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Bom dia!
O Rio Grande do Sul encara um fim de semana de tempo bruto, com risco de tornados e rajadas acima de 90 km/h, enquanto o Mato Grosso do Sul vira vitrine global da celulose com a megafábrica bilionária da Arauco. No meio do caminho, clima e mercado seguem redesenhando o tabuleiro do agro.
Também tem:
• Governo e agro em queda de braço pelo Plano Clima
• Dechra recolhendo vacina após mortes em rebanhos no Nordeste e Sudeste
• União Europeia reclamando de tarifaço que favorece a Argentina
• Barretos abrindo a histórica 70ª edição da Festa do Peão
Tudo que você precisa saber.
Por Enrico Romanelli
TÁ QUANTO?
Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).
E ESSE TEMPO, HEIN?
Sul do Brasil testando o limite do guarda-chuva, e de alguns telhados

Foto: USDA
O Rio Grande do Sul entra em alerta máximo com a chegada de uma frente fria capaz de provocar temporais violentos, rajadas acima de 90 km/h e até risco de tornados. O Inmet já emitiu alerta laranja para acumulados que podem passar dos 70 mm, além de granizo e descargas elétricas.
As chamadas supercélulas devem boa parte do RS, trazendo chance de microexplosões e downbursts, que são fenômenos que causam furacões. O cenário é de alagamentos, destelhamentos e transtornos em praticamente todo o estado.
Enquanto isso, o resto do país segue na secura. Cuiabá pode encostar nos 40 °C, interior de São Paulo e Minas nos 35 °C e a umidade despenca a níveis críticos no Centro-Oeste e Sudeste. O Nordeste tem pancadas no litoral, mas calor firme no interior, e o Norte segue dividido entre chuvas no Amazonas e sol forte no Pará e Rondônia.
ASSUNTO DE GABINETE
Pesou o clima entre governo e agro

Foto: Rogério Cassimiro/ MMA
O Plano Clima, que mal entrou na reta final de elaboração, já virou motivo de briga entre governo e agro. A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) acusa o texto de jogar nas costas do campo uma fatia exagerada da conta climática. Já o Ministério do Meio Ambiente rebate e diz que o plano é coletivo e técnico, não um bode expiatório ruralista.
Na prática, o embate gira em torno das metas: até 2030, a agricultura e a pecuária precisam cortar 36% das emissões em comparação a 2022, e até 2035 a tesoura pode chegar a 54%. Os ruralistas reclamam que, enquanto o setor tem que reduzir, a energia ainda pode aumentar emissões em até 44%. Para eles, a balança pende pesado contra quem põe comida na mesa.
A FPA fala em “autossabotagem do governo” e alega que o plano ignora avanços já feitos no campo, como preservação de áreas legais, uso de bioinsumos e sistemas produtivos tropicais que sequestram carbono. Também reclama que o desmatamento legal caiu na conta de todos os produtores, sem justificativa clara, deixando o produtor que cumpre a lei com gosto de injustiça.
A pressão aumentou depois que o Ministério da Agricultura resolveu assumir a bandeira do setor produtivo. Em uma nota técnica enviada ao Meio Ambiente, a pasta pediu ajustes substanciais nas contas e questionou a inclusão de 813 milhões de toneladas de CO₂ relacionadas ao desmatamento no pacote atribuído ao agro. Para o Mapa, essa alocação fere padrões internacionais e deveria ser realocada ao setor de conservação da natureza.
Do lado do governo, a defesa é que as metas seguem a metodologia do Inventário Nacional de Emissões, aprovado pelo IPCC, e que incluem sim práticas de captura de carbono como recuperação de pastagens e integração lavoura-pecuária-floresta. O MMA garante ainda que o cálculo é fruto de acordo interministerial e que a Embrapa está ajudando a melhorar a medição.
Por trás da troca de farpas, o que está em jogo é a vitrine internacional do Brasil às vésperas da COP30, em Belém. O Planalto quer mostrar seriedade climática para negociar melhor lá fora, enquanto o agro teme sair como vilão no palco global. A disputa promete render capítulos, mas já deixou claro que a transição verde será também uma queda de braço política.
RADAR DO AGRO
Arauco despeja US$ 2,2 bi no Mato Grosso do Sul

Foto: Divulgação
O Mato Grosso do Sul virou palco de um dos maiores cheques já assinados para a celulose. A chilena Arauco captou US$ 2,2 bilhões com BID Invest, IFC e Finnvera para erguer a megafábrica Sucuriú, em Inocência. O projeto promete ser vitrine de tecnologia e sustentabilidade na indústria global.
Serão 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano, turbinadas por 400 mil hectares de eucalipto e 400 MW de energia limpa, quase metade vendida direto para a rede nacional. No pacote também entram 14 mil empregos na obra e 6 mil fixos, além de promessas sociais de saúde, educação e habitação.
O discurso é de valor compartilhado e baixo carbono, mas o recado mesmo é outro: o Brasil segue imbatível no jogo da celulose. Se der certo, o Sucuriú transforma o MS em referência global.
PAUTA VERDE
“Desmatamento na Amazônia é business imobiliário”

Foto: GovPara
Às vésperas da COP30 em Belém, o Pará resolveu virar a mesa e tentar mostrar que boi e floresta podem dividir o mesmo pasto. O secretário Raul Protázio cutucou o vespeiro ao dizer que o desmatamento em larga escala não nasce da carne, mas da especulação fundiária, e que o gado entra só como “sentinela” para segurar a terra grilada.
Dono do segundo maior rebanho do Brasil, com 26,7 milhões de cabeças, o estado quer transformar a pecuária em vitrine verde no palco global. Para dar exemplo, o estado criou o Programa de Pecuária Sustentável do Pará, pacote que inclui rastreabilidade individual obrigatória, bloqueio de trânsito para gado de áreas ilegais e requalificação de produtores fora da lei.
O desafio, porém, é de escala. Especialistas lembram que a produtividade até disparou nos últimos 30 anos, mas a lógica de abrir área nova segue viva. Para dar certo, será preciso incluir os pequenos e convencer frigoríficos e bancos a entrar no jogo.
RADAR SANITÁRIO
Dechra recolhe vacina após mortes misteriosas em rebanhos

Foto: Sergio Ranalli
A farmacêutica veterinária Dechra mandou recolher dois lotes da vacina Excell 10, seu carro-chefe contra clostridiose, depois de mortes repentinas em caprinos e ovinos no Piauí, em outros Estados do Nordeste e até em São Paulo e Minas. Ao todo, 5,8 mil doses estão na berlinda.
A empresa diz que não foi a vacina em si, mas que ela pode ter acelerado doenças pré-existentes nos animais ou até sofrido com armazenamento errado no campo. Enquanto isso, produtores ficam no prejuízo e de olho no laudo que só sai no fim de setembro.
A Excell 10 é responsável por 40 milhões de doses vendidas todo ano no Brasil, sendo o carro-chefe do portfólio da Dechra. Ou seja: a bronca não é pequena. Até lá, a dúvida segue no ar: foi azar, má conservação ou um produto que não aguentou o tranco no curral?
COMO TÁ LÁ FORA?
UE reclama, e diz que quem ganha com tarifas de Trump é a Argentina

Foto: Dušan Cvetanović/Pexels
O tarifaço de Trump segue redistribuindo cartas no comércio global. Desta vez, quem chiou foram os agricultores europeus: o acordo UE-EUA cravou tarifa de 15% sobre produtos agrícolas do velho continente, contra 10% para a Argentina de Milei e 50% para o Brasil. No fim das contas, a vantagem ficou com os hermanos.
A central agrícola Copa-Cogeca acusa Bruxelas de “erro estratégico” e diz que o setor foi abandonado. Nada de alívio tarifário para vinhos e destilados, como tinha prometido Ursula von der Leyen, Presidente da União Europeia. Enquanto isso, concorrentes diretos como Argentina e Austrália passam de camarote.
A bronca é que a agricultura europeia já sofre com custos altos, regulação pesada e competição global crescente. Com os EUA de um lado reforçando mercado interno e a Argentina ganhando vantagem em Washington, sobra aos europeus a sensação de terem ficado com a pior fatia da Rodada Trump: a de pagar mais para vender menos.
PLANTÃO RURAL
Ano do Cooperativismo. A ONU carimbou 2025 como Ano Internacional das Cooperativas. No agro brasileiro, a meta é chegar a R$ 1 trilhão de faturamento até 2027.
Governo compra perecíveis. Frutas, peixes e carnes que perderam espaço nos EUA vão parar na merenda escolar, hospitais e Forças Armadas. O MDA promete evitar desperdício e segurar a renda dos produtores.
LDC dobra aposta no açúcar. A Louis Dreyfus inaugurou terminal em Pederneiras (SP) que pode mover 1 milhão de toneladas de açúcar por ano. A ideia é dobrar o volume escoado por ferrovia até Santos e aliviar o bolso das usinas.
Raiva em Goiás. Quatro fazendas em Carmo do Rio Verde confirmaram casos de raiva no rebanho. A Agrodefesa correu com vacinação e caça a morcegos hematófagos num raio de 12 km.
Clima ajudando o produtor. O trigo gaúcho cresce bonito, com média de 3 toneladas por hectare. Ao mesmo tempo, o plantio do milho 25/26 já começou. Produtores apostam na expansão da área, embalados pelos bons resultados da última safra e pelos programas de fomento.
Barretos 70 anos. O Barretão abriu as porteiras para 11 dias de festa, com 130 shows e 1 milhão de visitantes esperados. São R$ 1,5 milhão em prêmios nas arenas e estrelas da música sertaneja no palco. Aos 70 anos, o rodeio segue maior que muito festival pop.
SE DIVERTE AÍ
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VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Quinoa
Pergunta de hoje: Qual oleaginosa do Cerrado é conhecida como “ouro do Brasil” e já foi usada para fabricar sabão e lubrificantes?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!
