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A COP 30 tá virando menos palanque e mais campo de prova. A FAO lançou o RAIZ inspirado no Caminho Verde Brasil pra tirar solo cansado da UTI, enquanto mais de 80 países toparam discutir o adeus aos combustíveis fósseis. Na esteira, entraram PF com selo de agricultura familiar na conferência, tratorzinho raiz da Conab chegando na roça, CPF obrigatório pro rebanho de Mato Grosso, tarifaço dos EUA que mais redistribui rota do que derruba exportação e um exército de javalis testando a resiliência das lavouras em Roraima.
Pra você acordar bem informado
Por Enrico Romanelli
TÁ QUANTO?
POR DENTRO DA COP30
RAIZ global: Brasil vira case e o mundo corre atrás do prejuízo do solo

Foto: Daumildo Júnior/Agro Estadão
A FAO aproveitou a COP 30 pra lançar o RAIZ, um plano mundial que mira áreas degradadas com inspiração bem tropical. A ideia copia a nossa lição de casa com o Caminho Verde Brasil e os leilões do Eco Invest e oferece um passo a passo pra cada país desenhar seu próprio modelo. No pacote entra exatamente o que falta no campo: mecanismos de grana público e privada bem amarrados pra tirar terreno cansado do buraco e colocar de volta na rota da produção.
De largada, 9 países já toparam entrar no jogo, de Alemanha e Japão a Peru e Reino Unido. Os arquitetos do RAIZ calculam que o mundo precisa de algo perto de US$105 bilhões por ano na conta, mais ou menos 0,1% do PIB global, enquanto o setor privado teria fôlego pra colocar uns US$90 bilhões em projetos do tipo. O problema nem é tecnologia, é convencer o dinheiro a encarar custo alto, prazo longo e retorno que sobe e desce mais que preço de boi gordo.
O tamanho desse pepino é grande: 1 bilhão de hectares degradados no planeta e recuperar só 10% disso já renderia 44 milhões de toneladas a mais de comida por ano. O RAIZ se apoia em 4 trilhos que andam juntos, de mapear as áreas e escolher soluções escaláveis até desenhar co-investimento público e privado e trocar conhecimento entre programas que já funcionam. Nesse cenário, o Brasil quer surfar a onda com o Caminho Verde Brasil e atrair mais capital externo pra recuperar uma área de mais ou menos 40 milhões de hectares de pastagens detonadas e transformar essas áreas cansadas em ativos de primeira.
PAUTA VERDE
Mutirão global quer aposentar petróleo, gás e carvão

GIF: Giphy
Mais de 80 países disseram oficialmente que topam seguir o plano de ação pro fim do uso dos combustíveis fósseis puxado pelo Brasil na COP 30. A ideia é simples no rótulo e complexa na prática: montar um roteiro global pra ir aposentando petróleo, gás e carvão e segurar o aquecimento em 1,5°C sem empurrar a bomba pra geração seguinte.
Ministros de Alemanha, Reino Unido, países africanos e insulares subiram o tom dizendo que isso não é papo climático de ambientalista, é sobrevivência e matemática econômica. Marina Silva celebrou o apoio, mas lembrou que ninguém faz transição só na boa vontade: precisa de grana nova, tecnologia rodando e economia se reinventando pra não quebrar produtor, trabalhador e governo no meio do caminho.
Do lado de fora dos palcos oficiais, movimentos sociais já jogaram pimenta na discussão, dizendo que esse roteiro fica cheio de buraco se não ouvir quem mora do lado do poço, da mina e do duto.
O AGRO EM NÚMEROS
PF de COP, cana castigada e grão a milhão

Foto: Conab/Divulgação
A COP 30 virou vitrine de PF direto da agricultura familiar. A Conab colocou R$1,3 milhão na mesa pra comprar 146 toneladas de comida via PAA e garantir que pelo menos 30% dos ingredientes da conferência venham da agricultura familiar e da sociobiodiversidade. Só o restaurante SocioBio, na Blue Zone, deve servir 100 mil refeições e botar mais de R$1 milhão no bolso dos grupos envolvidos.
Na cana, a Jalles Machado sentiu o baque da chuva que não veio. A moagem fechou em 7,076 milhões de toneladas, 5,9% abaixo do que eles tavam esperando e 10,1% menor que na safra passada, mesmo com área colhida 3,4% maior, chegando em quase 95 mil hectares.
Nas sementes, o Brasil tá exportando menos volume mas com a conta mais gorda. Entre janeiro e outubro, a receita bateu recorde de US$204 milhões, uns US$8 milhões acima de 2023 e 2024, puxada pelo milho, com US$87 milhões, e forrageiras, com US$64 milhões, que juntas tomam conta de quase 75% do total. O volume deu uma caída, foi pra 39 mil toneladas, um pouquinho menos que as 41,6 mil do ano passado, por conta dos preços mais salgados.
No leite, o Rio Grande do Sul chamou o governo pro jogo pra tentar tirar o mercado do sufoco. O estado vai comprar 2,2 mil toneladas de leite em pó, com R$86,5 milhões reservados no Funrigs e oferta restrita a cooperativas gaúchas. O produto vai pra famílias em vulnerabilidade entre dezembro de 2025 e maio de 2026 e ajuda a enxugar um pouco do excedente que vem derrubando os preços no campo em meio a uma enxurrada de importação a preço de banana do Mercosul.
Fechando a planilha, os grãos seguem nadando de braçada pelos portos brasileiros. A Anec elevou a projeção de exportação de soja em novembro pra 4,71 milhões de toneladas, 10,6% acima da estimativa da semana passada e 101,3% acima de novembro de 2024, mesmo abaixo dos 6,40 milhões de outubro. O farelo deve chegar a 2,68 milhões de toneladas, 55,2% acima do ano passado, e o milho tem média projetada de 6,36 milhões de toneladas, 29,2% maior que em 2024.
SAFRA DE CIFRAS
Tratorzinho raiz pra tirar a roça do braço
A Conab resolveu colocar máquina onde ainda reina braço e enxada. Na COP 30, em Belém, a estatal lançou o Conab Raiz, um projeto pra derrubar uma velha barreira da agricultura familiar: a falta de máquina. O projeto começa com a entrega de 220 kits de mecanização pra núcleos e cooperativas em todas as regiões do país, com meta clara de subir produtividade em até 30% e segurar mais gente no campo com renda decente.
E não é só dar máquina e tchau. Dentro desses kits tem tratoritos, plantadeiras, colheitadeiras de arroz, roçadeiras, carretas e um arsenal de implementos que acompanha o produtor do preparo do solo até a colheita. Como o maquinário vem da China, o pacote inclui assistência técnica específica pra ensinar o passo a passo e evitar que trator vire cabideiro de luxo no galpão. A ideia é fazer a mecanização entrar de vez em regiões onde o trator ainda é figura rara, principalmente no Nordeste.
O plano da Conab é que o Raiz vire semente de um ciclo mais robusto: mais área mecanizada com prática sustentável, mais produção, mais valor agregado e mais porta aberta pra programas oficiais. No papel, o projeto também mira ter um forte impacto social, reduzindo a insegurança alimentar, puxando mulheres, extrativistas e comunidades quilombolas pro centro do jogo produtivo e provando que tecnologia não é exclusividade de latifúndio.
ASSUNTO DE GABINETE
Mato Grosso vai colocar piercing no gado

Gif: Ezgif
O Mato Grosso resolveu oficializar o CPF do boi. A Assembleia Legislativa do estado aprovou a lei que cria um sistema estadual de rastreabilidade socioambiental obrigatório pra todo o rebanho bovino e bubalino, começando lá na hora que nasce e indo até o abate. Na prática, cada animal passa a carregar um histórico completo da sua origem, documentação e condições de produção, virando vitrine certificada pros mercados mais chatinhos do planeta.
O modelo foi desenhado a 6 mãos, pelo Imac, o governo e o setor produtivo, e entra em cena de forma escalonada a partir de janeiro de 2026, com aquele suporte técnico de lei pra propriedades de todos os tamanhos. A ideia é não largar o pequeno no pasto da burocracia, ajudando a rapaziada a se encaixar nas regras sem travar a produção. Tudo isso com monitoramento contínuo, checagem de regularidade socioambiental e um empurrão pra acessar os mercados que pagam mais, mas exigem essa rastreabilidade redondinha.
De olho na Europa e na Ásia, que já colocaram uma lupa no desmatamento e origem da carne, Mato Grosso tá tentando transformar essa exigência em vantagem competitiva. Com a lei virando política pública, o Imac aposta que o programa ganha escala e velocidade mais rápido que carro esportivo em pista aberta.
COLHENDO CAPITAL
Tarifaço só fez cócegas
O tarifaço do Trump fez um estrago visível nas vendas pro mercado americano, mas não jogou o Brasil pra fora do tabuleiro na gringa. Segundo o Icomex da FGV, entre agosto e outubro as exportações totais do País subiram 6,4%, mesmo com os embarques pros EUA caindo 24,9%. E o recado que ficou é de que o Brasil desviou carga pra outros clientes e, no curtíssimo prazo, segurou a onda sem sentir baque.
Em outubro, o cenário também não é de terra arrasada. As exportações cresceram 9,1% em valor e 11,3% em volume na comparação com outubro de 2024, enquanto as importações recuaram 0,8% em valor e 2,5% em volume. No acumulado de janeiro a outubro, o volume exportado subiu 4,3% e o importado 8%. Se os EUA não querem, tem quem queira.
PLANTÃO RURAL + COP30
Embrapa bota a saúde do solo no mapa. A Embrapa lançou na COP30 a plataforma Saúde do Solo BR, com 56 mil amostras em 1.502 municípios. Os primeiros mapas mostram 66% das áreas com solo saudável ou em recuperação e só 4% doentes.
Búfalo paraense fazendo bonito na vitrine climática. A Fazenda Terê Tauá virou ponto turístico da COP30 com seus 400 búfalos mansos em 688 hectares perto de Belém. Lá o foco é bem-estar e terminação intensiva a pasto, com ganho de até 60 kg por animal e carcaça que passa fácil dos 500 kg, tudo com genética Murrah afinada em parceria com a Embrapa.
Frango gaúcho esperando sinal verde da China. Enquanto o resto do Brasil voltou pro cardápio chinês, o Rio Grande do Sul continua fora do jogo por causa de um caso antigo de Newcastle. A Asgav diz que o protocolo foi seguido à risca e que o embargo não faz sentido. O setor confia na diplomacia do Mapa, mas sente um aperto na concorrência e nos preços internos.
Defensivo na mira do Supremo. O STF retomou o julgamento sobre os incentivos tributários aos defensivos, que reduzem em 60% a base do ICMS e zeram o IPI em parte dos produtos. Fachin e Cármen Lúcia querem derrubar os benefícios, Zanin, Fux e Toffoli defendem manter, Mendonça e Dino ficaram no meio termo. Falta voto de mais 3 ministros e o agro acompanha roendo as unhas.
Água na medida certa pra roça pequena. O Pronisaf, novo programa nacional de irrigação sustentável pra agricultura familiar, quer trocar bomba velha por sistema eficiente, puxar energia solar pro campo e ensinar manejo de água sem desperdício. A prioridade são produtores sem irrigação ou com estrutura capenga, em especial em bases agroecológicas e áreas com falta de água.
Ibama cerca desmate no Pampa e na Mata Atlântica. Na Operação Campereada, o Ibama vistoriou 8 mil hectares no Rio Grande do Sul e já embargou mil onde o desmate recente ficou comprovado. Outros 250 hectares seguem em recuperação com uso controlado de gado. Quem cortar campo nativo sem documento pode tomar multa de até R$7 mil por hectare, além do embargo.
Javalis transformam lavoura de Roraima em rodizio. Roraima tá lidando com uma invasão de respeito: cerca de 25 mil javalis e javaporcos já avançam sobre plantações de milho e mandioca em pelo menos 5 municípios. Produtores contam que bandos conseguem destruir uma área inteira em uma noite, enquanto o governo discute como controlar a praga sem deixar o agro local virar pasto de javali.
SE DIVERTE AÍ
O desafio de hoje é no Flagle, o jogo das bandeiras. Se quiser uma dica: ele fica ali no miolo da Europa, é atravessado por um rio famoso que também corta outra capital bem turística, tem tradição forte em futebol antigo e um certo orgulho de goulash e páprica. Agora é contigo achar essa bandeira.
VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Pinhão
Pergunta de hoje: Qual sanduíche amazônico leva pão, queijo coalho e um fruto laranja rico em gorduras boas?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!



