APRESENTADO POR


Bom dia!

O agro amanhece com mistério de série policial e diplomacia de novela. O PCC entrou no mercado ilegal de defensivos, o café brasileiro tá virando assunto entre Lula e Trump, e a CNA decidiu seguir no confortável. No resto do campo, o açúcar azedou, o laser da Embrapa brilhou e o algodão ganhou passaporte sustentável.

Pra você acordar bem informado.

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

COMMODITIES
Açúcar (Saca 50kg) R$117,99 -26,24%
Algodão (Centavos R$/LP) 354,93 -15,47%
Arroz (Saca 50kg) R$59,35 -40,14%
Boi gordo (Arroba 15kg) R$306,50 -4,68%
Café Arábica (Saca 60kg) R$2.176,74 -2,91%
Etanol anidro (Litro) R$3,1238 2,96%
Milho (Saca 60kg) R$65,09 -10,76%
Soja (Saca 60kg) R$136,54 -1,72%
Trigo (Tonelada) R$1.226,51 -11,98%

Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).

ASSUNTO DE GABINETE

Nada de novo sob a CNA

Foto: Divulgação

Enquanto o Brasil tenta descobrir quem matou Odete Roitman, no agro o mistério acabou rápido na eleição da CNA. João Martins foi reeleito por unanimidade e segue no comando da Confederação até 2029. O baiano já tá nessa cadeira desde 2015, e prometeu continuar o plano de formar uma nova classe média rural, com mais assistência técnica e capacitação.

O presida comemorou o feito de já ter incluído quase 480 mil pequenos produtores nos programas da entidade, ultrapassando a promessa feita lá atrás, quando assumiu o cargo pela primeira vez. Agora, o novo sonho é espalhar centros de capacitação rural pelo país, no mesmo modelo que já funciona na Bahia. A ideia é preparar o campo pro futuro sem perder o compasso da modernização.

Na nova diretoria entram Gedeão Pereira, Antônio Pitangui e Humberto Miranda, nomes de peso. Com esse resultado, fica a impressão de que a CNA tá buscando estabilidade no comando num momento em que o agro tá cheio de turbulência.

DEU B.O.

Piratas do agrotóxico e maldição dos golpistas do milho

O agro brasileiro tá com cara de roteiro de série da Netflix. Em Franca (SP), o Ministério Público descobriu que o PCC resolveu diversificar o portfólio e entrou de cabeça no mercado ilegal de agrotóxicos. O negócio é lucrativo e já tava rodando em larga escala: tinha falsificação de rótulo, embalagem fake e sistema de venda online, além de linha de produção e laboratório semi-industrial. Pena que tanta eficiência foi pro lado errado da lavoura.

O mercado pirata de defensivos já responde por até 25% das vendas por aqui, gerando um prejú de mais ou menos R$ 20 bilhões por ano. E o problema não é só no bolso: tem impacto ambiental, social e até nas exportações, já que as misturas apreendidas tinham até 25 substâncias misteriosas. As rotas do contrabando passam tanto por fronteiras secas quanto por portos, com os produtos mocados em cargas da China e da Índia.

Enquanto uns falsificam defensivo, outros vendem grão que nem existe. A Polícia Civil de Goiás realizou a Operação Agrofraude, que investiga um golpe de R$ 120 milhões em várias compras e vendas de milho. Pra fazer isso, os criminosos usavam o velho golpe do falso intermediário, onde o grupo fingia ser comprador pra pegar as informações reais do produto e depois se passava por vendedor, fechando negócios fantasmas.

O esquema ferrou com vários produtores, em nove estados diferentes, e deixou um rastro de prejuízos. Só em Rio Verde, dez vítimas perderam mais de R$ 1 milhão cada uma. A operação bloqueou contas, apreendeu bens e prendeu uma parte da quadrilha. É bom todo mundo andar na linha, viu?

O AGRO EM NÚMEROS

Nas exportações, até o açúcar tá ficando amargo

Foto: Wenderson Araújo/CNA

O açúcar deu uma bela derretida em setembro. O preço do cristal branco caiu quase 18% em relação a setembro de 2024, com média de R$ 118,65/saca segundo o Cepea. A demanda interna tá morna, o mercado externo esfriou e, pra completar, as usinas tão jogando mais cana pro açúcar, o que aumenta a oferta e azeda ainda mais o preço.

Enquanto isso, o feijão e o gergelim tão no auge. O Brasil exportou 361 mil toneladas de feijão e 349 mil de gergelim no acumulado anual até setembro, recordes históricos. Só no último mês, foram embarcadas 109 mil toneladas de gergelim, 60% a mais que no mesmo mês do ano passado. O feijão-mungo-preto, lançado em 2024, também tá estourado lá fora e ajudou a colocar o país entre os grandes players globais de pulses.

Na carne bovina, o Brasil fez história. Foram 314,7 mil toneladas exportadas em setembro, o maior volume mensal de todos os tempos, junto com um cheque gordo de US$ 1,77 bilhão em receita. Mesmo com o tarifaço dos EUA, a China e o México compensaram com apetite.

A Austrália também surfou nessa onda e deve quebrar seu próprio recorde, com ajuda indireta (ou direta mesmo) do tarifaço de Trump. No acumulado do ano, o aumento já chega a 16,5% no volume exportado, e nem tudo virou bife do Outback.

E o adubo também tá voando. As entregas de fertilizantes cresceram 10,7% até julho, somando 25,3 milhões de toneladas. Mato Grosso lidera o consumo com quase 6 milhões, e Paranaguá virou o porto do insumo, responsável por um quarto de toda a descarga nacional. O campo tá alimentado pra outra safra gigante.

Na contra-mão, o cenário global do agro tá com o freio de mão puxado. A OMC cortou a previsão de crescimento do comércio pra 0,5% em 2026, com as tarifas americanas jogando areia no motor da economia.

MENTES QUE GERMINAM

O laser que decifra o solo

GIF: Giphy/Homem de Aço

A Embrapa tá com um truque científico na manga: medir carbono no solo sem cavar trincheira nem gastar uma fortuna com anel volumétrico. Um grupo de pesquisadores da Embrapa Instrumentação, em São Carlos, criou um método que usa laser e inteligência artificial pra calcular densidade e teor de carbono do solo em uma única análise. A IA tá cada vez mais presente no campo, e facilitando tudo.

A técnica combina espectroscopia de emissão por plasma induzido por laser (o famoso LIBS) com modelos de aprendizado de máquina. O resultado é uma medição rápida, barata e precisa, ideal pra quem quer entrar no mercado de créditos de carbono ou fazer agricultura de precisão sem muito mimimi. O laser dispara, o solo responde com luz e o computador traduz tudo em dados sobre carbono e estrutura do terreno.

A IA foi treinada com 880 amostras de solos brasileiros, viajando do Cerrado à Mata Atlântica, e já tá com pedido de patente no Inpi. Segundo os pesquisadores, o método pode substituir aqueles processos chatos, demorados e cheios de margem pra erro, além de deixar mais fácil o monitoramento em larga escala e o manejo sustentável.

Na prática, o produtor vai poder saber quanto carbono tá estocado no solo da fazenda sem precisar mobilizar uma retroescavadeira. E as certificadoras de crédito de carbono ganham um aliado de peso pra medir rápido, sem drama e com precisão de laboratório.

COMO TÁ LÁ FORA?

O café que faz os EUA perderem o sono

O café brasileiro tá rendendo mais assunto que política externa. Durante a conversa com Lula, Trump confessou que os EUA tão “sentindo falta” do nosso ouro negro, e não é drama: os gringos dependem do Brasil pra manter as xícaras cheias, e a tarifa de 40% imposta por Trump já fez o preço do café lá subir 21% só esse ano.

Hoje, o Brasil é responsável por 44% do arábica mundial e mais de 30% de todo o café consumido nos EUA. Nenhum outro país consegue suprir esse volume: a Colômbia, vice no ranking, colhe menos de um terço da nossa produção.

Por isso, o café virou o novo símbolo do impasse diplomático. Enquanto Trump avalia aliviar as tarifas, os americanos já sentem no bolso e no humor matinal o peso de um espresso mais caro.

PAUTA VERDE

Selo, estilo e sustentabilidade

Foto: Sealpa MG/Divulgação

O algodão brasileiro ficou mais chique: agora vem com selo de rastreabilidade internacional. A Better Cotton Initiative (BCI) lançou um sistema global que permite saber de onde veio o fio e quanto dele é sustentável. Só produtos com pelo menos 30% de algodão certificado podem ostentar o selo, o resto tem acesso negado.

A ideia é dar transparência pra marcas e consumidores em tempos de cobrança ESG. E não é só papo bonito: o programa já elevou a renda de 650 mil produtores e cortou o uso de defensivos perigosos em mais de 80% das lavouras licenciadas.

O Brasil tem papel de destaque nesse closet global. Foram 3 milhões de toneladas de algodão certificado na última safra, 81% do total nacional. Com 440 produtores licenciados e um crescimento de 20% no número de participantes, a gente mostra que dá pra vestir sustentabilidade da cabeça aos pés, com etiqueta e tudo.

PLANTÃO RURAL

  • Carne com multa salgada. Nos EUA, Tyson e Cargill vão pagar US$ 88 milhões pra encerrar o processo em que foram acusadas de inflar o preço da carne bovina. O caso se arrasta desde 2019 e ainda mira JBS e National Beef.

  • Frango em voo internacional. A África do Sul virou o novo destino n°1 do frango brasileiro, com 38,7 mil toneladas embarcadas em setembro, alta de 36%. A ABPA diz que a retomada das vendas pra Europa vem aí e só a China segue fora do churrasco.

  • Crédito rural garantido. O governo atendeu a pressão do agro e manteve a isenção das LCAs e LCIs. A mudança, apoiada pela Frente Parlamentar da Agropecuária, evita tributo sobre um dos principais instrumentos de crédito do setor. Haddad deu sinal verde, mas o texto ainda precisa passar no Congresso.

  • Floresta que rende mais que soja. As terras pra silvicultura tão superando o retorno das agrícolas, com rentabilidade de até 6,8% ao ano. O boom da celulose tá transformando Mato Grosso do Sul no Vale da Celulose.

  • Dez anos de PHC no Brasil. A Plant Health Care celebrou 10 anos no país com homenagem na Coplacana, em Piracicaba (SP). A parceria de sete anos entre as duas marcas combina tradição cooperativista e inovação em tecnologias agrícolas.

  • Trigo em apuros na Argentina. A mancha-amarela voltou a atacar as lavouras argentinas. Com o clima úmido e cepas resistentes, as perdas podem chegar a 20%. Especialistas pedem rotação de cultivos e uso de biofungicidas.

  • Brasil e Holanda em simbiose verde. A Embrapa e a Wageningen University vão lançar um consórcio Brasil-Holanda pra avançar em bioinsumos. A Embrapa ainda vai realizar um simpósio em Jaguariúna onde vai reunir pesquisadores e empresas pra discutir biocontrole e bioestimulantes.

  • Legumes fora da curva. Um ex-publicitário francês trocou o terno pela enxada e virou o rei dos orgânicos em Morungaba (SP). Na Fazenda Santa Adelaide, ele cultiva quiabo vermelho, cenoura roxa e couve-flor lilás.

SE DIVERTE AÍ

O jogo de hoje é o Tradle, o Termo do comércio mundial. A regra é simples: o site mostra as principais exportações de um país e você tenta adivinhar qual é. Cada chute mostra o quanto você se aproxima, e os vizinhos ajudam.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Jabuticaba

Pergunta de hoje: Qual grão africano foi levado ao Brasil no período colonial e se tornou ingrediente essencial do acarajé?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

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