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Bom dia!
Enquanto o campo encara números indigestos nas recuperações judiciais, novas iniciativas prometem aliviar o bolso e o planeta: do seguro rural à energia limpa. Lá fora, a geopolítica segue mexendo com a carne e a sustentabilidade entra em pauta no debate global.
Pra você acordar bem informado.
Por Enrico Romanelli
TÁ QUANTO?
Os dados são publicados por BCB. A variação considerada nesta tabela é semanal.
SAFRA DE CIFRAS
Mais um recorde pro agro, mas agora é negativo

GIF: Giphy
O campo não tá imune à crise e os números não deixam mentir. No segundo trimestre de 2025, os pedidos de recuperação judicial no agro subiram 31,7% em relação ao ano passado e bateram recorde: 565 solicitações. É a maior marca desde que a Serasa começou a contar essa história lá em 2021.
A novidade é que, pela primeira vez, os produtores que operam como pessoa jurídica ultrapassaram os pessoa física em volume de pedidos. Foram 243 contra 220, com a soja liderando o ranking de culturas mais endividadas (192 pedidos) e a pecuária bovina aparecendo na sequência com 26. Goiás e Mato Grosso concentram boa parte dessa avalanche de protocolos.
E não é só na fazenda que a conta não fecha. Empresas de processamento, como usinas de etanol, laticínios e beneficiadoras de grãos, também colocaram o nome na lista, com 102 pedidos de recuperação. Juros nas alturas e margens espremidas fazem o cenário ficar ainda mais pesado. Quem diria que o agro, que vive de colher, estaria colhendo tantos processos?
NAS CABEÇAS DO AGRO
Última chamada pra mandar o ITR

Foto: Adobe Stock
O alarme da Receita já tá tocando: produtores têm até hoje, 30 de setembro, às 23h59, pra entregar a declaração do ITR 2025. Vale pra pessoa física e jurídica, seja dono, arrendatário ou usufrutuário. Quem deixar passar o prazo vai tomar uma multinha de pelo menos R$ 50, fora os juros.
Esse ano, a Receita até tentou facilitar a vida. Agora dá pra declarar direto no site, sem precisar baixar programa, além da opção pelo software tradicional. É só ter conta no gov.br nível prata ou ouro. O cálculo gera o boleto automaticamente: se o imposto for menor que R$ 100, é parcela única; acima disso, até quatro vezes.
O imposto leva em conta a produtividade e o valor da terra nua. Traduzindo: quanto mais o imóvel produz, menos se paga. Áreas de preservação, reserva legal e floresta nativa ficam fora da conta. Fica esperto aí. Se ainda não mandou, manda logo.
O AGRO EM NÚMEROS
Mais rápida que Firebolt e Nimbus 2000: vassoura-de-bruxa ameaça mandioca

GIF: WhatCulture/Harry Potter
A China pode até ter diminuído suas compras de carne bovina no geral, mas quem saiu na foto de campeão foi o Brasil. Entre janeiro e agosto, os chineses importaram 1,85 milhão de toneladas, e quase metade disso veio daqui, 47,4% de participação, um recorde. Enquanto nossos embarques subiram 7%, os argentinos viram a porteira fechar: recuo de 24% e participação despencando pra 16%. E com o Ano Novo chinês no horizonte, a expectativa é de mais churrasco com boi brasileiro do outro lado do mundo.
Nem só de carne vive a estatística: o governo liberou R$ 37,9 milhões pra enfrentar a vassoura-de-bruxa da mandioca no Amapá. O recurso deve alcançar 3,7 mil famílias, em especial indígenas e quilombolas, numa região que vive sob emergência fitossanitária desde 2024.
No comércio global de proteínas, setembro fechou com números robustos. As exportações de carne bovina bateram 294,7 mil toneladas e US$ 1,65 bilhão, salto de quase 24% no volume e 53% no valor médio diário. A suína também engordou, com alta de 24% nos embarques. Só as aves perderam um pouco de brilho: leve aumento de volume, mas queda de preço e receita.
Já o mercado de defensivos da safrinha de milho mostrou retração: US$ 2,36 bilhões movimentados em 2024/25, queda de 7% frente ao ciclo anterior. Menos custo, real desvalorizado e margem apertada pesaram, mas a área plantada maior e o avanço da tecnologia deram uma compensada. Inseticidas foliares lideraram a conta, com 38% do total.
E falando em margens apertadas, o algodão deve encolher em 2025/26. A StoneX projeta produção de 3,72 milhões de toneladas, 7% abaixo do ciclo anterior. Mato Grosso e Bahia ainda respondem por 90% da safra, mas a conta não tá fechando: menos área plantada, mais cautela no bolso. Competitivo no mundo, mas exigindo gestão de custos de quem planta.
PAUTA VERDE
Colheita mais verde e conta mais leve

Foto: Breno Lobato / Embrapa
O Regenera Cerrado, projeto que junta Cargill, Embrapa, universidades e produtores de Goiás, entrou em nova fase e agora vai medir até quanto carbono fica no solo das lavouras regenerativas de soja e milho. O investimento previsto é de US$ 3 milhões, sendo US$ 600 mil já garantidos pela Cargill, e o resto na busca de investidores.
Na primeira etapa, a ideia era provar que dava pra produzir gastando menos e resistindo melhor às pancadas do clima. Agora, os alvos são mais ousados: redução de emissões, uso de bioinsumos, biodiversidade e qualidade do solo. O foco também é agradar as gigantes que compram soja e milho e querem carimbar metas verdes, como Unilever, PepsiCo, Nestlé e companhia.
Os resultados já animaram os produtores. Na Fazenda Brasilanda, em Montividiu (GO), a família Kompier cortou pela metade o gasto com químicos e reduziu o custo de produção de 60 para 45 sacas de soja por hectare. Em alguns talhões, a produtividade até ultrapassou 79 sacas por hectare, acima da média nacional de 60. De armadilhas contra insetos a abelhas polinizadoras, o Cerrado virou laboratório de soluções que mostram que regenerar também dá lucro.
COLHENDO CAPITAL
Biogás ganha reforço no interior paulista

Foto: Cocal/Divulgação
O interior de São Paulo ganhou um baita reforço no mapa da energia limpa. A Cocal colocou pra rodar sua segunda planta 100% de biometano, agora em Paraguaçu Paulista, com capacidade de gerar 60 mil m³ por dia. A primeira já funciona em Narandiba, também no oeste paulista.
A receita é simples: vinhaça e torta de filtro da cana misturadas com esterco animal viram biogás, que depois é purificado e transformado em biometano. O combustível segue em caminhões via GNC, mostrando que resíduo rural pode ser bem mais valioso do que se pensa.
Na inauguração, o governador Tarcísio de Freitas e um time de autoridades estaduais foram conferir de perto. Com as duas plantas, a região se coloca entre os maiores polos globais de biometano e prova que a cana tem fôlego pra render muito além do açúcar e do etanol.
MENTES QUE GERMINAM
Saldo do agro azedou com o fim da colheita do café

Foto: IDR-PR/Divulgação
Agosto não foi doce pro mercado de trabalho do campo. A agropecuária foi o único setor a fechar mais vagas do que abriu, com saldo negativo de 2,6 mil postos, segundo o Caged. E a culpa maior tá no café, que sozinho perdeu 10,3 mil empregos com o fim da colheita.
Mas nem tudo foi amargo: cana, uva e laranja ajudaram a equilibrar a conta, criando novas vagas. Até a pecuária engordou o saldo, puxada pela avicultura. No geral, o país abriu 147 mil empregos no mês, só que, no agro, o clima de colheita virou clima de dispensa.
ACONTECEU NO AGRO
Confira o resumão de tudo que rolou no agro na semana passada, pela CNA
PLANTÃO RURAL
Seguro no manejo. O Mapa anunciou a segunda fase do Zarc Níveis de Manejo para a soja no Paraná. A partir de outubro, R$ 8 milhões vão bancar seguros rurais atrelados à práticas mais sustentáveis, com percentuais de subvenção que podem chegar a 35%.
Linha verde, mas só pro grande. Na linha Ecoinvest, bancos como BB e Bradesco vão focar em grandes produtores na recuperação de áreas degradadas. O BB aplicará R$ 6,8 bi, enquanto o Bradesco entra com R$ 3,5 bi. Para os pequenos, segue valendo o RenovAgro.
CNA em Roma. A CNA participa pela primeira vez da Conferência Global da FAO sobre Pecuária Sustentável, em Roma. Além de acompanhar os debates, vai promover um evento paralelo sobre inovação e sustentabilidade, reforçando a posição do agro tropical na mesa global.
Austrália na frente. Com o tarifaço dos EUA e a não renovação de licenças pela China, os australianos abocanharam a fatia deixada pelos americanos no mercado de carne bovina. Enquanto os embarques dos EUA despencaram, a Austrália surfou o vácuo, ampliou vendas e ainda sustentou preços altos do gado.
Defensivos mais responsáveis. O professor Angelo Zanaga Trapé, do Conselho Agro Sustentável, propõe criar um programa nacional para monitorar populações expostas a pesticidas. A ideia é garantir segurança no uso, capacitar profissionais de saúde e reforçar a imagem de um agro sustentável.
SE DIVERTE AÍ
Hoje é dia de exercitar o cérebro com o Contexto,
aquele jogo que parece inocente, mas te deixa fissurado até adivinhar a palavra secreta. A lógica é simples: você chuta um termo e o sistema diz o quão perto você tá da resposta, como se fosse um GPS sem paciência.
Cuidado: a cada tentativa, a curiosidade só aumenta, e a linha entre “vou jogar rapidinho” e “passei a manhã inteira nisso” é mais fina que palha de milho. Bora tentar?
VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Manga
Pergunta de hoje: Qual raiz asiática foi usada como remédio na China Antiga e hoje está presente em sucos, chás e até na caipirinha?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!
