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Bom dia!

A COP30 começou daquele jeitinho brasileiro, com discurso afinado, mas tomada solta e almoço caro. Enquanto isso, lá na Alemanha, o show da Agritechnica consagra os tratores mais parrudos e inteligentes do planeta. No meio desse vai e vem, a Nestlé e a Embrapa firmam um pacto verde, a Syngenta abre 25 anos de dados agrícolas, e Brasil e Argentina resolvem colocar ordem no galinheiro pra evitar embargos por gripe aviária. Também teve produtor brasileiro mostrando que preserva quase um terço da vegetação nativa, lucro e prejuízo no agro corporativo, bolsa batendo recorde e um novo joguinho pra fechar o dia com a cabeça funcionando.

Pra você acordar bem informado.

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

FOCUS 2025 Semana 2026 Semana
Câmbio (R$/US$) 5,41 0,00% 5,50 0,00%
IPCA (%) 4,54 0,00% 4,20 0,00%
PIB (%) 2,16 0,00% 1,78 0,00%
Selic (% a.a.) 15,00 0,00% 12,25 0,00%

Os dados são publicados por BCB. A variação considerada nesta tabela é semanal.

  • Kepler na mira da GPT. A Kepler Weber divulgou o preço indicativo de R$ 11 por ação pra uma possível fusão com a americana Grain & Protein Technologies (GPT), dona da marca GSI. O valor representa um prêmio de 48% sobre o preço médio recente.

  • Bolsa em alta. O Ibovespa superou os 155 mil pontos pela primeira vez, embalado por ventos favoráveis de fora e pelas ações da MBRF, que subiram com a liberação da exportação de frango pra China. No embalo, bancos e Vale também subiram.

POR DENTRO DA COP30

Perrengue chique, mas nem tanto

Foto: Ricardo Stuckert

A COP30 começou daquele jeitinho brasileiro: com fita crepe, escada encostada e luz piscando. Na Blue Zone, onde rolam as negociações entre países, boa parte da programação das 9h atrasou por falta de energia. Montadores corriam pra todo lado, colando painéis e pregando madeira, enquanto metade dos estandes ainda parecia obra pela metade. A luz voltou por volta das 10h30, mas a energia no ar continuou instável, principalmente a do wi-fi.

Quem tentou acompanhar painéis internacionais sofreu com a ausência de tradução simultânea, já que a conexão caiu boa parte do dia. E pra completar, a sustentabilidade parou no bolso: o almoço saiu entre R$ 90 e R$ 120, preço que faria até executivo da Faria Lima repensar o prato. Pelo menos o transporte compensou, ja que o sistema de ônibus da COP rodou redondinho, com intervalos de 3 a 7 minutos e um aplicativo que acertou até o tempo de chegada. Milagre logístico em plena Amazônia.

Na abertura oficial, Lula e o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, selaram o dress code mais leve da COP: sem gravata, pra felicidade geral dos mortais. O discurso de Lula veio com alfinete diplomático: disse que é mais barato investir 1,3 trilhão de dólares pra resolver o clima do que gastar 2,7 trilhões com guerra. Não citou nomes, mas o recado foi entendido até por quem ficou sem tradução.

RADAR SANITÁRIO

Perto, mas nem tanto

Gif by coralreds on Giphy

Brasil e Argentina resolveram colocar ordem no galinheiro. Os dois países assinaram um acordo que reconhece mutuamente seus sistemas de controle sanitário pra doenças respiratórias em aves, tipo a gripe aviária e a doença de Newcastle. A regra é clara: se aparecer um foco, o bloqueio comercial vai se limitar a um raio de 10 quilômetros ao redor da área afetada. Nada de embargos nacionais que travam o comércio inteiro.

A medida, firmada por Carlos Fávaro e Sergio Iraeta, foi baseada em avaliações que mostraram que os sistemas de vigilância dos dois países tão no mesmo nível e seguem as diretrizes da Organização Mundial de Saúde Animal. Em bom português: o Brasil e a Argentina confiam um no outro o suficiente pra não transformar um espirro de galinha em crise diplomática.

Além de garantir mais previsibilidade ao comércio de frango, ovos e pintinhos, o acordo chega num bom momento: as importações argentinas de carne de frango subiram 295% em 2025, e o Brasil é o principal fornecedor. Agora, com certificados atualizados e comunicação direta entre os serviços veterinários, os dois lados prometem manter o trânsito de aves firme e sem chilique sanitário.

O AGRO EM NUMEROS

Soja em xeque, carne em alta

Foto: CNA/Flickr

A semana começa com o mercado agrícola em a milhão. As exportações brasileiras de carne suína bateram 144 mil toneladas em outubro, o segundo maior volume da história. A receita de US$ 343,6 milhões cresceu quase 10%, puxada pelas Filipinas, que seguem devorando proteína brasileira. Santa Catarina manteve a liderança nos embarques, enquanto o Rio Grande do Sul acelerou mais de 30%.

Na mesma toada, o frango também levantou voo. A média diária de exportação subiu 17,6% na primeira semana de novembro, com 27 mil toneladas embarcadas por dia. O preço caiu um pouco, mas o volume compensa: o faturamento diário cresceu 13,5% em relação ao ano passado. Já o milho perdeu ritmo, com embarques 8,3% menores na comparação anual, reflexo da menor competitividade frente a Argentina e Estados Unidos.

No campo dos grãos, a tensão vem da soja. O novo acordo entre Estados Unidos e China reacendeu a treta geopolítica e pode tirar até US$ 4 bilhões do bolso brasileiro nos próximos meses. Mesmo assim, o Brasil ainda deve exportar 82 milhões de toneladas neste ano, 10 milhões a mais que em 2024. A briga pelo grão mais famoso do agro tá longe de acabar.

Enquanto isso, o setor de biocombustíveis tenta manter o fôlego. O Itaú BBA prevê crescimento de 6,6% na geração de CBios em 2026, somando 44,7 milhões de créditos. O número é bom, mas ainda fica um tiquinho abaixo da meta oficial. A boa notícia é que o estoque carregado deste ano deve segurar a conta no positivo.

E quem segue reorganizando a casa é a Raízen. A gigante da cana vendeu mais uma usina, desta vez a Continental, em Colômbia (SP), por R$ 750 milhões pro Grupo Colorado. A empresa segue no plano de enxugar operações, cortar dívidas e melhorar margens. Mesmo com o caixa mais ajustado, ainda é uma das maiores potências do setor sucroenergético.

CAMPO ATUALIZADO

Os campeões do campo da Agritechnica

A Agritechnica coroou seus novos reis do campo e eles não têm sangue azul e nem usam coroa, mas tem um motor turbinado. O trator autônomo Agxeed 2.055 W3 levou o prêmio na categoria Robô e parece saído de um filme futurista: três rodas, zero motorista e mil funções pra cuidar de pomares e vinhedos sem pisar fora da linha. A promessa é de eficiência com pegada leve, literalmente.

Na categoria de alta potência, quem brilhou foi o Claas Axion 9.450 Terra Trac, com motor de 448 cavalos e conforto de carro de luxo. Reformulado em mais de 60% das peças, ele é o tipo de máquina que não só puxa arado, puxa olhares também. O modelo é considerado o trator mais parrudo do ano e símbolo de uma nova geração de gigantes high-tech do agro europeu.

Outros nomes também levaram troféu pra garagem: Fendt 516 Vario (MidPower), Valtra G125 CVT Active (Utility), New Holland T4.120 F Auto Command (Specialised) e o JCB Fastrac 6300, eleito o mais sustentável. Criada em 1998, a premiação Tractor of the Year virou vitrine mundial de tendências, mostrando que o futuro do campo passa por conectividade, inteligência embarcada e tratores que entendem mais de Wi-Fi do que muito computador por aí.

PAUTA VERDE

Chocolate regenerativo e vaca neutra em carbono

A COP30 mal começou e a Nestlé já tirou a gravata e arregaçou as mangas. A gigante suíça firmou um acordo com a Embrapa pra acelerar pesquisas em agricultura regenerativa no Brasil. O foco é duplo: reduzir as emissões de gases na pecuária de leite e turbinar sistemas agroflorestais de cacau, aquele combo perfeito de café com chocolate, mas pensando no carbono neutro, e não em capuccino gourmet.

A parceria, que tem o selo de confiança do Nestlé Institute of Agricultural Sciences, vai testar dietas pra vacas em lactação que soltem menos metano (sem perder o charme do mugido) e criar modelos de cultivo de cacau em sombreamento, no estilo Amazônia sustentável. A Embrapa, como boa cientista de jaleco e botina, entra com o know-how tropical pra ajustar a fórmula suíça à realidade do campo brasileiro.

Não é namoro de agora: Nestlé e Embrapa já trabalham juntas há quase 30 anos, desde o manual de boas práticas do leite de 2006. Agora, o plano é ir além e garantir que metade das matérias-primas da Nestlé venham de práticas regenerativas até 2030. Dá pra misturar produtividade com floresta em pé e ainda adoçar o planeta no processo.

NAS CABEÇAS DO AGRO

Syngenta abre o cofre do agro digital

Giphy

Na Agritechnica, a Syngenta resolveu abrir o baú, e olha que é um baúzaço. A gigante suíça vai liberar 25 anos de dados agrícolas em sua plataforma Cropwise, um acervo que cobre 74 milhões de hectares em mais de 90 países. É como entregar o diário de bordo do agro mundial pra produtores e desenvolvedores criarem novas soluções digitais direto do campo.

Com a Cropwise Open Platform, qualquer desenvolvedor poderá plugar aplicativos e ferramentas num ecossistema global que já tá presente em 30 países. Segundo a empresa, o objetivo é democratizar o agro digital, permitindo que pequenos e médios produtores tenham acesso à mesma tecnologia dos gigantes sem precisar vender a colheitadeira pra pagar o servidor.

Além de abrir os dados, a Syngenta promete garantir o controle total pro produtor: cada um segue dono das suas informações, mas agora pode escolher entre apps integrados, inteligência artificial e modelos agronômicos com 25 anos de base. A meta é ousada: 100 milhões de hectares digitalizados até 2030. Vamo ver se vai ter fôlego pra chegar nisso.

PLANTÃO RURAL

  • Dicionário do agro na COP. A Embrapa lançou um glossário com 51 verbetes pra quem quer entender (e explicar) o agro da COP30 sem tropeçar nas siglas. O material foi feito com ajuda de linguistas e inteligência artificial, e serve pra jornalistas, comunicadores e curiosos que ainda confundem mitigação com adaptação. Tá tudo disponível no portal da Embrapa.

  • Campo que preserva. Durante a COP30, a Embrapa Territorial mostrou que os produtores brasileiros seguem segurando a barra da preservação: 29% da vegetação nativa do país está dentro de propriedades rurais. No total, 65,6% do território nacional continua verde, mesmo com 31% usado pra agropecuária.

  • Heringer no vermelho. A Fertilizantes Heringer fechou o terceiro trimestre com prejuízo de R$ 13,1 milhões, um salto de 43,7% em relação a 2024. As entregas caíram 16%, puxadas pela queda no café e no milho. A receita subiu levemente, o que mostra que o problema não é o preço, é o peso da conta mesmo.

  • São Martinho sente o peso do açúcar. A São Martinho viu o lucro cair 5,9% no 2º trimestre, pra R$ 176 milhões, afetada pelos preços menores do açúcar e pela moagem reduzida de cana. A empresa revisou pra baixo sua projeção de safra, agora em 22 milhões de toneladas, e deve direcionar metade da cana pro etanol. Pra compensar, emitiu R$ 500 milhões em debêntures verdes pra expandir a produção de etanol de milho em Goiás.

SE DIVERTE AÍ

O jogo do dia é o Contexto, em que você precisa adivinhar a palavra secreta comparando significados e vendo o quão perto tá da resposta certa. Cada palpite ganha uma pontuação, e o desafio é chegar lá antes do café esfriar.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Açaí

Pergunta de hoje: Qual espécie florestal amazônica depende de abelhas grandes para polinização e de cutias para dispersar sementes?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

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