APRESENTADO POR


Bom dia!

O Brasil carimbou mais um passaporte no comércio global com o acordo Mercosul-EFTA. No campo, os bioinsumos mostram fôlego e podem desbancar os químicos até 2050, enquanto a Petrobras reaquece as fábricas de fertilizantes no Nordeste. A Mosaic abriu vagas de estágio técnico, a JBS mira aquisições na Europa e até o caroço de açaí virou um tipo de café.

Também tem:
• Recuperação judicial bilionária da Rech Tratores
• Agricultura biossalina dando água nova ao Semiárido
• Deportações ameaçando cadeia da carne nos EUA

Tudo que mexe com o agro, servido do seu jeito.

Por Enrico Romanelli

TÁ QUANTO?

COMMODITIES
Açúcar (Saca 50kg) R$117,99 -26,24%
Algodão (Centavos R$/LP) 365,21 -13,02%
Arroz (Saca 50kg) R$62,94 -36,51%
Boi gordo (Arroba 15kg) R$307,05 -4,51%
Café Arábica (Saca 60kg) R$2.358,64 5,21%
Etanol anidro (Litro) R$3,2746 7,93%
Milho (Saca 60kg) R$65,19 -10,63%
Soja (Saca 60kg) R$140,18 0,90%
Trigo (Tonelada) R$1.371,39 -1,58%

Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).

ASSUNTO DE GABINETE

Toc-toc, é o Mercosul

Foto: Adobe Stock

O Brasil carimbou ontem (16) mais um passaporte no comércio global. Foi assinado no Rio de Janeiro o acordo de livre comércio entre Mercosul e EFTA, um bloco econômico que reúne Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Agora, 99% das exportações brasileiras que pra lá vão circular sem tarifas, abrindo porteiras em mercados cheios de bufunfa.

A jogada interessa, e muito, ao agro. Carnes bovina, de frango e suína, café torrado, frutas como banana, uva e melão, além de sucos, arroz e até mel entram na lista de produtos que vão entrar por lá na faixa. Até o famoso “prelisting” de inspeções foi incluído, agilizando a liberação de cargas de origem animal. O acordo ainda garante proteção a 63 indicações geográficas nacionais, reforçando a marca do made in Brasil lá no exterior.

Os dois blocos juntos somam quase 300 milhões de consumidores e um PIB de mais de US$ 4,3 trilhões. Só em 2024, o comércio entre Brasil e EFTA movimentou US$ 7,1 bilhões. Agora, com o tratado, o governo calcula um aumento de pelo menos US$ 7,2 bilhões nas trocas entre os blocos.

E não é só isso: a assinatura com a EFTA se soma a outros trunfos recentes, como os acordos com Singapura e União Europeia. No total, o Brasil ampliou em 152% a fatia do comércio coberta por preferências tarifárias desde 2023.

As conversas começaram em 2017 e só agora saíram do papel. Foram anos de ajustes em temas como serviços, investimentos, compras públicas e sustentabilidade. Com o tratado assinado, falta só a etapa de ratificação nos parlamentos. Depois desse acordo, a bola da vez tá com a União Europeia, e o Brasil quer carimbar mais um passaporte pra colocar o agro no mapa europeu de vez.

ATUALIZAÇÃO NO CAMPO

Chatbots com sotaque rural

GIF: Giphy

A inteligência artificial invadiu a roça de vez e agora até o WhatsApp do produtor ganhou companhia. A Embrapa lançou o RAImundo, um assistente que responde dúvida sobre pragas, lê foto de lavoura e até pega sotaque da região. Já são seis mil produtores testando esse braço digital no dia a dia do campo.

A Syngenta botou a IA no Cropwise Balance: o produtor manda áudio no zap, a máquina entende, atualiza estoque, calcula custo por talhão e gera relatórios sem ninguém precisar abrir planilha. É tipo ter um estagiário que não pede férias nem esquece de anotar nada.

Já a Grão Direto criou o AIrton, consultor virtual que negocia preço de grãos, acompanha mercado e ainda manda áudio com análise pronta. O que antes era privilégio de produtor gigante, agora chega no celular de qualquer um. Só não dá pra esquecer: até a IA mais sabida ainda não substitui a visita do agrônomo.

RADAR DO AGRO

Bioinsumos crescem 15% ao ano e podem superar químicos até 2050

Foto: CrofpLife

Os bioinsumos tão numa alta tão grande que nem dá pra chamar mais de promessa. O setor cresce 15% ao ano e, se o ritmo continuar, vai passar os químicos até 2050. No O Siconbiol, em Gramado, virou vitrine dessa virada verde, com 1.400 pesquisadores e até homenagem a quem ajudou a abrir essa porteira científica

Enquanto a biologia vira protagonista, o agro mostra também sua força em gente. Em julho, o setor puxou a fila do emprego no Brasil, abrindo 206 mil vagas e ajudando a derrubar o desemprego pra 5,6%, o menor nível desde 2012. O campo não só sustenta o PIB como também ajuda a encher as carteiras.

Só que nem tudo são flores . A inadimplência no campo dobrou em três anos e agora ronda os 4%. Nos bancos públicos, como o BB, os atrasos chegam a 6,3%. Entre os produtores, o discurso é claro: a conta não fecha com juros altos, fertilizante caro e preço da saca caindo, sem falar dos prejuízos de produtividade por culpa do clima.

E o aperto já aparece nas estatísticas. A soja, carro-chefe da lavoura, viu a margem de lucro despencar pela metade nos últimos quatro anos. Custos altos, preços mais baixos e produtividade menor espremem o caixa do produtor, especialmente quem depende de arrendamento ou financiamento pesado.

Pra completar, até as tradings ajustaram as expectativas. A Abiove revisou pra baixo a receita das exportações do complexo soja em 2025: US$ 53,1 bilhões, 1,5% menos que no ano passado. O grão em si ainda deve render recorde em volume, mas com preço menor e farelo perdendo força. O óleo é a exceção, com previsão de alta nas cotações e receita.

MENTES QUE GERMINAM

Berço de porquinho

Foto: Canva/Creative Commons

Antes de parir, as porcas gostam de montar o seu quartinho da maternidade, juntando galhos e capim em um cantinho, pra ficar mais aconchegante. Só que no sistema atual de produção, isso não rola: ela fica presa e sem chance de seguir o instinto. Foi daí que surgiu a ideia da startup Nerthus: criar um ninho artificial biodegradável, feito com bagaço de cana e polpa cítrica.

O material parece galho, mas se desmancha em contato com a água, evitando entupir biodigestores e esgoto, ao contrário de palha ou feno. A porca pode puxar, morder e espalhar pela baia do jeito que quiser. O resultado são partos até 30% mais rápidos, menos estresse e leitões mais pesados.

A invenção, desenvolvida com apoio da Fapesp, dura até 48 horas, tempo suficiente pra ela expressar o instinto, liberar hormônios como ocitocina e prolactina e garantir mais sobrevivência pros filhotes. Um simples “galhinho fake” que faz a diferença no bem-estar do animal e no bolso do produtor.

NAS CABEÇAS DO AGRO

Deixa eu passar um açaí quentinho aqui procê

Foto: Canva/Creative Commons

O Brasil acaba de inventar mais um jeito curioso de tomar café: sem café. O chamado “café de açaí” é feito com caroço seco, torrado e moído da fruta amazônica e já começa a ganhar espaço aqui e lá fora. Além de dar destino nobre a toneladas de resíduos que antes iam pro lixo, a bebida é rica em fibras, antioxidantes e vitaminas. Sem cafeína, mas com aquele ar de novidade que dá gosto de contar.

Em Macapá, o casal Valda e Lázaro Gonçalves transformou o incômodo dos caroços jogados na rua em negócio. Hoje, a Engenho Café de Açaí exporta pra gringo e negocia contrato até com os Emirados Árabes, enquanto pesquisadores testam versões em cápsula e blends com café e cacau. Tudo isso sem uma gota de cafeína, mas com gosto amargo e pegada funcional.

E o boom pegou. Tem produtor em Sergipe apostando na bebida depois de anos de teste. No começo, o gosto lembrava Novalgina. Agora, a safra promete até cappuccino gelado de açaí. Será que vem aí o novo hype da gastronomia nacional?

PAUTA VERDE

Filtro de arroto milionário

Foto: AgFeed

O metano dos bois virou alvo de laboratório e de cheque gordo. A startup americana-dinamarquesa Ambient Carbon criou o Meps, um “exaustor” que usa luz UV pra decompor o gás nos currais, prometendo cortar até 90% das emissões. A ideia já conquistou gigantes como Danone, Arla Foods e Mars, de olho em leite e carne com pegada mais limpa.

O trambolho é um cilindro de 12 metros que suga o ar do curral, quebra o metano em água e CO₂, elimina amônia e até odores. De quebra, ainda gera fertilizante verde pros produtores. A diferença pros aditivos misturados na ração é que aqui a vaca não precisa engolir nada: o filtro trabalha sozinho, sem mudar sabor ou produção de leite.

O custo, claro, não é de troco: US$ 250 mil por instalação (R$ 1,3 milhão). A Ambient jura que a conta se paga em até cinco anos, se o produtor cobrar centavinhos a mais pelo leite de baixo carbono. Na Europa e nos EUA, parte do investimento tem sido dividida entre produtores, indústrias e até varejistas. Agora, o Brasil pode ser o próximo da fila, e já tem gigante da indústria sondando a novidade.

PLANTÃO RURAL

  • Procura-se estagiário. A Mosaic abriu inscrições para o programa de estágio técnico remunerado, com vagas em operações de MG, PR, SE, SP e BA. Os cursos vão de automação a mineração, química e segurança do trabalho. As inscrições são pelo CIEE e vão até 3 de novembro.

  • ANP quer taxa para fiscalizar combustíveis. A agência de petróleo e biocombustíveis cansou de caçar bandido no fiado. Quer criar uma taxa de fiscalização pra bancar operações como a Carbono Oculto e encher o caixa de um fundo próprio. Sem reforço, a ANP diz que a torneira da fiscalização seca em 2026.

  • Brasil assina embaixo do Tratado de Budapeste. Com a adesão ao Tratado de Budapeste, pesquisadores e empresas não vão mais precisar gastar uma fortuna no exterior pra registrar microrganismos. Agora, instituições nacionais podem virar depositárias, reduzindo custos e acelerando patentes de bioinsumos.

  • Sal da Terra aposta em agricultura biossalina. A Embrapa lançou projeto de agricultura biossalina pra transformar água salobra em produção de comida, forragem, tilápia e até microalga. Serão R$ 20 milhões pra mostrar que dá pra colher mesmo onde o sal tenta secar o campo.

  • Santa Mônica em recuperação judicial. A Justiça aprovou a recuperação judicial da Agropecuária Santa Mônica, do Grupo Marques, que carrega R$ 43 milhões em dívidas. O plano único será apresentado à assembleia de credores, enquanto as operações seguem protegidas.

  • JBS mira na Europa. Com a listagem em NY reduzindo o custo de capital, a companhia vê um mercado fragmentado e cheio de oportunidades. No Brasil e nos EUA, as compras ficam limitadas pelas regras de concentração.

  • Deportações ameaçam cadeia da carne nos EUA. Com as políticas de Trump, frigoríficos americanos podem perder até metade da mão de obra. Sem imigrantes, as linhas param, o leite e a carne não saem e o preço na gôndola dispara.

  • Brasileiro sobe na Syngenta. A multinacional colocou Emilhano Stefanello Lima no comando global de biológicos e Seedcare. O gaúcho quer integrar químicos e biológicos e provar que o futuro do campo tá no mix: fungicida com feromônio, bioestimulante com IA.

  • Petrobras reacende FAFENs no Nordeste. As fábricas de fertilizantes da Bahia e Sergipe voltam pra mão da Petrobras, que promete reativar ureia, amônia e ARLA-32 até o fim do ano. A estatal fala em retomar a presença no setor e reduzir a dependência externa.

  • Rech tenta se reerguer com acordo bilionário. Afogada em R$ 660 milhões de dívidas, a Rech Tratores entrou em recuperação extrajudicial. O plano inclui conversão de dívidas em debêntures e aporte de R$ 45 milhões pelo Aqua Capital. Agora é convencer fornecedor a confiar na virada.

  • Biochar da cana estreia em MG. A NetZero vai investir R$ 15 milhões em Campina Verde (MG) na primeira fábrica de biochar feito da cana. O produto melhora o solo, segura água e ainda rende créditos de carbono. A promessa é colher mais com menos e, de quebra, vender sustentabilidade.

SE DIVERTE AÍ

Quer testar se você manja mesmo de comércio internacional? O Mercosul acabou de fechar acordo com a turma do EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), e a pauta agora é mercado global. Bora jogar o Tradle, o joguinho que te desafia a adivinhar países só pelas exportações. Será que você acerta qual é o próximo parceiro do agro?

VIVENDO E APRENDENDO

Resposta da edição passada: Cravo-da-índia

Pergunta de hoje: Qual planta do Mediterrâneo foi cultivada por fenícios e romanos e é até hoje a principal fonte de azeite?

A resposta você fica sabendo na próxima edição!

Keep Reading

No posts found