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Bom dia!
O agro ta agitado hein. Teve decisão histórica no Cade sobre a soja amazônica, pressão de tarifa que deixou o café mais caro pros americanos e movimentos que vão do cânhamo ao etanol. Na frente internacional, o agro brasileiro já se articula para a COP 30 e a Minerva reorganiza seu jogo financeiro.
Pra você acordar bem informado.
Por Enrico Romanelli
TÁ QUANTO?
Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).
Ibovespa fecha mês estável, mas com recordes. O índice subiu 3,4% no acumulado do mês e cravou uma nova máxima intradia de 147.578 pontos.
ASSUNTO DE GABINETE
Cade põe data de validade na Moratória da Soja
O Cade bateu o martelo e botou data de vencimento na Moratória da Soja. O acordo, que barra grãos de áreas desmatadas na Amazônia depois de 2008, segue até 31 de dezembro de 2025 e cai fora em 1º de janeiro de 2026. A contagem regressiva já começou e os dois lados saíram comemorando como se tivesse levado o troféu.
De um lado, produtores rurais e entidades, como Aprosoja-MT e CNA, festejaram o começo do fim do pacto, falando que a Moratória mais atrapalha do que ajuda, e dizendo que ela prejudica a competitividade e representa uma intervenção das tradings, em sua maioria gringas, no mercado brasileiro. Para eles, soja produzida dentro da lei não deveria ser barrada por regras privadas importadas.
Do outro, indústrias e órgãos públicos puxaram o coro afirmando que o pacto foi decisivo pra segurar o desmatamento e manter a imagem verde do agro brasileiro. O Ibama e a AGU lembraram que, nesses quase 20 anos, a produção de soja na região cresceu mais de 400% e o desmatamento caiu pela metade. Eles ainda tão dizendo que jogar essa carta fora põe em risco a credibilidade internacional do agro brasileiro.
No plenário do Cade, o debate foi quente. O relator Carlos Jacques defendeu o fim imediato do acordo, mas a maioria preferiu manter até dezembro. O presidente do órgão, Gustavo Augusto, reforçou que a decisão é do Brasil e não de multinacional estrangeira regulando soja.
Agora a disputa segue em outras arenas. STF, Ministério Público e até protocolos regionais, como o que já roda no Pará, prometem disputar os rumos da soja amazônica. Até lá, a Moratória continua em campo, mas com prazo de validade carimbado.
NAS CABEÇAS DO AGRO
Cânhamo: commodity ou tabu?

Foto: Pixabay
Produtores de seis Estados já estão afiando a enxada pra testar a produção de cânhamo industrial em 2026. A planta é da família da Cannabis, mas não adianta achar que vai deixar chapado, o THC é baixíssimo e o foco é fibra, alimento e rotação com soja, milho, algodão e cana. Falta só a canetada da Anvisa, que o STJ cobrou pra ontem, literalmente.
Enquanto isso, quem defende o cultivo diz que o cânhamo pode abastecer 21 setores, da construção civil à ração animal, e movimentar até US$ 100 bi no mundo em 2026. Já tá rolando até missão técnica no Paraguai, que saiu na frente nesse mercado e hoje exporta legalmente o que aqui ainda patina na burocracia.
O nó técnico tá no limite de 0,3% de THC, considerado inviável no nosso solzão tropical. Pesquisadores da Embrapa e startups defendem subir a régua pra até 2%. Nesse meio tempo, o Brasil discute se cânhamo é tabu ou commodity.
O AGRO EM NÚMEROS
Bioinsumos se multiplicam e número de empresas cresce 662% em 10 anos

Foto: Freepik
O enxofre anda valendo ouro nos portos brasileiros, teve uma alta de 90% desde janeiro, voltando aos níveis da época do pico da guerra Rússia-Ucrânia. A conta vem da combinação de China e Índia comprando sem freio e oferta global curta. O Brasil já importou 1,6 milhão de toneladas neste ano e a conta pesa no bolso de quem fabrica e de quem planta.
Enquanto isso, o interior paulista virou vitrine de hectare de luxo, com as terras rurais mais caras do país. Campinas lidera com R$ 332 mil, seguida por Franca (R$ 296 mil) e Avaré (R$ 139 mil). Ao todo, são R$ 65 bilhões em propriedades à venda.
No comércio internacional, o amendoim brasileiro entrou no jogo e deu chapéu nos EUA. Entre janeiro e agosto, as exportações tupiniquins para a China saltaram 6.000%, chegando a 37,8 mil toneladas, enquanto os americanos viram seus embarques caírem quase pela metade. No óleo de amendoim, o Brasil também brilhou, vendendo 95,7 mil toneladas, alta de 347%.
Nos bioinsumos, a curva é de foguete: em dez anos, o número de empresas no setor cresceu 662%. Adoção subindo, área tratada batendo 156 milhões de hectares e Brasil apontado como motor de 20% da expansão global até 2030. O agro biológico deixou de ser promessa e já tá virando negócio de gente grande.
Nos grãos, a safra 25/26 sai da largada acelerando firme. Soja já plantada em 3,5% da área, milho verão em 26,7% e arroz patinando com 7,2%. O trigo foi colhido em 26%, mas com atraso e, de quebra, o Brasil deve importar 7 milhões de toneladas em 2025, maior volume desde 2013, com a Argentina pronta pra faturar em cima.
NA CANETADA
PL paulista coloca pesquisa agro em risco

Foto: Adobe Stock
O banco de germoplasma de mandioca do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) completa 90 anos em 2025 com mais de 1,6 mil variedades catalogadas e um baita peso histórico no prato e na ciência. Mas a festa pode virar velório: o Projeto de Lei Complementar 9/2025, em votação na Alesp, ameaça cortar benefícios e mexer na autonomia dos pesquisadores.
A proposta, de autoria do governo paulista, extingue o regime de tempo integral como é hoje, corta gratificações e troca a comissão que avalia a carreira científica por um colegiado indicado pelo governador. Para a Associação dos Pesquisadores Científicos, o risco é direto: sem independência, coleções que garantem a variabilidade genética, como a mandioca que salvou a farinha na Segunda Guerra ou a IAC 576-70, com polpa amarela e betacaroteno, podem perder força e até desaparecer.
E não é só a mandioca que balança. O IAC também guarda bancos de café, cana, citros, amendoim, feijão, milho e até hortaliças. Outros institutos cuidam de raças animais, microrganismos e herbários estratégicos. Todos patrimônios científicos que sustentam a agricultura brasileira diante de pragas, doenças e mudanças climáticas. Pesquisadores falam em retrocesso irreparável caso a autonomia vá pro saco.
Do lado oficial, a Secretaria de Agricultura defende que o projeto “moderniza” a carreira, com reajuste salarial nos níveis iniciais e possibilidade de manter o regime atual. Mas não respondeu sobre o que vai ser do acervo genético que fez de São Paulo referência mundial em pesquisa agro.
COLHENDO CAPITAL
Café caro demais pro bolso americano
O cafezinho do americano anda saindo caro pra caramba. O preço do grão disparou quase 40% em um ano e as tarifas sobre importações do Brasil e do Vietnã só botam mais fogo na chaleira. O consumo diário de café nos EUA já passa das 3 xícaras por adulto, ou seja, qualquer centavo a mais pesa no bolso e no humor da galera.
No embalo da revolta, dois deputados, Don Bacon (republicano) e Ro Khanna (democrata), lançaram o projeto “No Coffee Tax Act” pra cortar as tarifas já. A narrativa vem pronta, um “Boston Tea Party versão café”. Se em 1773 os colonos jogaram chá no mar e abriram caminho pra independência, agora a faísca pode estar na xícara fumegante que move 70% dos adultos americanos todos os dias.
Por enquanto, a Casa Branca mantém a taxação em até 50%. A queda de braço sobre quem tem a caneta nessa pauta, presidente ou Congresso, chega à Suprema Corte em novembro. Mas se o lobby das cafeterias que gira US$ 68 bilhões por ano fizer barulho, a revolução pode vir antes. Tão cutucando onça com vara curta.
SAFRA DE CIFRAS
Aluga-se abelhas

Foto: Divulgação | RAR Agro & Indústria
O aluguel de abelhas pode até parecer roteiro de desenho animado, mas em Vacaria (RS) é coisa séria. Para a safra de maçãs de 2025, a Rasip Agro vai soltar nada menos que 300 milhões de abelhas em 1,5 mil hectares de pomares. Serão 5,5 mil colmeias alugadas só pra dar aquele reforço na polinização.
A lógica é simples e poderosa: mais abelhas na área, mais flores fecundadas, mais maçãs bonitinhas, uniformes e com bom calibre pra brigar no mercado. Cada hectare recebe em média cinco colmeias, e as operárias trabalham no ritmo certo da florada, sem precisar de polinização artificial.
A prática já virou tendência entre fruticultores: empresas especializadas levam as colmeias pro pomar, monitoram a saúde das colônias e garantem que o serviço seja feito com precisão suíça. O resultado é mais produtividade, fruta de melhor qualidade e um empurrão no manejo sustentável, já que o pomar ganha equilíbrio natural sem depender tanto de métodos artificiais.
PLANTÃO RURAL
FPA trava a taxação das LCAs. A Frente do Agro manteve o “não” à MP 1303/2025. Lupion disse que 7,5% é impossível e 5% também não passa. A votação da comissão mista ficou para 2 de outubro. O lobby é por manter a LCA como porto seguro do funding rural.
Usina centenária mira milho e biometano. A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná estuda construir uma planta de etanol de milho ao lado da Usina Jussara, com capacidade para processar 120 mil toneladas por safra, e uma unidade de biometano. A energia da cogeração de bagaço pode abastecer a nova operação. Parcerias com produtores e Cocamar estão na mesa.
IA contra a lagarta-do-cartucho. A Embrapa integrou câmeras e algoritmos para detectar lagartas no milho, em folha e espiga, por estágio. Menos “olhômetro”, mais precisão no manejo de uma praga que pode tirar até 70% da produção quando explode no talhão.
A ovelha do futuro já tá no curral. Um projeto da Embrapa Pecuária Sul seleciona genética de ovelhas para maior rendimento de carcaça, partos múltiplos, resistência a verminoses e perda espontânea de lã. O objetivo é dobrar a eficiência da ovinocultura de corte e reduzir os custos com tosquias e vermífugos.
2026 pode ser o ano do etanol barato. Com os preços internacionais do açúcar pressionados, as usinas tendem a destinar mais cana ao biocombustível. O Itaú BBA projeta um aumento de quase 6 bilhões de litros na oferta total e uma queda próxima de 10% no preço do hidratado. A expansão do etanol de milho adiciona volume e aperta as margens.
Minerva troca a compra no Uruguai por desalavancagem. Após o veto antitruste, os cerca de R$ 750 milhões que iam ser usados pra comprar as três plantas uruguaias da Marfrig vão ser usados pra reduzir a dívida da Minerva. A companhia projeta Ebitda de R$ 4,75 a R$ 5,2 bilhões em 2025 e alavancagem abaixo de 2,8 vez no fim do ano.
Pacote da agricultura familiar sai do papel. O presidente Lula sancionou novas normas que transformam o Pronaf e o Plano Safra da Agricultura Familiar em políticas de Estado, ampliam de 30% para 45% a obrigação de compras do PNAE e priorizam o PAA em situações de emergência. O governo também instituiu políticas contra perdas e desperdícios e reforçou o sistema nacional de segurança alimentar.
SE DIVERTE AÍ
Se acha bom de geografia e comércio internacional, o Tradle é a pedida. O jogo é tipo o Wordle, mas em vez de palavras você tem que adivinhar o país pelo seu perfil de exportações. A cada chute, o game mostra o quanto você tá perto do destino certo.
VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Gengibre
Pergunta de hoje: Qual grão africano serviu de base para a dieta de faraós egípcios e até hoje é essencial na Etiópia e no Sudão?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!


