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Bom dia!

Hoje a gente tem bastante coisa pra falar: Lula jogando a conta do licenciamento e do clima no colo de quem exporta, Plano Clima redesenhando a planilha de carbono do agro, IBGE tentando tirar o Censo Agro do fiado, Embrapa e Sebrae botando startup pra sujar a botina em fazenda laboratório, bactéria da Caatinga entrando em campo contra a buva, soja e carnes acelerando lá fora enquanto recuperação judicial cresce aqui dentro, guerra do leite em pó ganhando novos capítulos nos estados e um combo de abertura de mercados.

Pra você acordar bem informado

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

FOCUS 2025 Semana 2026 Semana
Câmbio (R$/US$) 5,40 0,00% 5,50 0,00%
IPCA (%) 4,35 -0,96% 4,1 -1,36%
PIB (%) 2,25 3,75% 1,8 0,08%
Selic (% a.a.) 15,00 0,00% 12,25 0,00%

Os dados são publicados por BCB. A variação considerada nesta tabela é semanal.

ASSUNTO DE GABINETE

Licenciamento e Plano Clima: Lula joga a conta no colo do agro

Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

O presidente Lula aproveitou a inauguração da nova sede da ApexBrasil pra mandar um recado direto pro campo: se a derrubada dos vetos da Lei do Licenciamento Ambiental virar problema lá fora, não é o governo que vai ficar sem vender, é o exportador de soja, de carne e de celulose. Segundo ele, se União Europeia ou Xi Jinping começarem a reclamar de b.o. climático, quem vai perder são os empresários que mandam produto pro exterior, não o Planalto.

Do outro lado, o Congresso fez o serviço que a Frente Parlamentar da Agropecuária queria e derrubou a maioria dos vetos no fim de novembro. O deputado Zé Vitor (PL-MG), que relatou o projeto na Câmara e a MP do Licenciamento Ambiental Especial, virou uma espécie de gerente de obras do licenciamento pro agro.

Enquanto licenciamento virava cabo de guerra político, o Plano Clima finalmente saiu do forno e foi aprovado pelo Comitê Interministerial de Mudança do Clima. O pacote limita as emissões líquidas do Brasil em 1,2 bilhão de toneladas de CO₂ equivalente até 2030 e mexe fundo na planilha de carbono do agro. A primeira versão empurrava pra conta da agricultura e pecuária cerca de 1,39 bilhão de toneladas, somando atividade produtiva e boa parte do desmatamento em área privada e pública, o que colocou o setor todo na defensiva. Agora o governo repartiu a fatura em 3 planos setoriais e tirou uma parte pesada do desmate das costas do produtor.

Com a nova divisão, o PSM de Agricultura e Pecuária passa a olhar só pras emissões da atividade e do combustível usado no campo, e ganha meta bem mais suave: o setor pode até aumentar em 1% as emissões em 2030, chegando a 649 milhões de toneladas de CO₂. Já o PSM de uso da terra em áreas privadas precisa cortar 70% das emissões até 2030, saindo de 352 milhões pra 106 milhões de toneladas, e o plano das áreas públicas e territórios coletivos promete redução de 140%, transformando área que hoje emite demais em plantação de carbono. O ministro Carlos Fávaro garante que foi uma negociação ponto a ponto e que o resultado ficou em um bom meio termo, mas o agro ainda quer ver tudo preto no branco no Diário Oficial antes de abaixar a guarda.

MENTES QUE GERMINAM

Embrapa faz cosplay de hub de inovação

Giphy

A Embrapa e o Sebrae resolveram colocar as agtechs pra sujar a botina de verdade. As duas instituições selecionaram 5 startups, AgScore, C3 Ambiental, Insuma Biotecnologia, Mondi Energy e Nutralis, pra testar e validar tecnologias dentro do AgNest, a fazenda laboratório da Embrapa em Jaguariúna (SP). A turma foi escolhida dentro do programa Sebrae for Startups, depois de passar pelo pente fino de pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Agricultura Digital e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, que ficaram de olho na maturidade das soluções e no potencial real de uso no campo.

A partir de 2026, as cinco empresas vão ter base no AgNest pra testar seus produtos na safra de inverno, em área de cultivo de verdade, não só em slide bonito e apresentação pra investidor. O Sebrae lembra que validar tecnologia direto na lavoura ainda é raro no Brasil, mesmo com tanta agtech surgindo por aí, e que a estrutura da fazenda laboratório da Embrapa ajuda justamente a separar ideia boa de promessa vazia, encurtando o caminho entre o pitch e o tal do resultado agronômico.

Do lado técnico, a Embrapa já enxerga tendência clara pros próximos anos: mais soluções baseadas em organismos vivos, microalgas e bioinsumos ganhando espaço na pesquisa e no mercado. Ao acompanhar de perto o que essas startups estão desenvolvendo, a empresa quer mapear o que tem mais chance de virar ferramenta de rotina na fazenda e, de quebra, dar musculatura científica pra um setor que promete reduzir impacto ambiental sem derrubar produtividade.

O AGRO EM NÚMEROS

Soja quase toda no chão e proteína voando mundo afora

Foto: Freepik

A safra de soja 2025/26 tá praticamente toda no chão: o plantio chegou a 97% da área estimada, segundo a AgRural, embalado pela chuvarada da última semana. A umidade do solo melhorou tanto onde o plantio ainda corre, caso de Rio Grande do Sul e partes do Matopiba, quanto nas regiões que já tão definindo produtividade, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. Com previsão de mais chuva e temperatura amiga nos próximos dias, os produtores entram na reta final do plantio bem mais tranquilos que no começo da temporada.

Nas proteínas, dezembro tá virando mês de exportação turbinada. A carne bovina já embarcou 143,5 mil toneladas na 2ª semana, com média diária de 14,3 mil toneladas, alta de 48,9% frente a dezembro de 2024 e preço médio em torno de US$ 5.603,50 por tonelada, o que empurra o faturamento diário pra cima em 68,5%. A carne de frango soma 229,1 mil toneladas, média diária de 22,9 mil toneladas e avanço de 16,4%, mas com preço 6,5% menor, em US$ 1.729 por tonelada. Já a suína combina volume e preço: média diária de 6,7 mil toneladas, alta de 49,2%, preço médio em US$ 2.564,20 por tonelada e faturamento diário 51,3% maior que no ano passado.

No balcão dos insumos, o adubo segue firme no fluxo. As entregas de fertilizantes somaram 35,86 milhões de toneladas de janeiro a setembro, alta de 9,3% sobre 2024, com Mato Grosso liderando o consumo e Paranaguá respondendo por 25,5% das importações. A produção nacional cresceu, as compras externas também, e a ureia, que passou o ano cara e perdeu espaço pro sulfato de amônio, já acumula queda de cerca de 18% no preço nos portos desde o fim de agosto, recuperando competitividade num cenário em que o produtor ainda faz conta com margem apertada e olho grudado na relação de troca.

Do lado do caixa, o clima é bem menos confortável. Os pedidos de recuperação judicial no agro saltaram 147% no 3º trimestre, chegando a 628 solicitações entre produtores pessoa física, grupos familiares e empresas da cadeia, no maior nível desde 2021. Mato Grosso lidera a estatística, seguido por Goiás e Paraná, com produtores de soja e criadores de bovinos no topo da lista.

SAFRA DE CIFRAS

Censo agro na fila do banco

Gif by heyarnold on Giphy

O IBGE tá com o Censo Agro quase pronto, apontando os lápis e carregando a bateria dos tablets, mas antes precisa passar pelo caixa do Orçamento. O instituto tá esperando sentado a liberação de R$ 700 milhões só pra fase de preparação em 2026 replanejada depois do aperto no bolso que empurrou a coleta de dados de 2026 pra 2027. A ideia é mapear cerca de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários do Brasil com mais detalhe sobre produção, clima, sucessão e tecnologia, mas sem dinheiro não tem tablet, não tem equipe e não tem dado novo pra ninguém.

Se o Congresso carimbar o cheque, o cronograma volta a andar no tempo certo. A ideia é começar em outubro de 2026 um cadastro dos estabelecimentos, abrir a coleta online em janeiro de 2027 e colocar recenseador batendo palma na porteira a partir de abril de 2027, com tablet na mão e questionário engatilhado. O pacote de R$ 700 milhões cobre teste piloto, contratação de analistas, compra de cerca de 27 mil tablets e afina a logística, mas não paga a conta da coleta inteira, que deve exigir algo perto de R$ 1,8 bilhão, pensando em combustível e mão de obra num Brasil onde nada tá barato.

O primeiro pré-teste já rolou em dezembro em 6 municípios de perfis bem diferentes, de Alfenas a Bacabal, pra ver se o aplicativo funciona, se a logística dá conta e se o produtor entende as novas perguntas sobre sucessão, impacto climático e destino da produção. Agora o IBGE fica de olho em 2 relógios ao mesmo tempo: a votação do Orçamento de 2026 e a aprovação do processo seletivo pra contratar temporários até o começo de julho. Se uma dessas pontas não fechar, o Censo Agro segue atrasado e o país continua tocando política agrícola no escuro, com dado velho guiando decisão nova, pra variar.

PAUTA VERDE

Bactéria da Caatinga bota a buva pra correr

Foto: Fernanda Birolo

A Caatinga tá virando laboratório natural contra planta daninha folgada. Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente e da USP fuçaram o solo do bioma e encontraram uma bactéria, a Streptomyces sp. Caat 7-52, que é capaz de brecar a germinação da buva, aquela invasora resistente que já cansou de driblar herbicida químico em soja, milho, algodão, café, cana, pastagem e o que mais aparecer pela frente. Em vez de mais um tanque cheio de molécula sintética, a ideia é transformar esse microrganismo em um bioherbicida que ataca a buva logo na largada.

E a bactéria mostrou serviço na bancada do laboratório. A análise dos metabólitos revelou dois compostos principais, o ácido 3-hidroxibenzóico e a albociclina, com efeito direto na germinação da buva mesmo em dose bem baixinha. Foi a primeira vez que a tal albociclina apareceu como fitotóxica, abrindo as portas da percepção para um novo manejo, ainda mais sustentável. E dá pra melhorar: o caldo fermentado bruto já derruba buva, caruru e picão preto sem precisar de purificação complicada, o que corta custo, reduz uso de solvente e deixa o pacote bem mais amigável pro bolso e pro meio ambiente.

Agora vem a parte menos glamourosa e mais importante: transformar descoberta de laboratório em produto que funcione na lavoura. A turma vai testar a bactéria em condições reais de campo, checar os efeitos em diferentes culturas, estudar o impacto em organismo não alvo, ajustar formulação e encaixar a tecnologia dentro de programas de Manejo Integrado de Plantas Daninhas. Enquanto muito herbicida químico já perdeu a queda de braço pra buva, a Caatinga pode ter acabado de escalar um reforço de respeito pro time dos bioinsumos.

PLANTÃO RURAL

  • Agroecologia querendo sair do nicho. No Fórum da Agricultura Familiar, em Salvador, produtores e Embrapa repetiram o mantra: agroecologia melhora renda e comunidade, mas ainda tromba com estrada ruim, falta de marketing, selo caro e crédito travado. Todo mundo concorda que o modelo tem potencial, mas tá faltando escala e política que chegue na ponta.

  • Guerra do leite em pó esquenta em Goiás. O estado proibiu a venda de leite reconstituído a partir de leite em pó importado e se juntou a Paraná, Pará e Santa Catarina na blindagem contra produto barato de Argentina e Uruguai. A ideia é proteger o produtor local e forçar mais transparência na gôndola.

  • ApexBrasil abre o mapa-múndi pro agro. O governo comemorou a marca de 500 mercados abertos desde 2023, com US$ 3,4 bilhões já na conta e potencial de até US$ 37 bilhões por ano. Tem de tudo: carne pra Guatemala, baru pra Eurásia, fruta pro Japão e arroz pra Nicarágua.

  • China colhe mais grãos e aperta cinto da importação. A safra 2025 bateu 714,9 milhões de toneladas, com milho em 301,2 milhões e arroz em 209 milhões. A área plantada cresceu pelo 6º ano seguido e a produtividade também subiu. Pequim reforça a tese de segurança alimentar em casa e menos dependência dos grãos de fora.

  • Adecoagro vira dona da ureia argentina. A companhia fechou a compra da fatia da YPF na Profertil e agora segura 90% da maior produtora de ureia granulada da América do Sul, numa tacada de US$ 1,1 bilhão. Além de colheita e energia, o grupo passa a mandar bem mais também no pote de fertilizante.

  • Desmatamento legal segue no jogo do Plano Clima. O MMA avisou que a supressão autorizada de vegetação em área privada continua valendo, mas agora tá dentro de um plano setorial próprio. A meta é reduzir gradualmente essa perda e turbinar recuperação de floresta usando crédito rural, PSA, CRA e outros incentivos pra não virar tudo toco.

  • Café brasileiro promete safra parruda em 2026/27. A Hedgepoint projeta entre 71 milhões e 74,4 milhões de sacas, com arábica podendo crescer até 30% e conilon recuando depois de ciclo histórico. A conta tende a recompor estoque global e deixar o mercado mais baixista, mas qualquer susto de clima ainda pode mexer forte no preço.

  • Kepler Weber e GSI pedem prorrogação na conversa. A líder brasileira de silos estendeu até 15 de fevereiro o prazo de negociação com a americana GPT, dona da GSI. Se o casamento sair, nasce um gigante da armazenagem com mais de 50% do mercado brasileiro. Falta combinar preço, estrutura… e convencer o Cade que isso não vira jogo de um time só.

SE DIVERTE AÍ

Hoje o desafio é o Contexto, aquele jogo em que você tenta adivinhar a palavra secreta chutando termos e vendo o quão perto tá pelo sentido, não pelas letras. Vale começar com palavras do agro tipo soja, boi, clima, crédito, fertilizante e ir afinando até chegar na resposta. Joga aí, testa seu dicionário e depois conta quantos chutes você precisou pra matar a charada.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Caju

Pergunta de hoje: Qual tempero, usado desde o Império Romano, já foi tão valioso que servia como forma de pagamento?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

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