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Bom dia!
O agro brasileiro tá com o pé na COP30 e o outro no acelerador. Enquanto o Banco do Brasil faz parceria verde com a Alemanha e a Embrapa exibe suas vitrines de inovação em Belém, o mercado de bioinsumos cresce a passos largos, o gado mato-grossense engorda no cocho e até o malte paranaense promete desafiar o importado. Também tem cobrança pesada contra desmatadores, boi eletrônico no RS e cana virando semente de lucro.
Pra você acordar bem informado
Por Enrico Romanelli
TÁ QUANTO?
Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).
SAFRA DE CIFRAS
BB importa euro e exporta sustentabilidade

Foto: Flickr
O Banco do Brasil resolveu provar que dá pra render juros e floresta ao mesmo tempo. O banco pegou 50 milhões de euros com o governo da Alemanha, via banco KfW, pra turbinar projetos de bioeconomia na Amazônia. A grana, coisa de R$ 308 milhões, vai irrigar o crédito pra ribeirinhos, agricultores familiares e comunidades tradicionais, com a meta de alcançar 4,5 mil famílias e 50 mil hectares de áreas sustentáveis.
Além do empréstimo verde, veio um mimo germânico: 4,5 milhões de euros em doação pra assistência técnica e contragarantia. É uma ajuda de custo que não pesa no bolso, só alivia o planeta. A ideia é tornar o crédito mais acessível e acelerar a transição pra um agro que gera renda sem precisar serrar árvore.
Essa parceria com os alemães já é antiga. Em 2023, o BB já tinha levado 80 milhões de euros no mesmo espírito. Agora, quer ir além: R$ 5 bilhões em financiamentos pra bioeconomia até 2030. Dá pra dizer que o banco anda colhendo bons frutos.
POR DENTRO DA COP30
Embrapa abre a porteira da ciência na COP30

Foto: Guilherme Martimon/Mapa
O Ministério da Agricultura deu um rolê pelas vitrines tecnológicas da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, e saiu de lá com cheiro de mata e boas ideias pra levar pra casa. A visita fez parte da programação da COP30 e apresentou o que o Brasil tem de melhor na mistura entre produtividade e floresta em pé. De sistemas agroflorestais a abelhas nativas que trabalham mais que muito estagiário.
Guiados pela presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, os técnicos do Mapa conheceram de perto trilhas ambientais, laboratórios, cultivares biofortificadas e tecnologias voltadas à pequena e média propriedade. Teve até parada na Capoeira pelo Clima, no Meliponário Iratama e no espaço Floresta Viva, tudo pra mostrar que ciência e sustentabilidade falam a mesma língua (e o mesmo sotaque paraense).
O saldo da visita foi claro: o Brasil não precisa importar soluções pra salvar o planeta, já que a Embrapa tá plantando tecnologia e colhendo carbono neutro faz tempo. As vitrines seguem abertas até o dia 21, se quiser dar uma passadinha por lá.
O AGRO EM NUMEROS
Grão a grão, o Brasil segue empilhando recordes

Foto: jayk7/Gettyimages
A Conab serviu o cardápio da nova safra e o prato principal é a estabilidade. O Brasil deve colher 354,8 milhões de toneladas de grãos em 2025/26, um volume praticamente idêntico ao do ciclo anterior. A soja segue na frente, com 177,6 milhões de toneladas , enquanto o milho dá uma leve murchada e cai 1,6%. No arroz, a redução da área plantada derrubou a produção pra 11,3 milhões de toneladas.
No café, o cheirinho é de recorde. A StoneX projetou 70,7 milhões de sacas pra safra 2026/27, o maior volume da história. O arábica deve puxar o resultado com alta de 29%, enquanto o conilon dá uma pausa pra respirar. O bom desempenho em Minas e São Paulo deve ajudar a encher de novo os estoques globais, que tavam caindo com força desde 2021.
Já o trigo tá num impasse. A colheita no Paraná chegou a 92% da área, mas as chuvas andaram atrapalhando tudo. No Rio Grande do Sul, o atraso é bem mais nítido: só 60% das lavouras foram colhidas. Mesmo assim, o Deral e a Emater prometeram produtividade acima de 3 toneladas por hectare. Mas a StoneX, com o pé no chão, cortou a previsão nacional pra 7,35 milhões de toneladas, uma queda de 2%. O câmbio menos favorável e o trigo argentino competitivo pegaram o cereal brasileiro de calças curtas.
Pra completar, o IBGE mostrou que o Brasil também anda acumulando estoque. A capacidade de armazenagem subiu pra 231,1 milhões de toneladas, com destaque pra soja, que ocupa quase um quarto dos silos do país. Mato Grosso reina absoluto, seguido por Rio Grande do Sul e Paraná.
O único que não tá sorrindo é o exportador. Depois do tarifaço, as vendas do agro pros EUA despencaram 31% em 3 meses. O prejuízo passa de US$ 970 milhões, com destaque pro açúcar, carne bovina, celulose e café.
PAUTA VERDE
O defensivo defensável

Foto: Guilherme Matos/Embrapa
O Brasil tá virando referência mundial em bioinsumos e, segundo a pesquisadora Mariangela Hungria, da Embrapa Soja, ainda tem muito chão (e microrganismo) pra crescer. Durante a COP30, na Agrizone, ela destacou que os biológicos já representam 15% do mercado agro, mas poderiam chegar fácil aos 50%, se houvesse mais acesso pros pequenos e médios produtores. Hoje, as soluções existem pra mais de 80 espécies, mas a distribuição ainda anda concentrada no topo da cadeia.
A boa notícia é que o mercado tá aquecido: segundo a Kynetec Brasil, as vendas de biodefensivos chegaram a R$ 4,35 bilhões na safra 2024/25, um salto de 18% em um ano. A soja lidera o ranking, abocanhando quase metade do total, seguida por milho, cana, algodão e café. E o crescimento não é modinha: o setor já quadruplicou de tamanho desde 2020, impulsionado pelo avanço da resistência de pragas e pela busca de um agro mais limpo e competitivo lá fora.
COLHENDO CAPITAL
AGU passando o facão
O governo decidiu que não dá mais pra deixar infrator ambiental em paz com o próprio desmatamento. A AGU ajuizou 40 ações civis públicas cobrando R$ 476,2 milhões de quem andou passando o trator onde não devia, um total de 31,8 mil hectares a serem recuperados. O anúncio veio direto da COP30, porque, afinal, nada como falar de clima cobrando quem ajudou a esquentá-lo.
A maior bronca é contra um produtor no Cerrado do Maranhão, acusado de desmatar 4 mil hectares, o suficiente pra caber uns bons estádios de futebol e ainda sobrar. Só ele deve R$ 77 milhões em indenizações. E essa é só a ponta do iceberg: desde o começo do ano, o programa Pronaclima da AGU já soma 89 ações e 80 mil hectares cobrados judicialmente. Agora, quem andou confundindo Cerrado com área de expansão imobiliária vai ter que devolver o verde, nem que seja por pix.
NAS CABEÇAS DO AGRO
Boi no cocho, lucro no bolso

Foto: Marcella Pereira
O gado tá firme no cocho e o pecuarista, de olho na conta. O Imea chutou que tem mais ou menos 928,7 mil bois confinados em Mato Grosso em 2025, uma alta de 4% na comparação com o ano passado. A equação é simples: o boi gordo vale mais que o milho, e a relação de troca chegou a 5,52 sacas por arroba. Ou seja, o confinamento voltou a fazer sentido (e dinheiro).
O Oeste e o Norte concentram metade dos animais, e o custo da diária (R$ 13,79) até subiu 16%, mas segue abaixo dos tempos sombrios de 2020. O Imea diz que há menos produtores confinando, mas quem ficou ampliou a escala. E o cocho agora tem companhia: semiconfinamento e TIP (Terminação Intensiva a Pasto) ganham força, entregando desempenho parecido, só que com menos dor no bolso.
Nos bastidores, o milho encareceu, o farelo de algodão subiu 49% e o DDG 20%, mas o sistema segue competitivo. No fim das contas, o boi mato-grossense tá engordando bem, mas o que o Imea quer mesmo é que o produtor engorde também a estratégia.
PLANTÃO RURAL + COP30
Trigo argentino em alta histórica. Os hermanos tão com o trigo no auge. A Bolsa de Rosário elevou a projeção da safra 2025/26 pra 24,5 milhões de toneladas, a maior da história. O rendimento médio bate recorde, com 3,77 t/ha, e a colheita já passa dos 15%.
Lucro da JBS cai, mas a receita engorda. A JBS teve queda de 16% no lucro, pra US$ 581 milhões, mas bateu recorde de US$ 22,6 bilhões em receita. O motivo da murchada? Custos altos e o boi caro nos EUA, que deixaram o Ebitda negativo por lá. No Brasil, a exportação segurou as pontas.
BB renegocia R$ 5,9 bi em dívidas rurais. Desde outubro, o Banco do Brasil já renegociou R$ 5,9 bilhões em débitos do agro, atendendo 5,9 mil produtores. A maior demanda vem do Centro-Oeste e do Sul, onde o clima andou judiando das safras. A linha Regulariza Agro é o novo “respiro” pra quem tava com o crédito entalado.
CerradinhoBio adoça o caixa com lucro de R$ 102,5 mi. A CerradinhoBio lucrou R$ 102,5 milhões no segundo trimestre da safra 2025/26, alta de 42%. A receita bateu R$ 1 bilhão, puxada pelo etanol de milho e pelo açúcar VHP. O Ebitda subiu, o bagaço virou energia, e a bioeconomia segue girando bonito em Chapadão do Céu (GO).
RS vai rastrear o gado por brinco eletrônico. O Rio Grande do Sul lançou um projeto-piloto pra rastrear bovinos e bubalinos com dispositivos eletrônicos até maio de 2026. O objetivo é garantir origem, confiança e abrir portas no mercado internacional.
Agrária investe R$ 1,1 bi em malte nacional. A Cooperativa Agrária, de Guarapuava (PR), vai investir R$ 1,1 bilhão pra produzir maltes especiais no Brasil, que hoje são 100% importados. A parceria com a alemã Ireks promete colocar o Paraná no mapa das cervejas premium.
CTC colhe lucro recorde com cana tech. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) lucrou R$ 67,8 milhões, alta de 41%, com avanço das suas variedades de cana e royalties recordes. A nova fábrica de sementes tá 70% pronta, e a empresa já testa quatro novas cultivares. Se a cana é rainha, o CTC é o engenheiro do trono.
SE DIVERTE AÍ
Hoje o desafio é no GeoGuessr, aquele jogo em que você precisa adivinhar onde tá no mapa só com base nas imagens do Street View. A dica: o lugar de hoje tem mais vaca que gente, e o horizonte é coberto por lavoura de soja até perder de vista. Será que você acerta o estado antes de rodar o globo inteiro?
VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Zebu
Pergunta de hoje: Qual peixe africano virou o mais criado na aquicultura brasileira?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!


