito rural, que travam até parcela honrada que poderia entrar na renegociação.

Na base, o retrato é de produtor sem fôlego nem garantia real pra oferecer. O Movimento SOS Agro relata que muitas famílias perderam patrimônio em enchente ou seca e não tem mais o que colocar na mesa de alienação fiduciária, enquanto os bancos continuam pedindo mais garantia pra liberar os acordos. Com análise lenta, papel demais e linha subsidiada que não chega direito na ponta, tem gente adiando plantio e alongando dívida no susto. O crédito que nasceu pra salvar o calendário do Rio Grande do Sul ainda tá preso no cartório e no sistema.

RADAR SANITÁRIO

É tudo culpa do sanduíche

Foto: iStock

A Espanha tá usando até militar pra segurar o surto de peste suína africana que tá rolando perto de Barcelona, depois que 2 javalis encontrados mortos no parque de Collserola, a 21 km da cidade, testaram positivo. A suspeita oficial é quase roteiro de filme de terror bem thrash: um sanduíche contaminado jogado no lixo, num ponto de muito turismo em Bellaterra, teria ido parar no estômago de um javali. Desde segunda feira (1), a região tá com zona de exclusão de 6 km, mais de 40 javalis capturados em teste e 8 deles já com sintomas clássicos da doença.

A PSA não oferece risco pra humanos, mas quebra qualquer planejamento de quem vive de suíno. Pelo menos 124 países, incluindo a China, já suspenderam as importações de carne suína vinda da região de Barcelona. Pra se prevenir de qualquer B.O., o governo espanhol bloqueou cerca de 1/3 dos produtores certificados pra exportação e fazendas num raio de 20 km do foco vão tomar restrições de operação e venda, mesmo sem nenhum caso confirmado no plantel doméstico. O setor de suínos na Espanha movimenta cerca de 8,8 bilhões por ano e tava há 31 anos sem ter um caso dessa doença. Mas o pesadelo voltou.

E esse medo todo tem motivo. Em 2018, um surto de PSA na China levou a sacrificar 80% do rebanho suíno do país, uma treta que redesenhou o comércio mundial de carne. Em setembro, a Croácia precisou abater mais de 10 mil suínos e, na Europa, a lista de vírus em alerta já inclui gripe aviária e doença de Newcastle. O bagulho tá doido no velho continente. Como o vírus da PSA é vaso ruim e não morre, resiste até em carne congelada e produto processado, qualquer descuido com resto de comida pode virar um baita risco sanitário.

O AGRO EM NÚMEROS

Soja atrasada, café milionário e adubo emagrecido

Foto: CNA/Flickr

O plantio tá andando, mas não tanto quando a gente gostaria. 89% da área prevista pra safra 2025/26 já tá plantada. É um avanço contra os 81% da semana passada, mas ainda tá bem atrás dos 91% da última safra. A chuva no Cerrado continua meio imprevisível, com uns pedaços na seca e outros molhados demais. Até tem pontos de estiagem em Mato Grosso, Goiás, Maranhão e Piauí. A StoneX já sentiu o clima e passou a faca na projeção da safra, baixando o número pra 177,2 milhões de toneladas, uma queda de quase 1% em relação ao que tava esperado.

No balcão do insumo, a conta até cresceu, mas não do jeito que o setor queria. O mercado brasileiro de fertilizantes em 2025 deve ficar entre 46 milhões e 46,5 milhões de toneladas, abaixo das apostas iniciais, que ficavam na casa das 48 milhões. Grãos com margem apertada, clima ruim no Sul e compra empurrada pro fim do jogo deixaram o volume menor que o esperado. Vários produtos novos, a maioria vinda da China, foram os principais “culpados” por essa queda, mas tem gente dizendo que eles causam perda de produtividade, então vale a pena ficar de olho e estudar tudo muito bem antes de aplicar.

Do lado bom da xícara, o café resolveu compensar todo mundo. O VBP dos cafés do Brasil em 2025 bateu R$ 114,86 bilhões, uma alta histórica de 46,2% contra o recorde de 2024. O arábica responde por R$ 82,96 bilhões e 72,23% da receita, enquanto o robusta soma R$ 31,89 bilhões. Minas Gerais domina quase tudo, levando R$ 59,03 bilhões e 51,4% do total. A região Sudeste como um todo concentra 87% desse bolo, mostrando que cuidar bem da lavoura virou quase estratégia de tesouraria.

E ESSE TEMPO, HEIN?

Chuva, chuvisco e chuvarada

A terça-feira (2) tá com jeito de chuva pra todo lado. O Inmet colocou todos os estados do país em alerta e aponta risco de temporal com vento forte em boa parte do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. No Rio Grande do Sul as pancadas já começam de manhã e vão avançando pra Santa Catarina e Paraná ao longo do dia, com aquele combo clássico de chuva, bafo quente e temperatura lá em cima.

No Sudeste, a chuva chega mais cedo no oeste, noroeste e centro de Minas e no oeste de São Paulo. A formação de uma área de baixa pressão perto da costa paulista deve dar uma turbinada nas instabilidades a partir do fim da manhã, espalhando várias nuvens carregadas por São Paulo, Rio de Janeiro e norte do Espírito Santo. No Centro-Oeste, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul entram na sauna: pancada de chuva em boa parte da região, máximas acima de 34 ºC e sensação de tempo bem abafado no campo.

No Norte, o mapa segue com risco de temporal entre o sul do Amazonas, Acre, Rondônia e leste do Tocantins, enquanto nordeste do Pará e Amapá ficam com tempo mais firme. No Nordeste, a chuvarada é mais localizada, com pancada fraca no litoral da Bahia e entre Alagoas e Rio Grande do Norte, mas com instabilidade mais forte e risco de temporal no oeste baiano, metade sul do Maranhão e Piauí. Preparem os guarda-chuvas.

PAUTA VERDE

Quando o silo vira usina solar

Foto: iStock

O plano da GoodWe pro Brasil é simples e ambicioso: transformar tudo que pega sol em fonte de energia. A gigante chinesa de soluções solares tá querendo ter, até 2030, sua segunda fábrica fora da China aqui na América do Sul, com grande chance de ser em solo tupiniquim. E não é à toa, já que a gente tem algo perto de 860 quedas de energia por ano no país, contra pouco mais de 10 em países mais estruturados, como a Alemanha. Com esse fantasma assombrando fazenda toda hora, pivô, silo e galpão tão cansados de ficar na mão da rede.

E é aí que entra o agro: hoje o setor responde por 20% a 25% das vendas da empresa por aqui e a meta é encostar em 40% já no ano que vem, com Centro-Oeste disparando na frente e o Norte correndo atrás. A vitrine inclui inversores híbridos, que carregam bateria durante o dia pra segurar a operação à noite ou em blecaute, além das soluções de dupla conversão, que ajudam a segurar a tensão mais estável e evitam que aquele pico mate o motor de uma bomba ou queime um painel de comando. Em fazenda onde um blecaute em plena secagem ou irrigação pode comprometer a safra inteira, o papo deixa de ser energia limpa e vira seguro de operação.

A parte mais legal da história é quando o telhado, o galpão e até o silo viram usina. A linha BIPV da GoodWe usa uns módulos diferentes, são finos e ultraleves, e podem ser colados em fachada ou até telhado e cobertura. A versão Galaxy pesa de 5 a 6 kg por metro quadrado, contra uns 30 kg de uma placa tradicional. A empresa ainda diz que ele aguenta granizo e promete 30 anos de vida útil. Já a linha Polaris entra no lugar da telha mesmo, num sistema de encaixe, tipo um Lego que vai escoando água e gerando energia ao mesmo tempo. Na prática, o telhado, a fachada e o silo viram planta fotovoltaica e o campo passa a vender menos reclamação e mais quilowatt.

COLHENDO CAPITAL

Adecoagro tirou o escorpião do bolso

A Adecoagro resolveu abrir a carteira pra valer no mercado de fertilizantes. Depois de fechar em setembro a compra dos 50% da Profertil que eram da Nutrien, a empresa colocou na mesa uma oferta de US$ 600 milhões pra levar também a fatia de 50% da YPF na empresa. Se o conselho da petroleira argentina der o ok e tudo for acertado até 31 de dezembro, a Adecoagro termina a novela com 90% da Profertil, deixando os 10% restantes com a Associação de Cooperativas Argentinas.

Pra bancar essa fome de ureia, a empresa vai misturar o dinheiro que tá em caixa, uma nova linha de financiamento e a venda de algumas ações. É a primeira aposta fora da porteira sob o comando da Tether, que agora é a acionista controladora e tá bem animada em empurrar essa estratégia mais integrada. No conselho, quem faz o meio de campo é Juan Sartori, representante da Tether, que já tá vendendo a ideia de que essa compra é o começo de uma Adecoagro mais dona do próprio insumo.

Do lado industrial, a Profertil é um baita ativo: líder em ureia granular na região e instalada em Baía Blanca, coladinha no maior polo petroquímico da Argentina. O CEO Mariano Bosch falou em alavancar as vantagens competitivas da Argentina e se posicionar como fornecedora chave pro agro da região, com uma geração de caixa ainda mais consistente.

PLANTÃO RURAL

  • Safra gigante e frete caro na soja. A Conab tá projetando que a colheita de soja da safra 2025/26, com 177,6 milhões de toneladas e os armazéns lotados de milho, devem inflacionar o frete rodoviário entre janeiro e março de 2026.

  • Caça ilegal, peixe irregular e arsenal no fundo do quintal. Na zona rural de Tesouro, em Mato Grosso, a PM prendeu um homem de 62 anos com 23 kg de carne de caça, 17 kg de pescado e 5 espingardas, além de 200 munições. A operação nasceu de denúncia anônima de caça e pesca ilegais pra venda e terminou com o investigado no xadrez.

  • Queijo coalho gigante. Quixeramobim (CE) retomou o recorde mundial de queijo coalho ao produzir um bloco de 3,3 toneladas com 35 mil litros de leite na 7ª Copa Leite, superando Jaguaribe (CE), que tinha “apenas“ 2,7 toneladas de queijo. O feito reforça a fama de maior bacia leiteira do Ceará e aumenta a vitrine pros laticínios locais.

  • Cibra aciona Fiagro de R$ 150 milhões pra adubar o caixa. A Cibra lançou um Fiagro FIDC de R$ 150 milhões pra reforçar o capital de giro e empurrar a venda de fertilizantes pra soja e milho. O fundo, estruturado pela Opea com coordenação do Itaú BBA, segue a onda de insumos usando mercado de capitais pra alongar prazo safra.

SE DIVERTE AÍ

Se a cabeça já fritou com crédito, frete e peste suína, vale dar um gás nos neurônios com o Contexto. É aquele jogo em que você chuta uma palavra e a máquina te mostra o quão perto você tá da resposta certa, comparando o sentido do que você digitou com o segredo do dia. Hoje a missão é chegar na palavra escondida usando pistas de contexto. Bora ver em quantos chutes você acerta ou se vai precisar de mais tentativa que plantio em ano de El Niño.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Pimenta-rosa

Pergunta de hoje: Qual hortaliça amazônica de cheiro marcante é base do tucupi e de caldos no Norte?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

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