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A FPA resolveu bater de frente com o governo em temas sensíveis como licenciamento e clima, enquanto a suspensão da Moratória da Soja pelo Cade rachou o setor entre quem vê avanço e quem enxerga retrocesso. O clima também deu o tom, com geada castigando o Cerrado Mineiro.
Também tem:
• Banco Mundial liberando R$ 800 milhões para projetos rurais em São Paulo
• Colorado criando área de inovação para atrair startups do agro
• Soja brasileira firme na China enquanto Trump tenta segurar produtores americanos
• Produtores de café do Cerrado revendo expectativa após frio intenso
Tudo que você precisa saber, do seu jeito e no seu ritmo.
Por Enrico Romanelli
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Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).
ASSUNTO DE GABINETE
Cade suspende Moratória da Soja e racha o setor

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O Cade resolveu dar um basta na Moratória da Soja e o que era acordo virou ringue. Criada em 2008 por grandes tradings para barrar grão vindo de área desmatada na Amazônia, a moratória agora está suspensa em caráter preventivo. E cada lado da cadeia correu para contar a sua versão da história.
Entre os produtores, a notícia é vista como algo positivo. A Aprosoja-MT chamou a decisão de marco histórico e disse que o Cade derrubou um cartel disfarçado de acordo ambiental. Pequenos e médios comemoraram como libertação de uma trava que, segundo eles, nem respeitava quem jogava dentro das regras. Até o secretário de Política Agrícola, Guilherme Campos, entrou no coro: chamou a moratória de imposição estrangeira e disse que, no fim das contas, o Brasil sempre vai correr atrás das decisões que vem lá de fora, faça o que fizer.
Já pra indústria e os ambientalistas, desaprovação completa. A Abiove, que reúne grandes processadoras, prometeu recorrer da decisão, o Greenpeace chamou a medida de tiro no pé às vésperas da COP30, o Ipam alertou para risco de desmatamento sem freio e a WWF-Brasil previu impacto já no plantio da próxima safra, em setembro. Até a Abag entrou no jogo e avisou que o timing é péssimo, capaz de arranhar a imagem do Brasil justo quando os holofotes internacionais miram Belém.
No curto prazo, o Cade mandou parar de trocar relatórios, listas negras e auditorias conjuntas. Se a suspensão vai se manter, só o tribunal vai dizer. Mas uma coisa é certa: a moratória, que já foi vitrine ambiental, agora virou vitrine de discórdia.
E ESSE TEMPO, HEIN?
Geada derruba expectativas no Cerrado Mineiro

Foto: Reuters
O frio de agosto deixou sua marca amarga no Cerrado Mineiro. Segundo a Expocacer, a geada do dia 11 deve cortar em 5,5% a próxima safra da região, o que representa cerca de 412 mil sacas de 60 quilos. O levantamento avaliou quase 13 mil hectares e encontrou 1.173 com impactos, atingindo 67 produtores.
Patrocínio, maior município produtor de café do Brasil, aparece entre os mais afetados, junto com Ibiá e Araxá. Nas áreas atingidas, a perda média chega a 55% do potencial produtivo, com danos classificados de leves a severos, este último comprometendo até 90% da produção. A Expocacer seguirá medindo o tamanho do estrago em novos relatórios.
A região deve colher mais de 6 milhões de sacas em 2025, menos que o Sul de Minas que caminha para mais de 15 milhões e não registrou geadas neste inverno. Mesmo assim, os impactos no Cerrado já balançaram o mercado de Nova York, onde os contratos futuros do arábica ganharam fôlego com os estoques baixos na ICE.
RADAR DO AGRO
Banco Mundial injeta R$ 800 milhões no agro paulista

Foto: Wenderson Araújo/CNA
O campo de São Paulo vai receber um reforço de peso. O Banco Mundial aprovou R$ 800 milhões para a terceira etapa do programa Microbacias e, com a contrapartida do governo, o maço chega a R$ 1,1 bilhão. A meta é ambiciosa: beneficiar 120 mil produtores rurais em seis anos.
Batizado de Agro Paulista Mais Verde, o pacote promete turbinar a agricultura familiar com investimentos em cooperativas, agroindústrias e infraestrutura hídrica. Também mira a inclusão produtiva de mulheres e jovens, além de capacitar 15 mil produtores para tecnologias sustentáveis. Entre as metas estão recuperar 1 milhão de hectares degradados e fortalecer 420 associações.
O Microbacias 3 é herdeiro de um programa iniciado em 2000. Se antes o foco era conservação ambiental e depois acesso a mercado, agora a aposta é no tripé renda, sustentabilidade e inclusão.
DE OLHO NO PORTO
Soja BR é preferida da China, enquanto a americana tá passando sufoco

Foto: Sheryl Becker/Shutterstock
A oleagionosa verde e amarela segue como preferida do chinês, garantindo preços estáveis nos portos brasileiros e escoamento da produção. Já em Chicago, os contratos futuros da soja recuaram depois que a crop tour da Pro Farmer mostrou lavouras americanas com produtividade acima da média.
Enquanto isso, os produtores dos EUA estão em pânico. Representados pela American Soybean Association, enviaram uma carta a Donald Trump dizendo que estão à beira de um “precipício comercial e financeiro”. A bronca é clara: com tarifas 20% maiores que as aplicadas ao Brasil, a soja americana não consegue entrar na China.
O problema é ainda maior, visto que Pequim já fechou contratos com o Brasil para os próximos meses, deixando os agricultores dos EUA com silos cheios e contas vazias. “Não conseguimos sobreviver a uma disputa comercial prolongada com nosso maior cliente”, escreveu a ASA, pedindo que Trump priorize a soja no acordo em negociação com os chineses.
PAUTA VERDE
FPA saiu na mão com o Plano Clima e vetos do licenciamento ambiental

Foto: FPA/Divulgação
A FPA não quis nem esperar secar a tinta dos vetos de Lula ao licenciamento ambiental. A bancada já despejou 568 emendas para tentar resgatar trechos cortados, como a dispensa de licenciamento para quem não tem CAR analisado. Segundo o relator Zé Vitor, a versão sancionada “não para de pé” e deixou o Brasil sem uma lei que dê segurança ao produtor nem proteja o meio ambiente.
Na mira dos ruralistas estão pontos como a limitação da Licença por Adesão e Compromisso (LAC) para médios empreendimentos, a consulta obrigatória a povos indígenas e quilombolas e o fim do licenciamento monofásico. A FPA também quer devolver autonomia aos estados, que tocam mais de 90% dos licenciamentos hoje, contra o que chamam de centralização excessiva em Brasília.
Enquanto isso, o fogo cruzado se estende ao Plano Clima. A proposta do governo para reduzir emissões até 2035 foi carimbada pela bancada como “autossabotagem”. Para Pedro Lupion, presidente da FPA, o plano “cria palanque ideológico para a COP30” e joga contra os esforços diplomáticos do Brasil.
A bronca não para por aí. A FPA questiona a forma como o plano soma emissões do desmatamento ao passivo do agro, ignorando práticas sustentáveis já implantadas, como integração lavoura-pecuária-floresta, reservas legais e APPs.
Entidades como a SRB engrossam o coro, dizendo que a proposta trata todos os produtores como culpados e esquece que o Brasil preserva 66% da vegetação nativa. Para eles, falta clareza sobre critérios fundiários, sobre o vínculo entre o CAR e as metas, e sobre a diferença entre biomas.
SAFRA DE CIFRAS
Colorado abre carteira para startups e quer turbinar o agro com inovação

Foto: Rogerio Vieira/Valor
O Grupo Colorado, gigante do açúcar e dos grãos com mais de 60 anos de estrada, resolveu colocar o pé no acelerador da inovação. A terceira geração da família criou uma área de corporate venture capital para investir em agtechs que dialoguem com o coração do negócio, de biocombustíveis e bioinsumos até agricultura de precisão, automação e robótica.
O grupo, que moe 9 milhões de toneladas de cana por safra em São Paulo, Goiás e Mato Grosso, quer apostar em startups já validadas e prontas para crescer, de pré-Série A a Série A. A estratégia é entrar de forma minoritária, até 15% de participação, mas com foco em ganhos estratégicos que melhorem processos, tragam novas soluções e aumentem eficiência e produtividade.
Para comandar a empreitada, o grupo contratou Elias Ospina, ex-PwC, com experiência em projetos de inovação junto a empresas como Bunge e John Deere. Ele será responsável por ouvir os pitches e filtrar as agtechs mais promissoras. A lista inicial já tem 36 candidatas, em parceria com a rede de investidores Agroven, que fará a ponte com empreendedores e startups.
PLANTÃO RURAL
Klabin reforça caixa verde. A Klabin garantiu R$ 1,2 bilhão em novos aportes do BTG Pactual e da canadense BCIMC no Projeto Plateau. Com isso, os investimentos na gestão de ativos florestais da companhia chegam a R$ 2,7 bilhões ainda em 2025.
Indonésia libera carne com osso. O Brasil agora pode exportar carne bovina com osso e miúdos para a Indonésia. É a segunda abertura de mercado só neste mês e reforça a presença da proteína brasileira em um país de 283 milhões de habitantes.
Agro em apuros. As recuperações judiciais no agro dispararam 60% no 2º trimestre, com 388 empresas. A soja lidera os pedidos, seguida por pecuária de corte e cana. Especialistas apontam tarifas dos EUA como mais combustível para a crise.
CRAs em baixa. A emissão de CRAs caiu 26% no semestre, somando R$ 14,2 bilhões. Com spreads salgados e investidores mais seletivos, só os grandões conseguem captar. Pequenos produtores ficam cada vez mais restritos ao crédito bancário e CPRs.
Carne bovina recorde. As exportações brasileiras de carne bovina in natura bateram 276,9 mil toneladas em julho, maior volume da história. Mesmo com tarifaço nos EUA, margens seguem firmes e o Itaú BBA recomenda hedge para segurar ganhos.
Alckmin minimiza impacto. O vice-presidente Geraldo Alckmin disse que o plano Brasil Soberano para mitigar tarifas dos EUA terá “impacto fiscal pequeno”. O governo segue tentando excluir produtos da taxação de 50%.
Crédito mais devagar. O Plano Safra 25/26 começou com retração de 25% nos desembolsos de julho. Juros altos e incerteza na safra deixaram o produtor mais cauteloso na tomada de crédito.
Tarifaço na OMC. Os EUA aceitaram consulta do Brasil na OMC sobre as tarifas de 50% impostas por Trump. Washington alega “segurança nacional”, mas o Itamaraty insiste que a medida é ilegal.
Carne cara nos EUA. O rebanho americano caiu ao menor nível desde 1951 e, junto com o tarifaço contra o Brasil, pressiona preços. A carne moída subiu 13,5% em um ano e cortes de churrasco encareceram 9,4%.
Pix na mira. O Brasil contestou nos EUA a investigação que cita Pix, etanol e até a rua 25 de Março como “práticas desleais de comércio”. O Itamaraty rebateu e disse que tudo está em linha com a OMC.
Mulheres do agro em destaque. Histórias de produtoras premiadas mostram como práticas ESG aumentam produtividade e rentabilidade no campo. O Prêmio Mulheres do Agro terá anúncio das vencedoras em outubro e agora conta com apoio da Serasa Experian.
Argélia abre mercado para ovinos.O Brasil poderá exportar ovinos vivos para a Argélia, que já comprou US$ 2,2 bi em produtos agropecuários brasileiros em 2024. A abertura favorece criadores do Norte e Nordeste.
SE DIVERTE AÍ
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VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Cacau
Pergunta de hoje: Qual raiz, originária dos Andes, sobrevive a geadas e é cultivada a mais de 4 mil metros de altitude?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!
