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Bom dia!

O agro ta agitado hein. Teve decisão histórica no Cade sobre a soja amazônica, pressão de tarifa que deixou o café mais caro pros americanos e movimentos que vão do cânhamo ao etanol. Na frente internacional, o agro brasileiro já se articula para a COP 30 e a Minerva reorganiza seu jogo financeiro.

Pra você acordar bem informado.

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

COMMODITIES
Açúcar (Saca 50kg) R$117,33 -26,65%
Algodão (Centavos R$/LP) 365,52 -12,95%
Arroz (Saca 50kg) R$60,03 -39,45%
Boi gordo (Arroba 15kg) R$304,10 -5,43%
Café Arábica (Saca 60kg) R$2.127,50 -5,10%
Etanol anidro (Litro) R$3,1184 2,79%
Milho (Saca 60kg) R$64,26 -11,90%
Soja (Saca 60kg) R$133,62 -3,82%
Trigo (Tonelada) R$1.260,87 -9,51%

Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).

  • Ibovespa fecha mês estável, mas com recordes. O índice subiu 3,4% no acumulado do mês e cravou uma nova máxima intradia de 147.578 pontos.

ASSUNTO DE GABINETE

Cade põe data de validade na Moratória da Soja

O Cade bateu o martelo e botou data de vencimento na Moratória da Soja. O acordo, que barra grãos de áreas desmatadas na Amazônia depois de 2008, segue até 31 de dezembro de 2025 e cai fora em 1º de janeiro de 2026. A contagem regressiva já começou e os dois lados saíram comemorando como se tivesse levado o troféu.

De um lado, produtores rurais e entidades, como Aprosoja-MT e CNA, festejaram o começo do fim do pacto, falando que a Moratória mais atrapalha do que ajuda, e dizendo que ela prejudica a competitividade e representa uma intervenção das tradings, em sua maioria gringas, no mercado brasileiro. Para eles, soja produzida dentro da lei não deveria ser barrada por regras privadas importadas.

Do outro, indústrias e órgãos públicos puxaram o coro afirmando que o pacto foi decisivo pra segurar o desmatamento e manter a imagem verde do agro brasileiro. O Ibama e a AGU lembraram que, nesses quase 20 anos, a produção de soja na região cresceu mais de 400% e o desmatamento caiu pela metade. Eles ainda tão dizendo que jogar essa carta fora põe em risco a credibilidade internacional do agro brasileiro.

No plenário do Cade, o debate foi quente. O relator Carlos Jacques defendeu o fim imediato do acordo, mas a maioria preferiu manter até dezembro. O presidente do órgão, Gustavo Augusto, reforçou que a decisão é do Brasil e não de multinacional estrangeira regulando soja.

Agora a disputa segue em outras arenas. STF, Ministério Público e até protocolos regionais, como o que já roda no Pará, prometem disputar os rumos da soja amazônica. Até lá, a Moratória continua em campo, mas com prazo de validade carimbado.

NAS CABEÇAS DO AGRO

Cânhamo: commodity ou tabu?

Foto: Pixabay

Produtores de seis Estados já estão afiando a enxada pra testar a produção de cânhamo industrial em 2026. A planta é da família da Cannabis, mas não adianta achar que vai deixar chapado, o THC é baixíssimo e o foco é fibra, alimento e rotação com soja, milho, algodão e cana. Falta só a canetada da Anvisa, que o STJ cobrou pra ontem, literalmente.

Enquanto isso, quem defende o cultivo diz que o cânhamo pode abastecer 21 setores, da construção civil à ração animal, e movimentar até US$ 100 bi no mundo em 2026. Já tá rolando até missão técnica no Paraguai, que saiu na frente nesse mercado e hoje exporta legalmente o que aqui ainda patina na burocracia.

O nó técnico tá no limite de 0,3% de THC, considerado inviável no nosso solzão tropical. Pesquisadores da Embrapa e startups defendem subir a régua pra até 2%. Nesse meio tempo, o Brasil discute se cânhamo é tabu ou commodity.

O AGRO EM NÚMEROS

Bioinsumos se multiplicam e número de empresas cresce 662% em 10 anos

Foto: Freepik

O enxofre anda valendo ouro nos portos brasileiros, teve uma alta de 90% desde janeiro, voltando aos níveis da época do pico da guerra Rússia-Ucrânia. A conta vem da combinação de China e Índia comprando sem freio e oferta global curta. O Brasil já importou 1,6 milhão de toneladas neste ano e a conta pesa no bolso de quem fabrica e de quem planta.

Enquanto isso, o interior paulista virou vitrine de hectare de luxo, com as terras rurais mais caras do país. Campinas lidera com R$ 332 mil, seguida por Franca (R$ 296 mil) e Avaré (R$ 139 mil). Ao todo, são R$ 65 bilhões em propriedades à venda.

No comércio internacional, o amendoim brasileiro entrou no jogo e deu chapéu nos EUA. Entre janeiro e agosto, as exportações tupiniquins para a China saltaram 6.000%, chegando a 37,8 mil toneladas, enquanto os americanos viram seus embarques caírem quase pela metade. No óleo de amendoim, o Brasil também brilhou, vendendo 95,7 mil toneladas, alta de 347%.

Nos bioinsumos, a curva é de foguete: em dez anos, o número de empresas no setor cresceu 662%. Adoção subindo, área tratada batendo 156 milhões de hectares e Brasil apontado como motor de 20% da expansão global até 2030. O agro biológico deixou de ser promessa e já tá virando negócio de gente grande.

Nos grãos, a safra 25/26 sai da largada acelerando firme. Soja já plantada em 3,5% da área, milho verão em 26,7% e arroz patinando com 7,2%. O trigo foi colhido em 26%, mas com atraso e, de quebra, o Brasil deve importar 7 milhões de toneladas em 2025, maior volume desde 2013, com a Argentina pronta pra faturar em cima.

NA CANETADA

PL paulista coloca pesquisa agro em risco

Foto: Adobe Stock

O banco de germoplasma de mandioca do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) completa 90 anos em 2025 com mais de 1,6 mil variedades catalogadas e um baita peso histórico no prato e na ciência. Mas a festa pode virar velório: o Projeto de Lei Complementar 9/2025, em votação na Alesp, ameaça cortar benefícios e mexer na autonomia dos pesquisadores.

A proposta, de autoria do governo paulista, extingue o regime de tempo integral como é hoje, corta gratificações e troca a comissão que avalia a carreira científica por um colegiado indicado pelo governador. Para a Associação dos Pesquisadores Científicos, o risco é direto: sem independência, coleções que garantem a variabilidade genética, como a mandioca que salvou a farinha na Segunda Guerra ou a IAC 576-70, com polpa amarela e betacaroteno, podem perder força e até desaparecer.

E não é só a mandioca que balança. O IAC também guarda bancos de café, cana, citros, amendoim, feijão, milho e até hortaliças. Outros institutos cuidam de raças animais, microrganismos e herbários estratégicos. Todos patrimônios científicos que sustentam a agricultura brasileira diante de pragas, doenças e mudanças climáticas. Pesquisadores falam em retrocesso irreparável caso a autonomia vá pro saco.

Do lado oficial, a Secretaria de Agricultura defende que o projeto “moderniza” a carreira, com reajuste salarial nos níveis iniciais e possibilidade de manter o regime atual. Mas não respondeu sobre o que vai ser do acervo genético que fez de São Paulo referência mundial em pesquisa agro.

COLHENDO CAPITAL

Café caro demais pro bolso americano

O cafezinho do americano anda saindo caro pra caramba. O preço do grão disparou quase 40% em um ano e as tarifas sobre importações do Brasil e do Vietnã só botam mais fogo na chaleira. O consumo diário de café nos EUA já passa das 3 xícaras por adulto, ou seja, qualquer centavo a mais pesa no bolso e no humor da galera.

No embalo da revolta, dois deputados, Don Bacon (republicano) e Ro Khanna (democrata), lançaram o projeto “No Coffee Tax Act” pra cortar as tarifas já. A narrativa vem pronta, um “Boston Tea Party versão café”. Se em 1773 os colonos jogaram chá no mar e abriram caminho pra independência, agora a faísca pode estar na xícara fumegante que move 70% dos adultos americanos todos os dias.

Por enquanto, a Casa Branca mantém a taxação em até 50%. A queda de braço sobre quem tem a caneta nessa pauta, presidente ou Congresso, chega à Suprema Corte em novembro. Mas se o lobby das cafeterias que gira US$ 68 bilhões por ano fizer barulho, a revolução pode vir antes. Tão cutucando onça com vara curta.

SAFRA DE CIFRAS

Aluga-se abelhas

Foto: Divulgação | RAR Agro & Indústria

O aluguel de abelhas pode até parecer roteiro de desenho animado, mas em Vacaria (RS) é coisa séria. Para a safra de maçãs de 2025, a Rasip Agro vai soltar nada menos que 300 milhões de abelhas em 1,5 mil hectares de pomares. Serão 5,5 mil colmeias alugadas só pra dar aquele reforço na polinização.

A lógica é simples e poderosa: mais abelhas na área, mais flores fecundadas, mais maçãs bonitinhas, uniformes e com bom calibre pra brigar no mercado. Cada hectare recebe em média cinco colmeias, e as operárias trabalham no ritmo certo da florada, sem precisar de polinização artificial.

A prática já virou tendência entre fruticultores: empresas especializadas levam as colmeias pro pomar, monitoram a saúde das colônias e garantem que o serviço seja feito com precisão suíça. O resultado é mais produtividade, fruta de melhor qualidade e um empurrão no manejo sustentável, já que o pomar ganha equilíbrio natural sem depender tanto de métodos artificiais.

PLANTÃO RURAL

  • FPA trava a taxação das LCAs. A Frente do Agro manteve o “não” à MP 1303/2025. Lupion disse que 7,5% é impossível e 5% também não passa. A votação da comissão mista ficou para 2 de outubro. O lobby é por manter a LCA como porto seguro do funding rural.

  • Usina centenária mira milho e biometano. A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná estuda construir uma planta de etanol de milho ao lado da Usina Jussara, com capacidade para processar 120 mil toneladas por safra, e uma unidade de biometano. A energia da cogeração de bagaço pode abastecer a nova operação. Parcerias com produtores e Cocamar estão na mesa.

  • IA contra a lagarta-do-cartucho. A Embrapa integrou câmeras e algoritmos para detectar lagartas no milho, em folha e espiga, por estágio. Menos “olhômetro”, mais precisão no manejo de uma praga que pode tirar até 70% da produção quando explode no talhão.

  • A ovelha do futuro já tá no curral. Um projeto da Embrapa Pecuária Sul seleciona genética de ovelhas para maior rendimento de carcaça, partos múltiplos, resistência a verminoses e perda espontânea de lã. O objetivo é dobrar a eficiência da ovinocultura de corte e reduzir os custos com tosquias e vermífugos.

  • 2026 pode ser o ano do etanol barato. Com os preços internacionais do açúcar pressionados, as usinas tendem a destinar mais cana ao biocombustível. O Itaú BBA projeta um aumento de quase 6 bilhões de litros na oferta total e uma queda próxima de 10% no preço do hidratado. A expansão do etanol de milho adiciona volume e aperta as margens.

  • Minerva troca a compra no Uruguai por desalavancagem. Após o veto antitruste, os cerca de R$ 750 milhões que iam ser usados pra comprar as três plantas uruguaias da Marfrig vão ser usados pra reduzir a dívida da Minerva. A companhia projeta Ebitda de R$ 4,75 a R$ 5,2 bilhões em 2025 e alavancagem abaixo de 2,8 vez no fim do ano.

  • Pacote da agricultura familiar sai do papel. O presidente Lula sancionou novas normas que transformam o Pronaf e o Plano Safra da Agricultura Familiar em políticas de Estado, ampliam de 30% para 45% a obrigação de compras do PNAE e priorizam o PAA em situações de emergência. O governo também instituiu políticas contra perdas e desperdícios e reforçou o sistema nacional de segurança alimentar.

SE DIVERTE AÍ

Se acha bom de geografia e comércio internacional, o Tradle é a pedida. O jogo é tipo o Wordle, mas em vez de palavras você tem que adivinhar o país pelo seu perfil de exportações. A cada chute, o game mostra o quanto você tá perto do destino certo.

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Gengibre

Pergunta de hoje: Qual grão africano serviu de base para a dieta de faraós egípcios e até hoje é essencial na Etiópia e no Sudão?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

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