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Bom dia!
O dia veio daquele jeito em que a cabeça do agro gira entre laboratório, plenário e balanço de empresa. Tem soja turbinada prometendo varrer caruru, seguro rural tentando sair da montanha russa em Brasília e Lavoro apertando o cinto com venda de ativo e troca de CEO. No pano de fundo, John Deere vendo 2026 como ano magro, água de coco cada vez mais refém dos EUA e Lei Anti-desmatamento da UE adiada de novo.
Pra você acordar bem informado
Por Enrico Romanelli
TÁ QUANTO?
APRESENTADO POR CHRYSALABS
Agricultura regenerativa sem hype

Sejamos honestos: o que chama a atenção na agricultura regenerativa são as imagens, a biodiversidade restaurada, a saúde do solo em melhora. São essas histórias que inspiram.
Mas o que garante um contrato de carbono de vários anos e milhões de dólares? Essa parte é mais simples: dados irrefutáveis, sustentados pela ciência, que comprovam, sem drama, a mudança mensurável no carbono orgânico do solo. É essa previsibilidade que transforma uma causa nobre em um ativo rentável.
Na ChrysaLabs, entregamos justamente esses dados cruciais e discretos. Fornecemos a certeza silenciosa que faz o lado comercial da agricultura regenerativa funcionar.
MENTES QUE GERMINAM
Nova soja da Bayer vem pra varrer caruru da lavoura

Foto: Marcelo Ribeiro/Bayer
A Bayer resolveu declarar guerra aberta ao caruru e às lagartas metidas a donas da lavoura. A Intacta 5+, quarta geração da soja transgênica da empresa, já passou pelo crivo da CTNBio e deve chegar nas prateleiras na safra 2027/28, mas só depois de uma bateria de testes em 2026/27 e da bênção dos importadores, com China no topo da lista. O discurso da Bayer é bem ousado, tão falando em produtividade perto de 100 sacas por hectare quando a biotecnologia vier casada com genética de primeira e manejo caprichado, o que parece sonho num país que ainda roda em média de 60.
O segredo da criança tá no pacote de ferramentas que a lavoura ganha. A Intacta 5+ foi desenvolvida já em cultivar brasileira, num trabalho puxado pelo centro de P&D da Bayer em Petrolina (PE), o que encurta o caminho até as diferentes regiões sojeiras. A nova geração protege contra 9 espécies de lagartas e aguenta cinco herbicidas de uma vez, somando glifosato, dicamba, 2,4 D, glufosinato de amônio e mesotriona. Na prática, o produtor ganha bem mais combinação pra montar o manejo em cima de buva, capim pé de galinha, capim amargoso e outras malas sem alça que tavam ficando folgadas com os produtos de sempre.
No caruru, a Bayer mira um antes e depois. A planta daninha já infestou mais de 20 milhões de hectares e pode tirar 14,6 sacas de soja por hectare, num estrago perto de R$ 1,9 mil na conta. Nos ensaios internos com Intacta 5+, a mesotriona em mistura com dicamba e glufosinato mostrou controle pesado de caruru e boa resposta em outras plantas daninhas. Se entregar no campo o que vende no palco, o caruru vai ter que procurar outro lugar pra crescer.
O AGRO EM NÚMEROS
Coco dependente dos EUA, açúcar sobrando e crédito apertando
Os EUA tão praticamente donos da torneira da água de coco brasileira. De janeiro a outubro, o Brasil exportou R$57,1 milhões em água de coco pra 46 países diferentes, mas R$51,5 milhões foram direto pros americanos, mais de 90% de tudo. Quando veio o tarifaço, o Ceará praticamente desistiu de mandar pelo menos 1,5 milhão de litros pros EUA. Agora, sem a taxa extra de 40%, o setor tenta retomar o fôlego no copo americano.
No açúcar, o mundo tá mais doce do que o mercado gostaria. A StoneX projeta superávit global de 3,7 milhões de toneladas em 2025/26 e estoques em 77,3 milhões de toneladas, com relação estoque uso em 39,9%. A Ásia deve passar de 80 milhões de toneladas produzidas e Índia e Tailândia aceleram a safra. Com consumo crescendo só 0,5% pra 193,8 milhões de toneladas, a pressão continua pra baixo no preço.
Nas exportações, o Brasil vem surfando a onda das aberturas de mercado. Desde 2023, são 491 novos destinos que já renderam perto de US$3 bilhões e podem chegar a R$33,3 bilhões por ano se o país repetir neles o market share global. O México virou case rápido com carne bovina e suína, o algodão em pluma ganhou tração no Egito e o gergelim achou rota uma premium na China.
No crédito, o alerta do Banco Central veio em caixa alta. A inadimplência no crédito rural de pessoa física chegou a 7,9% no 1º trimestre de 2025, com grandes produtores liderando o sufoco, em 10,7%. No agregado, perto de 15% das operações tão inadimplentes, prorrogadas ou renegociadas, e no Rio Grande do Sul o índice bate 30,6%. O BC chama atenção especialmente pro arrendatário que financia 100% do custeio: na safra 2024/25, a conta simplesmente não fecha, mesmo com juro subsidiado.
Mesmo com esse cenário mais apertado, o apetite por investir não sumiu do radar das gigantes do agro. Em uma enquete feita lá no Melhores do Agronegócio, 41,3% dos executivos disseram que pretendem aumentar os investimentos em 2026, 31,3% vão manter o nível atual e 27,4% devem reduzir. A maioria aposta em Selic entre 13% e 14%, ainda alta, mas menos sufocante que os 15% atuais.
DE OLHO NO PORTO
Trator verde de freio puxado e tarifaço no retrovisor

Gif by AgProCo on Giphy
A John Deere entrou no fim de ano avisando que 2026 não vai ter colheita gorda, pelo menos pra eles. A empresa tá projetando um lucro entre US$ 4 bilhões e US$ 4,75 bilhões, bem abaixo dos US$ 5,027 bilhões de 2025 e muuuito longe dos US$ 7,1 bilhões de 2024. Nas palavras do CEO John May, 2026 deve ser o ponto mais baixo do “grande ciclo agrícola” em larga escala, com vendas de máquinas e agricultura de precisão caindo entre 5% e 10% e tombo de 15% a 20% nas máquinas grandes pros produtores de milho e soja nos EUA e Canadá.
O balanço de 2025 já mostra esse inverno chegando. A receita global recuou 12%, pra US$ 45,6 bilhões, com queda de 17% nas vendas de máquinas grandes e de agricultura de precisão, 7% nas máquinas pequenas e de jardinagem e 12% na linha amarela de construção e floresta. As margens sentiram o tranco do tarifaço de Trump e da pressão de custo com aço e alumínio: o lucro operacional despencou 41% nas máquinas grandes, 26% nas pequenas e 49% na linha amarela. Só em 2025, as tarifas já arrancaram quase US$ 600 milhões do bolso da John Deere, e a conta pode dobrar pra US$ 1,2 bilhão em 2026.
Do lado do cliente, o clima também não tá exatamente festivo. O agricultor americano vem apanhando de preço baixo de safra, tarifa em cima de insumo e incerteza na mesa com China, mesmo com acordo pra aumentar compra de grãos e algo em torno de 2 milhões de toneladas de soja negociadas desde o fim de outubro. Com a renda mais apertada e o cenário político e comercial turbinando essa volatilidade, a turma tá segurando pedido de máquina e alongando ciclo de renovação de frota. A Deere admite que a retomada deve demorar um pouco mais, mas aposta que, passado esse fundo de poço em 2026, quem sobreviver no campo deve voltar a olhar pro catálogo verde com mais carinho.
ASSUNTO DE GABINETE
Dia cheio no Congresso

Foto: Flickr
O dia em Brasília ontem (26) foi mais cheio que festa open bar na faixa. No Senado, o seguro rural ganhou um empurrão importante: a CCJ aprovou o projeto que promete tirar o programa da montanha russa e colocar um mínimo de estabilidade no caixa. O plano é garantir todo ano um dinheiro separadinho no orçamento federal pra ajudar a pagar o seguro da lavoura, sem aquele corta e remenda no meio do caminho. Essa grana viria de uma nova arrecadação do governo com regularização de bens, o tal do Rearp, que deve somar uns R$ 10 bilhões nos próximos anos.
O plano também cria um cofre de emergência pra desastres climáticos, o famoso fundo de catástrofe. É tipo um seguro do seguro: quando o clima vem com tudo, esse fundo entra como amortecedor pra não quebrar seguradora nem produtor. Hoje o filme tá bem feio, a área segurada caiu de 16,3% pra 7,5% da lavoura em poucos anos e tem projeção que fala em 2,3% se nada mudar logo. Menos proteção significa mais pedido de perdão de dívida, mais linha emergencial e mais briga de político quando a seca ou o excesso de chuva resolvem bater na porteira.
Na Câmara, a bronca foi em outra frente: o programa de rastreabilidade de agrotóxicos do governo tomou um chega pra lá. A Comissão de Agricultura aprovou um decreto legislativo pra suspender a portaria que criava um sistema digital cheio de obrigação, com rastreio em tempo quase real de caminhão, etiqueta pra tudo quanto é embalagem e uso de uma tecnologia que o próprio governo já tinha aposentado lá atrás. Parlamentares e entidades do agro reclamam que a conta do sistema ia cair inteira no colo de produtor e transportador, sem conversa prévia e com um benefício bem duvidoso no combate ao produto ilegal.
SAFRA DE CIFRAS
Lavoro desmonta Crop Care no balcão enquanto troca de CEO

Foto: Divulgação
A Lavoro conseguiu o que queria na Justiça de SP: o plano de recuperação extrajudicial tá homologado e a casa começa a ser arrumada na base do desapego. A companhia alinhou o plano com credores que somam cerca de 67% dos créditos de fornecedores e colocou no mesmo barco pesos pesados como Adama Brasil, UPL, FMC, BASF, Ourofino e EuroChem. A ideia é dar fôlego pro caixa enquanto a empresa acerta as contas depois de uma fase bem mais apertada do que ela gostaria de admitir.
Pra levantar grana e enxugar operação, a estratégia agora é pendurar parte do negócio Crop Care na vitrine. Estão na lista de ativos em negociação Agrobiológica, Cromo Química e Union Agro, enquanto a Perterra segue no portfólio, tratada como aquela fazenda que ninguém quer vender nem em ano ruim. Tudo isso faz parte do pacote de reorganização que, na prática, é a Lavoro tentando voltar a jogar na primeira divisão sem depender de prorrogação de dívida.
Na ponta da caneta também tem troca de comando. Ruy Cunha deixa a cadeira de CEO em 30 de novembro e passa a chave do gabinete pra Marcelo Pessanha, que assume em 1º de dezembro. O recado pro mercado é claro: muda o piloto, muda a rota e, se o plano der certo, a Lavoro sai da fase de recuperação e volta a falar de crescimento, em vez de passar o dia explicando planilha pra credor.
PLANTÃO RURAL
Reforma puxa agro pro Simples. A reforma tributária já tá mexendo com o CNPJ do campo: as empresas do agro no Simples subiram de 395 mil pra 423 mil em 1 ano, alta de 7,1%. O pequeno produtor tá virando PJ pra encarar nota fiscal, concorrência e contrato grande com mais segurança.
Kepler arma celeiro gigante pro etanol de milho. A Kepler Weber vai erguer em Montividiu (GO) uma unidade de 240 mil toneladas pra segurar milho da São Martinho, tudo na pegada entrega 360. A estrutura vira pulmão da Unidade Boa Vista, que mira processar 635 mil toneladas por ano a partir de 2027.
Tilápia sem origem na nota pode rodar em MS. Projeto na Assembleia de MS quer barrar tilápia sem nota, laudo sanitário e rastreio completo. Quem vender peixe de procedência duvidosa pode tomar multa de até 300 UFERMS (um pouco mais que um galo), ter lote apreendido e registro suspenso. A ideia é proteger tanto o produtor local quanto o consumidor.
Bruxelas adia lei anti desmate, mas radar segue ligado. O Parlamento Europeu empurrou a lei anti-desmatamento por mais 1 ano, com revisão marcada pra abril de 2026. O respiro é curto: cacau, café, soja e companhia seguem na mira e vão ter que provar origem limpa com geolocalização e imagem de satélite.
Plano Clima continua na sala de negociação. Carlos Fávaro avisa que o Plano Clima só sai quando governo, agro e meio ambiente chegarem num meio termo decente. A ideia é tirar desmate do colo direto da agropecuária, criar plano específico pras emissões e evitar canetada de efeito climático só pra fazer foto em COP.
Defensivo indo pro talhão em marcha lenta. Com juro alto e dívida pesada, o produtor tá segurando pedido e comprou só 81% dos defensivos da soja 2025/26, bem abaixo dos 92% de 3 safras atrás. Indústria corre pra ajustar estoque e logística, enquanto parte da turma cogita cortar aplicação e arriscar produtividade.
SE DIVERTE AÍ
Hora de provar que aula de geografia não entrou por um ouvido e saiu pelo outro. No Flagle, você recebe uma bandeira meio misteriosa e vai chutando o país até acertar, com o jogo mostrando o quão perto você tá a cada tentativa. Vale prestar atenção em cores, símbolos e aquele detalhe escondido no cantinho do mastro. Abre o jogo, chama a galera no grupo e vê quem descobre o país primeiro antes de rodar igual bússola quebrada.
VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Meliponicultura
Pergunta de hoje: Qual cultura introduzida na Bahia no século XVIII fez de Ilhéus e Itabuna polos econômicos até a vassoura-de-bruxa?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!


