APRESENTADO POR


Bom dia!

O governo reconheceu que não há perspectiva de liberar o orçamento do Seguro Rural, enquanto produtores do Sul veem a dívida crescer sem apoio suficiente do BNDES. Mas nem tudo é crise: Brasil e Uruguai assinam acordo de cooperação em bioinsumos e startups de inteligência climática seguem atraindo investidores. Até a Embrapa entrou no jogo, abrindo novas bolsas pra quem quer apostar na ciência do campo.

Pra você acordar bem informado.

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

COMMODITIES
Açúcar (Saca 50kg) R$109,68 -31,43
Algodão (Centavos R$/LP) 345,64 -17,69%
Arroz (Saca 50kg) R$55,77 -43,75%
Boi gordo (Arroba 15kg) R$322,55 0,31%
Café Arábica (Saca 60kg) R$2.272,55 1,37%
Etanol anidro (Litro) R$3,1801 4,82%
Milho (Saca 60kg) R$66,69 -8,57%
Soja (Saca 60kg) R$140,38 1,04%
Trigo (Tonelada) R$1.197,19 -14,08%

Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).

MENTES QUE GERMINAM

Tá à venda ou não tá?

Foto: Wenderson Araújo/CNA

O mercado amanheceu fervendo com a fofoca do dia: a Kepler Weber. A história começou quando o O Globo publicou que a Bunge estaria negociando a compra da fatia da Trigono Capital na empresa de silos e armazéns. A notícia caiu como uma bomba, mas o roteiro virou drama rápidinho, depois que o fundador da Trigono, Werner Roger, negou tudo. Disse que os 15,3% que o fundo tem na Kepler “não estão à venda e nunca estiveram”, e ainda cutucou a CVM pra investigar quem anda espalhando boatos.

Enquanto isso, o mercado fez o que faz de melhor: alimentou o caos com especulação e pânico generalizado. As ações da Kepler caíram cerca de 2%, a Bunge tirou o dela da reta, disse que não comenta rumores de mercado, e os investidores ficaram no vai, não vai.

No meio da confusão, a própria Kepler Weber resolveu entrar na conversa, mas pra falar de outro assunto. A empresa confirmou, em fato relevante, que está sim em negociações, mas com a GSI, gigante americana de silos controlada pela American Industrial Partners. A Kepler concedeu exclusividade de 90 dias pra GSI avaliar uma fusão entre as companhias. A GSI é o maior player de silos dos EUA, mas tem participação tímida no Brasil, e essa pode ser a brecha perfeita pra entrar de vez no jogo.

E esse caso é antigo: os gringos já tentaram comprar a Kepler duas vezes, em 2007 e 2017, e desistiram no meio do caminho. Agora voltaram mais preparados, mais capitalizados e com o timing certo, afinal, o Brasil nunca produziu tanto grão, e a necessidade de armazenar tudo isso virou a nova corrida do ouro do agro.

PAUTA VERDE

Ciência x Governo

Foto: Adobe Stock

O clima na ciência paulista azedou. O governador Tarcísio de Freitas sancionou a nova lei que muda a carreira dos pesquisadores científicos do Estado, e o pessoal dos jalecos já avisou: vai ter briga na Justiça. A Lei Complementar 1435/2025 muda regras de remuneração, acaba com o regime de dedicação exclusiva e troca a comissão eleita pelos próprios cientistas por uma nomeada pelo governo. Pra APqC, associação que representa a categoria, é o tipo de “modernização” que parece mais uma reforma sem freio de mão.

Criada lá em 1975, a carreira de pesquisador paulista ajudou a construir boa parte da base científica do Estado, de laboratórios agrícolas a centros ambientais e de saúde. Agora, os cientistas dizem que o novo modelo pode desmontar o sistema que levou meio século pra ficar de pé. O governo garante que não: fala em “valorização da carreira”, “meritocracia” e aumento salarial pra 82% dos profissionais. Segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, o plano é deixar a pesquisa “mais alinhada com inovação e transparência”.

No meio do bate-boca, o clima entre os brothers ficou tenso: os pesquisadores prometem judicializar, o governo defende que ninguém vai ganhar menos, e o setor agro, que depende da pesquisa pública paulista ,observa de perto. A ciência sem estrutura é igual safra sem chuva: a semente até germina, mas o resultado fica bem abaixo do potencial.

O AGRO EM NÚMEROS

Nossa safra de grãos cresceu 63% em 10 anos

Foto: CNA/Flickr

A década foi boa pro agro. Segundo o IBGE, a produção de grãos no Brasil cresceu 63% nos últimos dez anos, com área 41% maior e produtividade 15,6% acima do que se via em 2015. É o tipo de curva que deixa economista de queixo caído e produtor com o sorriso de quem sabe o valor do investimento em tecnologia e manejo bem feito. De quebra, a estimativa pra 2025 é de uma colheita recorde de 341,9 milhões de toneladas, e o agro brasileiro tá colhendo o que semeou: eficiência, inovação e persistência.

Enquanto o campo prepara o solo, o corporativo já tá colhendo lucros que dariam pra encher um armazém. A ADM multiplicou o lucro por 6x e faturou US$ 108 milhões no trimestre. A Zoetis, que cuida da saúde animal, lucrou US$ 754 milhões, alta de 9%, e a FriGol mandou bem com R$ 55,7 milhões, 4x mais que no ano passado. A China segue comprando firme e as exportações sustentam o caixa.

Pra completar, o plantio da soja 2025/26 já cobriu 47% da área prevista. Mato Grosso e Paraná tão no embalo, e o milho e o arroz também avançam. Mesmo com atrasos em alguns estados, o clima deu uma trégua e as máquinas tão cantando.

TRAMPO NO CAMPO

Chuva de pedra, prejuízo e paciência no Sul do país

Foto: Arquivo pessoal

O Sul do Brasil virou palco de um temporal daqueles, com direito a granizo do tamanho de ovo de galinha, ventos de 90 km/h e muito produtor contabilizando prejuízo. No Paraná, 38 cidades foram atingidas e as perdas vão de hortaliças a galpões inteiros. Em Quinta do Sol, o produtor João Cláudio Romero estima R$ 2 milhões em estragos e 30 mil pintainhos perdidos.

O governo parananse liberou R$ 50 milhões pra ajudar na recuperação, mas os produtores garantem que o impacto vai além dos números. A previsão do Simepar indica que o alívio vai ser pouco, a chuva deve voltar com força nesta quarta (5). Em Santa Catarina, o granizo derrubou folhas e frutas em pomares de maçã em Bom Jardim da Serra, São Joaquim e Urubici.

E no Rio Grande do Sul, o drama é outro: trigo parado, colheita atrasada e qualidade comprometida. A umidade tem favorecido a formação de micotoxinas que jogam o preço do grão lá embaixo, indo de R$ 1,2 mil pra R$ 900 a tonelada.

E ESSE TEMPO, HEIN?

Plano Clima entra em banho-maria antes da COP

Foto: Ministério da Agricultura

O governo pisou no freio do Plano Clima e empurrou as decisões mais polêmicas pro pós-COP 30. O próprio ministro Carlos Fávaro confirmou que a discussão foi suspensa pra evitar mais faísca entre a Agricultura e o Meio Ambiente, que vinham batendo cabeça sobre quem deve carregar o maior peso nas metas de mitigação.

A versão original do plano previa cortes de 36% nas emissões da agropecuária até 2030 e 54% até 2035, mas o setor produtivo reagiu com força. Produtores reclamaram que o texto colocava o campo como o principal vilão climático do país, responsável por mais de 70% das emissões e pelo desmatamento ilegal, sem considerar o carbono que o agro ajuda a remover da atmosfera. A chiadeira funcionou: as metas foram congeladas, e o debate fica pra depois da conferência em Belém.

Fontes do setor dizem que o governo deve reduzir a conta do campo de 1,4 bilhão pra 900 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, o que ainda ultrapassa as 643 milhões que o agro efetivamente emite. Enquanto o Ministério do Meio Ambiente fala em coerência com os compromissos internacionais, a Agricultura tenta evitar que o Plano Clima vire um Plano de Culpa.

TRAMPO NO CAMPO

Seguro Rural continua em espera

Foto: Mapa/Divulgação

O Seguro Rural tá mais travado que trator atolado. O Mapa confirmou que, até agora, não há perspectiva de liberação do orçamento pro programa, e os produtores começaram a receber cobranças das parcelas subsidiadas. Segundo o secretário de Política Agrícola, Guilherme Campos, o governo tá em “compasso de espera” e a liberação depende do Ministério da Fazenda, que segue em silêncio.

Campos até admitiu que, em outros anos, os recursos acabavam pingando no fim de dezembro, aquele famoso milagre de Natal do agro, mas desta vez nem sinal de que o Papai Noel vai aparecer. O secretário também jogou lenha na fogueira ao culpar a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) por não ter derrubado o veto que tirou o programa da lista de despesas obrigatórias. Segundo ele, se o veto tivesse caído, o Seguro Rural não estaria bloqueado.

A resposta veio rápido: o presidente da FPA, Pedro Lupion, rebateu dizendo que o problema é de dentro do próprio governo, que “não se entende nem com ele mesmo”. Lupion ainda cutucou dizendo que falta “vontade política” pra resolver o impasse e lembrou que a bancada já avisou: o setor precisa de R$ 3,5 a R$ 5 bilhões pra segurar a bronca. Enquanto isso, o novo modelo do programa segue prometido, mas sem data. Até lá, o produtor tá pagando a conta e torcendo pra chuva ser o único risco da safra.

PLANTÃO RURAL

  • Churrasco sustentável. Começa amanhã (5) em Lavras do Sul o Universo Pecuária, que promete mostrar que a carne vermelha também pode ser verde. Além de painéis e fóruns sobre emissões, o evento traz um restaurante-conceito onde o consumidor escolhe o corte e descobre a origem do bife.

  • Bolso apertado no campo. A Farsul alertou que os R$ 12 bi do BNDES cobrem só 20% das dívidas rurais gaúchas. A entidade critica o excesso de regras que deixam muitos produtores de fora e pede mais recursos. “De cada R$ 5 de dívida, só R$ 1 é atendido”, diz o economista Antônio da Luz.

  • Oportunidade científica. A Embrapa Milho e Sorgo abriu inscrições até 14 de novembro pra seu programa de bolsas em parceria com o CNPq. São quatro vagas e uma reserva pra estudantes que queiram mergulhar em pesquisa e inovação, um bom começo pra quem sonha em crescer dentro do agro.

  • Bioparceria. Brasil e Uruguai assinaram um acordo de cooperação em bioinsumos, com foco em tecnologias biológicas e políticas conjuntas pra reduzir o uso de químicos. A meta é impulsionar inovação e sustentabilidade na agropecuária dos dois lados da fronteira.

  • Tech de raiz. As climatechs seguem ganhando espaço no agro. A Cyan Analytics levantou R$ 2 milhões pra ampliar suas análises climáticas e monitoramento de lavouras, enquanto a Guarda aposta em seguros paramétricos baseados em satélite. A previsão é clara: quem entende o clima, colhe melhor.

SE DIVERTE AÍ

Hora de testar se você manja de geografia tanto quanto de agro! O jogo do dia é o Flagle, onde você tenta adivinhar o país pela bandeira, e cada palpite revela o quão perto você tá do acerto. Um desafio perfeito pra quem acha que reconhece o mundo inteiro pela cor e pelo formato dos trapos.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Café arábica

Pergunta de hoje: Qual programa criado em 1975 fez do etanol de cana um pilar da matriz energética brasileira?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

Keep Reading

No posts found