APRESENTADO POR


Bom dia!

A Corteva decidiu se dividir em sementes e defensivos, mas Wall Street torceu o nariz. Em Brasília, deputados esticaram prazo de georreferenciamento e modernizaram a lei de cultivares, enquanto o governo liberou lista da renegociação rural. O mercado da tilápia segue crescendo, o café disparou em NY e até o cânhamo continua preso na Anvisa.

Tudo que você precisa saber, do jeito que você gosta de ler.

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

MERCADO
IBOVESPA (B3) 145.517,34 22,77%
RAIZ4 R$1,03 -51,64%
ABEV3 R$11,99 7,78%
BEEF3 R$6,78 42,44%
SLCE3 R$16,42 -3,53%
Bitcoin US$118.062,125 20,34%
Ethereum US$4.328,86 20,08%

Os dados são publicados por BCB e Brapi.
As variações são calculadas em YTD (Year to date)

  • A falta de chuvas no Brasil disparou os preços do arábica em Nova York, com contratos de dezembro em alta de 2,41%. A preocupação é com a florada precoce e o risco de calor intenso em outubro.

SAFRA DE CIFRAS

Corteva corta em duas, sementes de um lado, defensivos do outro

Foto: Adobe Stock

A gigante norte-americana Corteva, avaliada em quase US$ 50 bilhões, decidiu se reinventar, vai se separar em duas até 2026. Agora vai ter uma empresa só de sementes e outra só de defensivos. Cada uma cuidando do seu quintal e do seu caixa.

De um lado nasce a SpinCo, que leva as sementes e a marca Pioneer, além de todo o peso de quase US$ 10 bilhões em vendas previstas pra 2025. Do outro fica a New Corteva, focada em defensivos e biológicos, com receita projetada de US$ 7,8 bilhões. A justificativa oficial foi que mercados diferentes pedem estratégias diferentes.

E o CEO Chuck Magro já escolheu em que cesta vai colocar seus ovos: ele vai comandar a SpinCo. Greg Page, presidente do conselho, assume a New Corteva. A promessa é de mais agilidade, foco e inovação, com biológicos puxando a fila de um lado e edição gênica e híbridos do outro.

Só que o mercado não aplaudiu tanto assim. As ações despencaram quase 8% em Nova York logo depois do anúncio. Investidores temem custos extras de até US$ 100 milhões e a chamada “desinergia”: perder a força de jogar sementes e defensivos no mesmo pacote comercial.

Ainda assim, a Corteva insiste que a separação é o próximo passo lógico pra manter protagonismo e competitividade em dois mercados que seguem centrais pro agro global.

ASSUNTO DE GABINETE

Dia cheio na câmara: prazos, terras e sementes na mesa

Foto: FPA

Ontem foi dia de plantão lá em Brasília. A Comissão de Agricultura da Câmara aprovou três projetos que mexem muito com a vida de quem produz, de quem pesquisa e de quem precisa provar onde começa e termina sua fazenda. E tudo que tá vindo é pra ajudar: prorrogação de prazo, reforço de propriedade e até atualização na lei de cultivares.

O georreferenciamento, que muita gente no campo via como dor de cabeça, ganhou prorrogação até 2030. Imóveis registrados desde 2003 agora têm mais tempo pra entrar no mapa oficial, sem correria. A ideia é aliviar custos, dar segurança jurídica e evitar travamentos no mercado de terras.

Já no embalo, veio a garantia de que processos da Funai não congelam a vida do produtor. Enquanto a demarcação ou desapropriação não tiver martelo batido, a fazenda continua em atividade. Nada de propriedade parada por anos, com dono proibido de plantar e colher no próprio quintal.

E não parou aí. Depois de duas décadas de espera, a modernização da Lei de Cultivares também andou. O texto amplia prazos de proteção pra até 25 anos em espécies de ciclo longo, endurece regras contra pirataria de sementes e abre espaço pra mais investimento em pesquisa genética. A ideia é alinhar o Brasil ao padrão internacional e evitar que o patrimônio genético vire patente alheia.

O AGRO EM NÚMEROS

Cerrado perde 40,5 milhões de hectares de vegetação em 40 anos

Foto: Wenderson Araujo/Trilux/CNA

A cara do Cerrado mudou em quatro décadas. Entre 1985 e 2024, a área agropecuária cresceu 74%, chegando a 93,7 milhões de hectares. Só a agricultura avançou 533%, puxada pela soja, que já ocupa quase metade da área plantada no país. No mesmo período, o bioma perdeu 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa, uma queda de 28% na cobertura original.

Se no campo a produção não para de crescer, na indústria de máquinas o ritmo perdeu força. Depois de nove meses seguidos em alta, as vendas caíram 7,9% em agosto, somando R$ 6,15 bilhões. A Abimaq culpa o tarifaço e os juros altos pelo freio nos investimentos, mas ainda projeta um 2025 com até 10% de alta acumulada.

No lado dos hermanos, o país deve colher a maior safra de grãos da sua história em 2025/26. A Bolsa de Cereales projeta 142,6 milhões de toneladas, alta de 8,9% sobre o ciclo anterior. O milho brilha com 58 milhões de toneladas e aumento de 18,4%, enquanto a soja recua 3,6%. As exportações podem bater US$ 33 bilhões.

No Brasil, quem surfa uma onda consistente é a tilápia. O consumo cresce em média 10,3% ao ano há mais de uma década e deve seguir nesse ritmo na próxima.

Mas nem tudo são boas notícias na piscicultura: o governo suspendeu 131,7 mil licenças de pescadores profissionais por falta de recadastramento. Desde 2023, mais de 300 mil registros foram cancelados em auditorias contra fraudes. Os profissionais afetados terão 30 dias pra recorrer.

NOS CORREDORES DE BRASÍLIA

Dívida rural entra no mapa, mas nem todo mundo cabe

O governo finalmente carimbou a lista dos municípios habilitados pra renegociar dívidas rurais. São 1.363 cidades onde produtores poderão acessar a linha de R$ 12 bilhões do BNDES, com juros de 6% a 10% ao ano e limites que vão de R$ 250 mil pra agricultores familiares até R$ 50 milhões pra cooperativas.

Na prática, os bancos ainda precisam de uns dias pra ajeitar os sistemas, e os primeiros contratos só devem sair na próxima semana. O problema é que o relógio já corre contra o produtor e o plantio já ta rolando. Quem esperava alívio imediato vai ter que segurar a respiração mais um pouco.

E tem mais: no Paraná, só 50 municípios entraram na lista, menos da metade do que se esperava. A FAEP reclama que os critérios do governo, que disseram ser baseados em estatísticas médias e decretos de emergência, deixam justamente os mais castigados pela seca de fora do pacote. Como resumiu um dirigente: perder safra não é estatística, é drama de cada produtor, e a metodologia oficial acaba punindo quem mais precisava do crédito.

COLHENDO CAPITAL

Se o boi brasileiro comesse como o americano, o churrasco seria outro

Foto: CNA/Flickr

O Brasil tem boi sobrando, mas ainda não tira deles tudo que pode. Mesmo com um rebanho entre 230 e 240 milhões de cabeças, três vezes maior que o dos EUA, a produtividade daqui é bem mais magra. Como resultado, os americanos, com só 86 milhões de animais, ainda produzem mais carne em 2025.

Os números não mentem. O USDA tá projetando 12,2 milhões de toneladas de carne bovina pros EUA, contra 11,9 milhões do Brasil. A diferença tá no rendimento da carcaça: as gringas são 25% mais pesadas. A receita do sucesso deles passa por nutrição à base de grãos baratos e confinamentos bombando com as maiores margens da história.

Por enquanto, a aposta por aqui é uma mistura de pasto vitaminado e confinamentos cada vez mais fortes, puxados pelo DDG, subproduto do etanol de milho que tá crescendo por aí. Novas usinas em áreas de pecuária podem ajudar a deixar a ração mais em conta, turbinar a dieta do gado e espalhar confinamentos pelo interior do Brasil.

COMO TÁ LÁ FORA?

Soja no meio do fogo cruzado entre EUA, China e Argentina

Foto: Susan Walsh/AP

Os Estados Unidos travaram as contas e entraram em “shutdown”. Como o Congresso não aprovou o orçamento do presida, todos os serviços públicos não essenciais foram suspensos, servidores ficaram sem salário e relatórios oficiais pararam de sair. Pro agro, isso pesa: sem os números do USDA, o mercado global fica sem um norte, o dólar balança mais que criança em parquinho e sobra incerteza pra quem exporta e importa.

No meio desse cenário, Donald Trump resolveu chamar Xi Jinping pra mesa. O presidente americano disse que a soja será assunto central do encontro com o líder chinês, já que Pequim teria “deixado de comprar” o grão dos EUA só pra usar como carta de negociação, o que pressionou muito os produtores americanos.

E o enredo ganhou um ator coadjuvante barulhento: a Argentina. Na semana passada, Milei liberou temporariamente a soja da taxa de exportação, e os argentinos aproveitaram pra fechar contratos bilionários com a China. O problema é que Buenos Aires negocia ao mesmo tempo um swap de US$ 20 bilhões com Washington. Em outras palavras, pede dólar emprestado pros americanos enquanto abastece os chineses com soja, ferrando ainda mais os produtores americanos.

PLANTÃO RURAL

  • Funcafé bilionário. O Funcafé vai liberar R$ 7,18 bilhões pra safra 2025/26, 4% acima do ciclo passado. O fundo financia desde torrefadoras até agricultores familiares, com linhas pra recuperação de cafezais, capital de giro e pesquisa.

  • Cânhamo adiado. A Anvisa pediu mais 180 dias pro STJ regulamentar o plantio de cânhamo no Brasil. O tema é considerado complexo e a agência promete abrir consultas públicas em outubro.

  • MBRF investindo. A MBRF concluiu a compra de 32% da Gelprime, de gelatina e colágeno, por R$ 312,5 milhões, e chega a 50% da empresa em novembro. A operação reforça a estratégia de avançar em produtos de maior valor agregado. A Gelprime fatura cerca de R$ 170 milhões anuais com 9 mil toneladas processadas.

  • Agrogalaxy na corda bamba. Em recuperação judicial desde 2024, o Agrogalaxy adiou de novo a divulgação de resultados e pode pagar multa de R$ 500 por dia à CVM. O balanço do 2º trimestre só sai em 24 de outubro. Desde o início da crise, a empresa já postergou seis vezes seus demonstrativos financeiros.

  • Campanha consciente. A ABPA lançou o movimento “Uso Consciente, Futuro Sustentável” pra incentivar o uso responsável de antimicrobianos na produção de aves, suínos e ovos.

SE DIVERTE AÍ

Hoje a pedida é bandeira. O Flagle é tipo um Termo, mas em vez de palavras você precisa adivinhar o país pela bandeira. Cada chute revela partes do desenho e dá dicas até chegar na resposta.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Gengibre

Pergunta de hoje: Qual grão africano serviu de base para a dieta de faraós egípcios e até hoje é essencial na Etiópia e no Sudão?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

Keep Reading

No posts found