APRESENTADO POR

Bom dia!

Bom dia. O Paraná resolveu puxar a tampa do tanque e proteger o leite local, justo na hora em que a safra brasileira de grãos cresce tanto que já acende alerta de preço no mercado global. Entre uma frente fria que promete alagar metade do mapa, crime organizado de olho na rota do fertilizante, cannabis tentando se vender como nova cultura de alta renda e governo exibindo no telão 500 mercados abertos pro agro lá fora, o campo segue fazendo conta, ajustando rota e tentando não derrapar nem na estrada nem no caixa.

Pra você acordar bem informado

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

COMMODITIES
Açúcar (Saca 50kg) R$109,94 -31,27%
Algodão (Centavos R$/LP) 345,46 -17,73%
Arroz (Saca 50kg) R$52,64 -46,90%
Boi gordo (Arroba 15kg) R$320,90 -0,20%
Café Arábica (Saca 60kg) R$2.283,45 1,85%
Etanol anidro (Litro) R$3,3128 9,19%
Milho (Saca 60kg) R$69,62 -4,55%
Soja (Saca 60kg) R$142,52 2,58%
Trigo (Tonelada) R$1.183,77 -15,04%

Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).

DE OLHO NO PORTO

Paraná mandou o leite em pó importado ficar na prateleira

Foto: Thinkstock

O Governo do Paraná publicou nesta quarta-feira (10) uma lei que proíbe indústrias e laticínios de reconstituírem leite em pó e derivados importados quando o destino for consumo humano dentro do estado. A regra também vale pra composto lácteo, soro de leite e similares, mas a venda direta ao consumidor final continua liberada, desde que siga as normas de rotulagem da Anvisa, ou seja, pode vender, só não pode virar leite no tanque da fábrica.

A justificativa oficial vem com cara de proteção de mercado e de renda: segundo o secretário Márcio Nunes, a iniciativa mira fortalecer a produção e ajudar as famílias que dependem do leite em todas as regiões do Paraná. Na prática, o recado pro setor é simples: se for pra colocar “leite” na mesa do paranaense, o caminho tem que passar mais perto da ordenha do que da fronteira.

E a fiscalização promete não ser só conversa de bezerro: vai ter inspeção de rotina, auditoria documental, vistoria in loco e coleta de amostras quando precisar. As empresas também vão ter que guardar por 2 anos notas fiscais com país de origem, certificados sanitários, registros de produção e rastreabilidade completa, e se pintar suspeita de reconstituição proibida, pode rolar apreensão, análise e até interdição do estabelecimento, porque aqui o leite pode até derramar, mas no papel a conta tem que fechar.

E ESSE TEMPO, HEIN?

Mais chuva vindo aí

Gif by cartoonnetwork on Giphy

O tempo resolveu fazer tour combinado no Sul e no Sudeste. Uma área de baixa pressão que nasce lá pelo Paraguai avança pro Brasil nesta sexta (12) e coloca Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e São Paulo em alerta vermelho do Inmet, com previsão de chuva forte e persistente até o fim de semana. Em alguns pontos, especialmente perto da fronteira com o Paraguai, os acumulados podem passar de 200 mm, aquela receita clássica pra enxurrada, erosão na lavoura e estrada rural vir pista de rally.

A MetSul já avisou que o alvo preferencial da chuvarada tá nas metades oeste e norte do Paraná, no extremo sul do Mato Grosso do Sul e em boa parte de São Paulo. No oeste, noroeste e norte paranaense, a conta de água deve ficar entre 100 mm e 200 mm, com chance de extra em áreas isoladas. Pro produtor, é hora de revisar curva de nível, conferir bueiro e dar aquela olhada carinhosa nas áreas recém plantadas, porque encharcamento em fase inicial não perdoa stand.

Em São Paulo, o pacote inclui pancada forte no oeste, centro, sul e depois no leste, bem na faixa que pega área agrícola e região metropolitana. O fenômeno não deve virar ciclone, mas não é por isso que dá pra relaxar. Ainda tem cerca de 17% dos imóveis na Grande São Paulo sem energia depois do último vendaval, e granizo continua no radar.

O AGRO EM NÚMEROS

Safra balançando: Conab vê recorde e IBGE põe o pé no freio

Foto Freepik

A Conab já botou a mesa com 354,4 milhões de toneladas na safra 2025/26, um avanço tímido de 0,6% ou 2,2 milhões de toneladas em cima de 2024/25, mesmo com a produtividade média caindo pra 4.210 kg/ha. A conta fecha porque a área semeada cresce 3%, de 81,7 milhões pra 84,2 milhões de ha, e o 3º levantamento ainda veio com um ajuste pra baixo de 440 mil toneladas ante novembro, aquele lembrete clássico de que projeção no agro muda mais que previsão de chuva.

Dentro desse pacotão, a soja puxa a locomotiva: plantio em 90,3% da área, com Mato Grosso já com a semeadura concluída, e a Conab apostando em 48,935 milhões de ha e 177,123 milhões de toneladas, 3,3% acima do ciclo anterior e com cara de recorde novo. O ritmo variou conforme o céu, com avanço forte no Sul na 1ª quinzena de novembro e atraso no Centro Oeste, Norte, Nordeste e Minas Gerais por causa da irregularidade das chuvas, depois normalizando na 2ª quinzena e até pedindo replantio em alguns pontos.

Na frente de comércio, a Conab cortou só 102 mil toneladas e manteve a exportação de soja em grãos em 112 milhões de toneladas na safra 2025/26, ainda 4,7% acima da anterior, com estoques de passagem em 12,92 milhões de toneladas. O termômetro do ano corrente também tá quente: de janeiro a novembro de 2025, o Brasil já embarcou 104,79 milhões de toneladas de soja e somou US$ 42 bilhões, e a própria Conab já trabalha com exportações da safra 2024/25 perto de 106,97 milhões de toneladas ao fim de 2025, enquanto no milho a projeção de embarque ficou em 46,5 milhões de toneladas e os estoques podem chegar a 14,06 milhões de toneladas em fevereiro de 2026.

Só que o IBGE apareceu no mesmo dia com um humor diferente e estimou 335,7 milhões de toneladas de grãos, leguminosas e oleaginosas em 2026, queda de 3% frente a 2025, ou 10,2 milhões de toneladas a menos, puxada principalmente por milho menor, além de recuos em sorgo, arroz, algodão, trigo e feijão 1ª safra. Mesmo com esse freio, a soja aparece com 166 milhões de toneladas e o milho com 141,6 milhões, e o instituto ainda colocou canola e gergelim no pacote, sinal de que a lavoura tá diversificando o cardápio.

E falando em conta que fecha, Minas Gerais já tá colhendo no caixa: o agro mineiro somou US$ 18,1 bilhões de janeiro a novembro de 2025, recorde da série desde 1997 e alta de quase 13% sobre 2024, mesmo com volume menor, de 15,3 milhões de toneladas e queda de 6,6%. O café carregou o estado nas costas, pra variar, com preço médio subindo de US$ 4.212 pra US$ 6.807 por tonelada, receita de US$ 10,16 bilhões e alta de 41% apesar do volume menor, enquanto carnes chegaram a US$ 1,7 bilhão e nichos como ovos e derivados cresceram 150%, mostrando que, quando o preço ajuda, dá pra exportar menos peso e ainda assim voltar sorrindo.

SAFRA DE CIFRAS

Cannabis largou o tabu na porteira e o agro já tá fazendo conta

Foto: Diapason/Divulgação

A cannabis já tá deixando de ser assunto sussurrado em roda de bar e entrando de vez na planilha do agro. Larissa Uchida, CEO da ExpoCannabis Brasil, contou que o país já gira mais de R$ 1 bilhão em negócios só nos segmentos regulamentados, de remédio em farmácia a fertilizante, acessório e equipamento pra cultivo pessoal. Tudo dentro da lei, com CNPJ, nota e boleto.

A trava não tá na conta, tá na cabeça. A discussão ainda gruda no uso recreativo ou uso adulto e social, como o setor gosta de chamar, e isso mantém aquele velho preconceito e a desinformação correndo soltos, afastando empresas e investidores de uma cadeia que já existe e paga imposto. A virada que interessa pro campo tá na regulamentação do cultivo pra fins industriais, que deve entrar no radar político no 1º semestre de 2026, com aposta de que o Brasil pode liberar antes o uso industrial puxado pelo agro e deixar a discussão do uso adulto e social pra depois.

Quando a conversa cai no número, o jogo muda de figura. Estudos citados por Uchida falam em um retorno líquido médio de R$ 2.000 por hectare na soja e R$ 3.300 no milho, enquanto o cânhamo pode render R$ 9.000 por hectare com fibra, R$ 12.000 com semente e até R$ 23.000 com flor pra extração de CBD medicinal. De quebra, a verdinha consome menos água que culturas tradicionais, ajuda na recuperação do solo, pode entrar em crédito de carbono e ainda lota pavilhão de evento. Não é à toa que a ExpoCannabis Brasil recebeu 45.000 visitantes em novembro e tá tentando se apresentar como indústria séria que gera emprego e imposto, não como assunto de tabu escondido no fundo da gaveta.

COLHENDO CAPITAL

Rota do fertilizante vira rota de risco

Gif by adweek on Giphy

O setor de fertilizantes tá descobrindo que, além de dólar alto e frete caro, agora tem que desviar também de bandido e picareta. Dados da Anda mostram que, entre 2021 e 2024, roubos, furtos e adulterações já somaram mais de R$ 40 milhões em prejuízo. A maior parte da paulada vem da adulteração, com R$ 26,9 milhões, enquanto roubos e furtos levaram R$ 21,7 milhões. Teve pico de rombo em 2022, com R$ 17,4 milhões, depois recuo pra R$ 10,9 milhões em 2023 e R$ 9,7 milhões em 2024, mas ninguém tá tranquilo, a queda deixa o cenário menos pior, mas ainda não é bom.

Nos bastidores, o filme mostra uma logística vulnerável e muita estrada ruim na equação. Em 4 anos rolaram 248 casos de adulteração e 222 de roubo e furto, com salto de 57% nas fraudes de 2023 pra 2024 e roubo dobrando no mesmo período. Maranhão, Pará, Mato Grosso e Paraná concentraram 91% dos ataques no ano passado, com o Maranhão liderando fácil, responsável por 70% das investidas em cargas ligadas ao Porto do Itaqui. Enquanto isso, o Brasil importa 80% dos fertilizantes que usa, algo acima de 40 milhões de toneladas por ano, e viu a demanda crescer 450% em 20 anos, mas mesmo assim continua levando 86% dessa carga no lombo do caminhão e só 14% na ferrovia, com custo de transporte subindo 21% entre 2010 e 2022.

Pra tentar segurar a bronca, empresas tão apertando o cerco com programa de gerenciamento de risco, rastreamento em tempo real, telemetria, IoT e pente fino em rota, motorista e transportadora. De quebra, o seguro tá mais chato e o prêmio tá ficando mais caro pra quem não se organiza, então vale a pena estudar como e onde melhorar pra evitar esses prejús.

NAS CABEÇAS DO AGRO

Mapa joga no telão os 500 mercados do agro

Foto: Mapa

O Ministério da Agricultura decidiu que não basta abrir mercado, tem que mostrar no telão. A pasta lançou um painel interativo que reúne as 500 aberturas de mercados do agro brasileiro desde 2023, espalhadas pelo mundo inteiro. É tipo aquele mapa de estratégia comercial que todo mundo sonha em ter na parede do escritório, só que em uma versão oficial e atualizada, com filtro pra produto, país, ano, categoria e até continente.

A ideia é simples e poderosa: produtores, cooperativas, tradings, gestores públicos ou pesquisadores conseguem enxergar onde o Brasil abriu porta nova, quais cadeias mais surfaram essa onda e em que países ainda tem espaço pra bater. O painel ajuda a tirar a exportação da conversa genérica e trazer pra vida real da fazenda, do armazém e da indústria, reforçando a tal interiorização da cultura exportadora que o Mapa tanto fala.

Os dados também viram vitrine do trabalho dos adidos agrícolas lá fora. Cerca de 60% das aberturas vieram de postos que têm esse time em campo, negociando regra sanitária, destravando burocracia e abrindo espaço pra produto brasileiro entrar na gôndola.

PLANTÃO RURAL

  • Agricultura familiar batendo na porta dos ministérios. Mais de 2 mil agricultores familiares ocuparam a frente do Mapa e do MDA em Porto Alegre cobrando resposta real pra crise no campo. A lista inclui preço melhor pro produtor, seguro rural que funcione e alívio das dívidas. O governo prometeu leilão pra trigo e arroz, recursos pro leite e mais grana pro seguro, mas a Fetag já avisou: se nada andar até dezembro, a próxima parada pode ser ato em Brasília em janeiro.

  • Boi com RG e brinco inteligente quando? Depois de 20 anos patinando, o Brasil decidiu que boi vai ter CPF na orelha. O plano federal mira todo o rebanho identificado até 2032, com brinco RFID e histórico completo da vida do animal. RS, PA e MT já tão testando o modelo, mas o prêmio ainda tá curto pro produtor embarcar em massa.

  • Sinal trocado na Agricultura de SP. Geraldo Melo Filho, ex-Incra e atual chefão do IPA, foi fisgado por Tarcísio de Freitas pra assumir a Agricultura de SP no lugar de Guilherme Piai, que sai pra disputar eleição em 2026. Ele promete foco em produtor e competitividade, enquanto o IPA já começa a caçada por um substituto provisório.

  • Belagrícola tentando arrumar a casa com a Justiça olhando. Com dívida de R$ 3,2 bilhões, safra ruim, juros altos e crédito travado batendo na porta, a Belagrícola protocolou plano de recuperação extrajudicial. A ideia é unificar regra com banco, fornecedor e produtor, mantendo loja aberta, insumo chegando no campo e tentando evitar que a conta estoure de vez.

  • O futuro da AGCO passa pelo Brasil. A AGCO vê o Brasil como motor da empresa pros próximos anos, mesmo com 2026 em modo cautela. A dona de Massey, Valtra e Fendt projeta crescimento de 4% a 5% em 2025, foca em máquinas mais potentes e compactas e testa aqui motor movido a etanol e biometano pra vender pro mundo depois.

  • Soja demais, preço de menos no radar global. A Conab projeta safra recorde de 177 milhões de toneladas de soja em 2026 e consultorias já falam em 178 milhões. O problema é que a oferta pode crescer mais rápido que a demanda, num cenário de Trump mexendo no tabuleiro comercial. Se for assim, a margem do produtor aperta e muita fazenda vai olhar pro milho como salvação do caixa.

  • Cooperado da Copacol saindo com bolso reforçado. A Copacol vai despejar R$ 221 milhões em sobras pros mais de 10 mil cooperados, divididos em duas parcelas entre dezembro e janeiro. Ainda reserva R$ 180 milhões pra avicultura e R$ 20 milhões pra suínos, com bônus que vai de R$ 72 por suíno até R$ 2,20 por saca de soja entregue.

  • Café de baixa pegada de carbono ganhando escala. Yara e Cooxupé renovaram a parceria por mais duas safras pra turbinar fertilizante de menor pegada de carbono no café. O Yara Climate Choice já reduziu em cerca de 40% a pegada do grão verde em lavouras piloto. Agora a missão é escalar o modelo e transformar café sustentável em negócio de gente grande, não só vitrine.

SE DIVERTE AÍ

Hoje o rolê é testar se tu reconhece mais lavoura que o Google. No GeoGuessr, o jogo te joga no meio de uma estrada aleatória do planeta, em visão de rua, e tu tem que adivinhar onde tá no mapa. Vale procurar pista em placa, tipo de solo, pivô de irrigação, padrão de cerca, tipo de caminhão e até formato de telhado de galpão. Entra lá, escolhe um modo mundo ou América do Sul, chuta o lugar e depois conta pra gente se tu mandou o palpite certeiro ou jogou uma fazenda do Kansas no meio do Mato Grosso.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Soja

Pergunta de hoje: Qual cultura andina foi levada à Europa pelos espanhóis e se transformou no ingrediente principal de um prato típico irlandês?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

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