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Bom dia!

Hoje a xícara vem cheia de treta: teve navio de soja barrado na China por causa de trigo clandestino, produtor ralando com seca, granizo e janela apertada, carne brasileira ganhando espaço lá fora, canavial embalando açúcar e etanol, licenciamento ambiental reescrito no grito político, megaoperação em combustível, aviso sério sobre gripe aviária, encefalomielite equina batendo na porteira, Conab correndo pra garantir milho no semiárido e até cereja importada indo pro lixo pra proteger a fruticultura daqui.

Pra você acordar bem informado

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

MERCADO
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MDIA3 R$25,64 30,75%
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VALE3 R$66,33 22,27%
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Os dados são publicados por BCB e Brapi.
As variações são calculadas em YTD (Year to date)

DE OLHO NO PORTO

China barra carga de soja brasileira e coloca 5 plantas no banco de reserva

Foto: Divulgação

A China resolveu abrir o porão do navio Shine Ruby e achou um ingrediente surpresa na receita da soja brasileira. No meio das 69 mil toneladas de grão, apareceram 10 toneladas de trigo tratado com um defensivo que é proibido lá. Pra piorar, o Brasil nem tá autorizado a exportar trigo pros chineses. Bastou essa mistura indigesta pra carga ser cancelada e virar treta diplomática entre Pequim e Brasília.

E a história se desenrolou rápidão, com cinco unidades exportadoras do Brasil entrando na lista de suspensão chinesa, sendo duas da Cargill e uma da Louis Dreyfus e da CHS, em SP, além de uma da 3Tentos no RS. No papel, o baque é localizado, já que são cinco estabelecimentos num universo de mais de 2 mil habilitados pra mandar soja pra China. Na prática, as tradings agora correm pra remanejar origem, redirecionar navio e dar um jeito de manter os embarques em dia sem repetir a gafe do trigo clandestino.

Tudo isso rola enquanto a China faz equilíbrio de pratos entre Brasil e Estados Unidos. Mesmo depois de retomar compras pesadas de soja brasileira em 2025, os chineses acabaram de fechar algo entre 10 e 15 cargas americanas depois de uma ligação entre Donald Trump e Xi Jinping. O Ministério da Agricultura garante que a relação segue “sólida e estratégica” e lembra que o Brasil ainda deve embarcar mais de 100 milhões de toneladas de soja pra lá neste ano. Só que, depois desse susto no porão, qualquer grão fora do lugar corre risco de virar assunto de chanceler, não só de chefe de armazém.

NAS CABEÇAS DO AGRO

Soja 25/26 começa cheia de perrengue

A safra de soja 25/26 tá parecendo reality show de agro com prova de resistência climática. De um lado, produtor esperando chuva que não vem. Do outro, lavoura debaixo de granizo, vendaval e tornado. No meio do caminho, replantio espalhado pelo mapa, custo subindo e janela da safrinha ficando mais apertada que curral em dia de vacinação.

No Matopiba, o sul do Tocantins tá em alerta. Em Talismã, de 40 mil hectares de soja previstos, não tem nem 15% plantado. Foram uns 10 dias de seca, novembro somou só 108 mm de chuva e o pessoal da Defesa Civil fala que precisa de pelo menos 80 mm em sequência pra ter umidade decente no solo. Onde a semente já foi pro chão, tem soja que nem nasceu e planta que germinou e morreu amarelada, sequinha, sem falar das represas baixando de nível.

No Pará, o roteiro repete a palavra que nenhum produtor gosta de ouvir: atraso. A chuva veio bem picotada, em nuvem isolada, e obrigou muita gente a adiar o plantio e até refazer a área que já foi semeada. Tem até produtor prevendo começo oficial da semeadura só em 10 de dezembro. Nas previsões, as contas seguem bem otimistas. A Conab fala em safra de 4,864 milhões de toneladas, com 1,401 milhão de hectares e produtividade perto de 3,4 mil kg/h. Já a Safras & Mercado enxerga algo em torno de 4,188 milhões de toneladas numa área um pouco menor. Mas todo mundo sabe que esse número bonito de planilha só fecha se o céu resolver cooperar dentro do tempo.

No resto do país, a régua até ta andando, mas meio manca. A Conab calcula que 78% da área de soja já tá plantada, menos do que no mesmo período do ano passado. O atraso vem acompanhado de uma palavra que pesa no bolso e que tá ficando repetitiva nesse texto: replantio. Principalmente em Mato Grosso, Goiás e pedaços do Matopiba. Especialistas em custo lembram que refazer a lavoura nunca tá naquele cálculo inicial do orçamento e nem sempre entrega a mesma produtividade lá na frente, mesmo quando a planta se recupera bem.

O AGRO EM NÚMEROS

Carne em promoção nos EUA, cana acelerando e clima tirando o sono

Gif by DrRoots on Giphy

A carne bovina do Brasil tá entrando nos EUA com etiqueta de oferta. Com o fim da tarifa extra de 50% de Trump, o boi brasileiro chega a ser 16% mais barato que o americano no mercado de lá. Mesmo pagando ainda 26,4% da cota, nossa proteína tá reconquistando espaço num mercado que tá com o menor rebanho em décadas e fome de beef trimmings pros hambúrgueres e afins.

Enquanto o gado engata venda, a cana acelera marcha no Centro Sul. A StoneX tá prevendo uma moagem de 620,5 milhões de toneladas em 2026/27, alta de 3,6%, com TCH em 77,5 toneladas por hectare e área colhida acima de 8 milhões de hectares. A produção de açúcar deve bater 41,5 milhões de toneladas, segundo maior volume da história, e o etanol deve chegar a 36,1 bilhões de litros, puxado por 4 novas usinas de milho que somam 2,8 bilhões de litros de capacidade.

No mapa mental do produtor, quem virou VIP foi o clima. A pesquisa da ABMRA mostra que 86% dos agricultoresenxergam eventos extremos como risco direto pro bolso e pra lavoura nos próximos anos. Na prática, 72% dizem que já adotam técnicas pra usar melhor insumo e reduzir impacto ambiental, quase sempre com motivação bem pé no chão: 67% miram produtividade e 65% seguem recomendação técnica.

Mesmo assim, nem todo mundo consegue virar a chave no mesmo ritmo. Entre os que veem barreiras mais altas, 4% reclamam de custo, falta de informação ou medo de retorno fraco, e 27% apontam falta de assistência, crédito ou confiança nos resultados. O produtor tá convencido de que o clima mudou, mas ainda falta ponte entre discurso climático e planilha que fecha no fim do mês.

ASSUNTO DE GABINETE

Cadê o veto que tava aqui?

Foto: Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados

O Congresso resolveu mexer de vez no tabuleiro do licenciamento ambiental. Nesta quinta, deputados e senadores derrubaram 24 dos 63 vetos do presidente Lula (PT-SP) à Lei Geral do Licenciamento Ambiental, apelidado pelos ambientalistas de “PL da Devastação”, um texto que tava empacado há quase 20 anos em Brasília. Outros 28 vetos foram votados separadamente, um por vez, e também caíram, depois de muito empurra empurra entre governo e bancada do agro.

Quem comandou tudo foi o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que chamou o resultado de prova de maturidade institucional e fez questão de encher a bola da senadora Tereza Cristina (PP-MS), já que ela fez tudo andar puxando prosa com o Planalto, FPA e meio mundo pra evitar um toma lá, dá cá em público. Do lado ruralista, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion (Republicanos-PR), comemorou como vitória contra a burocracia que trava obra, dizendo que o texto garante desenvolvimento sem rasgar a pauta ambiental.

Na parte técnica, o relator da lei na Câmara, Zé Vitor (PL-MG), bateu o pé dizendo que licenciamento continua sendo gestão de risco: projeto pequeno, exigência menor, projeto grande, lupa bem maior. A diferença, segundo ele, é que agora o produtor e o investidor ganham regra mais clara, prazos definidos e menos carimbo perdido em gaveta. Os vetos ligados à Licença Ambiental Especial ficaram pra depois, amarrados à MP 1308, que ainda vai ser votada, mas o recado de hoje já foi dado: o Congresso quer licenciamento que funcione na prática, sem virar desculpa eterna pra obra parada.

DEU B.O.

Combustíveis sob investigação

A Operação Poço de Lobato desceu, ontem (27), pro porão do mercado de combustíveis e mirou o Grupo Fit, dono da refinaria Refit, velha conhecida da ANP. Receita Federal, MPs, fazendas estadual e municipal e até polícia de tudo quanto é lado saíram pra cumprir mais de 100 mandados em 6 estados, atrás de um esquema de sonegação e lavagem que já teria deixado mais de R$26 bilhões em dívida. Só em bloqueio já tem coisa perto de R$10 bilhões na mira, entre ações da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e do Estado de São Paulo.

Segundo a turma do fisco, o grupo virou campeão nacional de calote nos impostos e montou um quebra-cabeça com formuladoras, distribuidoras, postos, fundos de investimento e offshores em Delaware, que é tipo um paraíso fiscal dentro dos EUA. A investigação achou simulação de venda interestadual, uso de empresas ligadas entre si e um troca-troca de CNPJs pra escapar de regime especial e continuar empurrando combustível no mercado sem pagar o que deve.

A conta é tão grande que a Receita diz já ter rastreado mais de R$70 bilhões movimentados em 1 ano e pelo menos 15 offshores nos EUA ligadas ao grupo. O caso já tinha mexido com o setor um tempinho atrás. A ANP tinha travado tudo na Refit em setembro por suspeita de importação irregular e uns probleminhas operacionais.

RADAR SANITÁRIO

Gripe aviária pode ser pior que a Covid-19

Foto: Adobe

O Instituto Pasteur jogou luz em cima da gripe aviária e deixou meio mundo com a pulga atrás da orelha. A diretora médica do centro de infecções respiratórias, Marie Anne Rameix Welti, falou que o vírus H5 já tinha se espalhado entre aves e alguns mamíferos e que, se um dia aprende a passar de pessoa pra pessoa, pode causar uma pandemia ainda mais pesada que a Covid. O problema é que a humanidade acumulou anticorpos pra gripe comum H1 e H3, mas segue praticamente zerada contra o tal H5.

Os dados também não ajudaram a deixar o clima leve. No relatório mais recente, a OMS contabilizou quase 1.000 casos humanos de gripe aviária entre 2003 e 2025, principalmente em Egito, Indonésia e Vietnã, com 48% de mortalidade. Entrou na conta agora o primeiro caso humano de H5N5 nos EUA, em Washington, num paciente com outras doenças que acabou morrendo. Mesmo assim, os episódios seguiram ligados a contato bem direto com animal infectado, sem sinal de transmissão entre gente.

Do lado das entidades globais, o recado veio em tom mais frio que freezer de frigorífico. Gregorio Torres, da Organização Mundial de Saúde Animal, reforçou que o risco de uma pandemia de gripe aviária seguia baixo e que ninguém precisou parar de comer frango, ovo ou de caminhar na floresta. A diferença em relação a 2020 é que o mundo saiu da ingenuidade: já existiam vacinas candidatas prontas pra entrar na linha de produção, antivirais específicos estocados e protocolos de resposta muito mais ajeitados caso o H5 resolvesse, um dia, tentar carreira internacional entre humanos.

PLANTÃO RURAL

  • Cotribá busca fôlego na Justiça. Com dívida passando de R$1 bilhão e R$400 milhões vencendo agora em novembro, a cooperativa mais antiga do país pediu tutela cautelar em RS pra segurar bloqueio e enxurrada de cobrança. Já teve mercado com prateleira vazia e fábrica de ração rodando bem abaixo do potencial.

  • Milho público no socorro ao semiárido. A MP 1.325 liberou cerca de R$ 160 milhões pra Conab recomprar 83 mil toneladas de milho e reforçar estoque. O grão vai direto pra pequenos criadores do semiárido nordestino, que tão sofrendo com seca pesada e ração cada vez mais cara no cocho.

  • Encefalomielite equina ligou sirene no piquete. Casos fatais no RS reacenderam o medo de uma doença neurológica com letalidade acima de 70%. Em época de chuva e mosquito demais, o recado pros criadores é simples: vacina em dia, nada de água parada, higiene caprichada nas baias e manejo pensando na sanidade antes do prejuízo.

  • Cereja chilena virou caso de polícia fitossanitária. Mais de 1 tonelada da fruta foi destruída em Guarulhos depois que o Vigiagro achou o falso ácaro vermelho Brevipalpus chilensis. A praga ataca uva, citros e outras dezenas de espécies. Melhor perder cereja importada do que ganhar dor de cabeça nos parreirais brasileiros.

SE DIVERTE AÍ

A missão de hoje é rodar o mundo rural sem sair da cadeira: abre o GeoGuessr, escolhe um mapa e deixa o jogo te largar no meio de uma estradinha perdida qualquer. A graça tá em usar olho de campo pra chutar onde cê caiu, olhando tipo de cerca, lavoura no fundo, placa torta na beira da estrada e até cor de terra.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Cacau

Pergunta de hoje: Qual leguminosa rotacionada com cana em São Paulo ajuda a melhorar solo e renda entre cortes?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

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