
APRESENTADO POR

Bom dia!
O campo segue firme, mas o asfalto cede. O Brasil perde quase R$ 7 bilhões por ano nas estradas rurais detonadas. E o crédito de R$ 12 bi prometido pro setor ainda não saiu do papel. Enquanto isso, o agro mostra força: exporta recordes, inspira a FAO, atrai megainvestimento lá na Etiópia e renova as esperanças com uma florada exuberante.
Pra você acordar bem informado.
Por Enrico Romanelli
TÁ QUANTO?
NAS CABEÇAS DO AGRO
Buraco na pista e no bolso

GIF: Giphy
As estradas rurais tão esburacadas num tanto que o prejuízo já virou cratera. Segundo um estudo da CNA e da Esalq, o Brasil perde R$ 6,4 bilhões por ano só com os custos extras causados pelas vicinais largadas. E olha que são 2,2 milhões de quilômetros de chão batido cruzando o país, com essa distância dá pra ir até a Lua e voltar 2 vezes, e ainda sobra.
O estudo mostrou que 65% dessas estradas são consideradas ruins ou péssimas. A conta pesa mais pra cana, soja e milho, mas o prejuízo respinga em todo mundo: produtor, caminhoneiro e consumidor. Pra tapar esse buraco, o investimento passa dos R$ 43 bilhões.
João Martins, Presidente da CNA, deu uma declaração forte. “Temos de mostrar ao governo, aos deputados, aos senadores e a todas as autoridades a realidade das nossas estradas mais vicinais. Para que entendam e conheçam a realidade desse Brasil, para ver se a gente consegue mudar”, disse.
SAFRA DE CIFRAS
Crédito continua na fila

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
A prometida linha de crédito de R$ 12 bilhões pra renegociar dívidas rurais já tem data pra sair do papel: 15 de outubro. O BNDES avisou os bancos credenciados que vai abrir o protocolo pra pedidos, mas as operações só vão andar quando a União liberar o dinheiro. Por enquanto, o cofre segue trancado. O Banco do Brasil deve operar a maior fatia, com R$ 4,3 bilhões, seguido por Sicredi, Banrisul e Caixa.
No meio da espera, o governo cedeu aos gaúchos. Uma mudança nas regras vai incluir mais 56 municípios do Rio Grande do Sul na lista dos que podem renegociar dívidas, mesmo sem cumprir todos os critérios técnicos. A medida veio depois de pressão do setor e joga o total de cidades contempladas pra 1.419. O ajuste ainda depende de aprovação do Conselho Monetário Nacional, mas já tá tudo certinho nos bastidores, Brasília só precisa carimbar.
O AGRO EM NÚMEROS
Nem o tarifaço segura o boi brasileiro

Foto: Adobe Stock
O agro brasileiro segue com o pé afundado no acelerador nas exportações. Segundo a Anec, o país deve embarcar 7,1 milhões de toneladas de soja em outubro, uma alta de 60,6% sobre o mesmo mês do ano passado. O milho vem logo atrás, com 6,06 milhões de toneladas previstas, e o farelo fecha o trio com 1,92 milhão de toneladas. Somando tudo, o combo de outubro chega a 15,1 milhões de toneladas, 20% acima de 2024. Prometeram tudo, será que vão entregar?
Falando em recorde, o boi brasileiro atropelou o tarifaço e seguiu de cabeça erguida. Setembro fechou com 373,8 mil toneladas exportadas e uma receita inédita de US$ 1,92 bilhão. A China segue puxando a fila e a União Europeia paga o melhor preço da história: US$ 8,7 mil por tonelada. Mesmo com as sobretaxas dos EUA, o Brasil trocou o choro por lucro e mostrou que produto bom não empaca nem com burocracia.
Já o café, que costuma ser o combustível do agro, ficou entalado na logística. Em agosto, 624 mil sacas deixaram de embarcar por gargalos em Santos e companhia, um prejuízo de US$ 221 milhões. O setor vive um paradoxo: enquanto falta espaço no cais, sobra demanda, e até a Colômbia resolveu reforçar o estoque, com um salto de 461% nas compras em setembro. Que fase: o rival virou freguês.
O tabaco também pegou fogo, mas sem fumaça. O Brasil deve fechar o ano com mais de US$ 3 bilhões exportados, mantendo o título de líder global pelo 33º ano seguido. De janeiro a setembro, foram 376,9 mil toneladas e US$ 2,35 bilhões em receita. Mas o setor acendeu o alerta com a fila de contêineres parados em Rio Grande, onde o tempo de espera já supera 40 dias. Até a paciência entrou na estatística.
E pra fechar o giro, nossos vizinhos resolveram lembrar o mundo que também sabem exportar. A Argentina viu as vendas de arroz subirem 91%, de trigo 40% e de sorgo 26% nos primeiros oito meses do ano. Por lá, o lema parece ser o mesmo de cá: quem não planta container, planta recorde.
PAUTA VERDE
O agro quer palco (e protagonismo) na COP30

Foto: Embrapa
Se o mundo vai debater o clima em Belém, o agro quer estar no palco, não no banco dos réus. A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, diz que a agricultura precisa ser parte da solução climática, e não o vilão da história. Os extremos no campo, das secas às enchentes, mostram que o termômetro subiu mais que o preço do adubo, e é do interesse de todo mundo resolver isso daí.
Pra Silvia, a COP30 é a chance de mostrar como o Brasil aprendeu a produzir com sustentabilidade, do açaí ao zebu, da agrofloresta ao carbono baixo. Ela reforça que o sucesso da agricultura tropical é a parceria entre produtores, universidades e empresas. “O propósito é comum: garantir comida na mesa e carbono no solo”, disse.
Já Roberto Rodrigues trouxe o contraponto: as conferências até têm boas ideias, mas falta ação. O ex-ministro defende que o agro chegue unido à COP30 pra mostrar que é parte da solução, não do problema, como disse Silvia. Ele também criticou o Plano Clima do governo, que trata o campo como lobo mau.
MENTES QUE GERMINAM
Embrapa mostrando pro mundo como se faz

Foto: Embrapa
A visita do diretor da FAO, David Laborde, à Embrapa Pecuária Sudeste virou vitrine internacional. O economista saiu de São Carlos com os olhos brilhando depois de ver os sistemas ILPF e as vacas que se ordenham sozinhas. Ele disse que as tecnologias brasileiras podiam muito bem inspirar o agro mundo afora, inclusive o africano, que anda de olho nesse modelo tropical que dá certo.
Laborde viu de perto como a pesquisa brasileira tem misturado ciência de laboratório com vivência de campo, terra e chão batido, entregado inovação com sustentabilidade, do manejo com árvores nativas ao sistema intensivo de pastagem. Acompanhado pelo MAPA, ele destacou que a FAO vive de dados e evidências, e que o Brasil tem um cardápio de soluções capaz de unir produtividade e clima limpo sem precisar de greenwashing.
Pro MAPA, a Embrapa virou um verdadeiro showroom da agropecuária sustentável. O Brasil tem know-how pra alimentar o planeta com menos impacto e mais eficiência. Como disse Laborde, o desafio é compartilhar essas ideias num mundo que logo vai precisar dar comida pra 10 bilhões de pessoas.
COMO TÁ LÁ FORA?
O bilionário que quer adubar a África

Foto: World Economic Forum / Jakob Polacsek
O homem mais rico da África resolveu sujar as mãos de terra… e de ureia. Aliko Dangote, dono do Dangote Group, tá levantando uma megafábrica de fertilizantes de US$ 2,5 bilhões na Etiópia. O projeto, que fica em Gode, promete soltar 3 milhões de toneladas por ano e transformar o país num dos maiores produtores do planeta.
A jogada é uma parceria entre o grupo nigeriano e a estatal Ethiopian Investment Holdings, que bancam juntos a empreitada com apoio de bancos africanos como Afreximbank e Africa Finance Corporation. A meta deles é, em 40 meses, fazer a Etiópia parar de depender de adubo importado e virar referência no agro do continente. Num país onde 70% da galera vive da agricultura, o plano é ambicioso e tem tudo pra ser fértil.
Além da ureia, o pacote inclui fertilizantes à base de amônia, gasoduto, infraestrutura e espaço pra exportação. Dangote já tem uma planta de cimento por lá e agora quer deixar sua marca também no solo. Se tudo correr bem, o bilionário vai provar que dinheiro pode até não dar em árvore, mas pode vir do chão.
DICA AGRO ESPRESSO
ILP na prática: o sucesso da Fazenda Santa Bárbara
Ontem (8) à noite rolou a Live ILPF 88, no canal do professor Ronaldo Trecenti, e foi uma verdadeira aula de campo direto da telinha. As irmãs Camila e Isabela Caixeta, da Agropecuária Santa Bárbara, em Corumbá de Goiás (GO), mostraram como transformaram a fazenda num case de sucesso com o consórcio de milho e plantas forrageiras.
O sistema garantiu forragem de qualidade, em volume e baratinho, receita perfeita pra manter o gado bem alimentado na entressafra e tocar a terminação a pasto com eficiência. Tudo isso sem abrir mão da sustentabilidade e da gestão técnica. Clique aqui pra ver replay.
PLANTÃO RURAL
Floresta pagando em dinheiro. No Amazonas, 201 agricultores familiares receberam R$ 1,5 milhão do projeto Floresta+ Amazônia, que recompensa quem mantém floresta em pé. Ao todo, são 10,9 mil hectares preservados, o equivalente a 15 mil campos de futebol de mata nativa.
O arroto que divide o mundo. A Nestlé pulou fora da Dairy Methane Action Alliance, grupo global criado pra reduzir as emissões de metano na pecuária leiteira. A gigante suíça não explicou o motivo, mas garantiu que vai seguir cortando gases na cadeia produtiva.
Ferrogrão no compasso da Justiça. O STF suspendeu de novo o julgamento sobre a Lei da Ferrogrão, que pega parte do Parque Nacional do Jamanxim. Flávio Dino pediu mais tempo pra estudar o traçado da ferrovia, e o caso deve ficar parado por até 90 dias. Moraes e Barroso já votaram pela legalidade da obra, com compensação ambiental.
Café florido e produtor atento. A Alta Mogiana tá tomada por uma florada de encher os olhos e o feed. Depois das chuvas, as lavouras ficaram mais vigorosas e promissoras pra safra 2026. Mas o clima ainda pode virar o jogo, e produtores cruzam os dedos pra que o pegamento das flores vingue e as pragas fiquem longe.
Bruxelas levantando o muro. A União Europeia quer blindar o agro europeu no acordo com o Mercosul. O novo plano cria salvaguardas rápidas contra produtos mais baratos vindos daqui. Se as importações subirem ou os preços caírem 10%, o bloco pode suspender benefícios tarifários.
Camarão radioativo é problema real. A Indonésia tá investigando a contaminação de camarões exportados pros EUA com césio 137, um isótopo radioativo perigoso pra saúde. O governo identificou 22 instalações afetadas e nove pessoas contaminadas. A origem seria sucata industrial usada indevidamente.
Fazenda que regenera e inspira. Em Espírito Santo do Pinhal (SP), a Fazenda Nova Cintra virou a primeira do mundo certificada em agricultura regenerativa pela Rainforest Alliance. O selo comprova práticas que recuperam solo, água e biodiversidade, e ainda rendem cafés especiais com sabor de sustentabilidade.
Lodo que vira adubo. O pesquisador Thiago Assis Nogueira, da Unesp, vai mostrar no Conexão Abisolo como o lodo de esgoto tratado pode virar fertilizante orgânico composto. Só 3% do esgoto coletado no Brasil é usado na agricultura, mas o insumo tem potencial pra turbinar solos e reduzir o uso de adubos minerais.
ADM contratando geral. A gigante dos grãos abriu 60 vagas em várias áreas e cidades do Brasil, de estágio a especialista. Tem oportunidade em São Paulo, Uberlândia, Maracaju e Ribeirão Preto.
Curso gratuito e de ponta. A Epamig Itap, em Pitangui (MG), abriu inscrições pro curso superior de Tecnologia em Agropecuária de Precisão. São 40 vagas, seleção via Enem e aulas presenciais com novos laboratórios cheirando a tinta.
SE DIVERTE AÍ
O desafio de hoje é pra quem gosta de viajar, até sem sair de casa. No GeoGuessr, o mapa te joga no meio de uma estrada qualquer, pode ser no sertão do Piauí, numa vicinal de Mato Grosso ou num castelo europeu, e você tem que adivinhar onde tá. Tenta aí e conta pra gente como foi.
VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Feijão-fradinho
Pergunta de hoje: Qual planta asiática, cultivada há mais de 3 mil anos, deu origem ao chá mais famoso do mundo?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!
