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Bom dia!
O Brasil carimbou mais um passaporte no comércio global com o acordo Mercosul-EFTA. No campo, os bioinsumos mostram fôlego e podem desbancar os químicos até 2050, enquanto a Petrobras reaquece as fábricas de fertilizantes no Nordeste. A Mosaic abriu vagas de estágio técnico, a JBS mira aquisições na Europa e até o caroço de açaí virou um tipo de café.
Também tem:
• Recuperação judicial bilionária da Rech Tratores
• Agricultura biossalina dando água nova ao Semiárido
• Deportações ameaçando cadeia da carne nos EUA
Tudo que mexe com o agro, servido do seu jeito.
Por Enrico Romanelli
TÁ QUANTO?
Os dados são publicados por Cepea. As variações são calculadas em YTD (Year to date).
ASSUNTO DE GABINETE
Toc-toc, é o Mercosul

Foto: Adobe Stock
O Brasil carimbou ontem (16) mais um passaporte no comércio global. Foi assinado no Rio de Janeiro o acordo de livre comércio entre Mercosul e EFTA, um bloco econômico que reúne Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Agora, 99% das exportações brasileiras que pra lá vão circular sem tarifas, abrindo porteiras em mercados cheios de bufunfa.
A jogada interessa, e muito, ao agro. Carnes bovina, de frango e suína, café torrado, frutas como banana, uva e melão, além de sucos, arroz e até mel entram na lista de produtos que vão entrar por lá na faixa. Até o famoso “prelisting” de inspeções foi incluído, agilizando a liberação de cargas de origem animal. O acordo ainda garante proteção a 63 indicações geográficas nacionais, reforçando a marca do made in Brasil lá no exterior.
Os dois blocos juntos somam quase 300 milhões de consumidores e um PIB de mais de US$ 4,3 trilhões. Só em 2024, o comércio entre Brasil e EFTA movimentou US$ 7,1 bilhões. Agora, com o tratado, o governo calcula um aumento de pelo menos US$ 7,2 bilhões nas trocas entre os blocos.
E não é só isso: a assinatura com a EFTA se soma a outros trunfos recentes, como os acordos com Singapura e União Europeia. No total, o Brasil ampliou em 152% a fatia do comércio coberta por preferências tarifárias desde 2023.
As conversas começaram em 2017 e só agora saíram do papel. Foram anos de ajustes em temas como serviços, investimentos, compras públicas e sustentabilidade. Com o tratado assinado, falta só a etapa de ratificação nos parlamentos. Depois desse acordo, a bola da vez tá com a União Europeia, e o Brasil quer carimbar mais um passaporte pra colocar o agro no mapa europeu de vez.
ATUALIZAÇÃO NO CAMPO
Chatbots com sotaque rural

GIF: Giphy
A inteligência artificial invadiu a roça de vez e agora até o WhatsApp do produtor ganhou companhia. A Embrapa lançou o RAImundo, um assistente que responde dúvida sobre pragas, lê foto de lavoura e até pega sotaque da região. Já são seis mil produtores testando esse braço digital no dia a dia do campo.
A Syngenta botou a IA no Cropwise Balance: o produtor manda áudio no zap, a máquina entende, atualiza estoque, calcula custo por talhão e gera relatórios sem ninguém precisar abrir planilha. É tipo ter um estagiário que não pede férias nem esquece de anotar nada.
Já a Grão Direto criou o AIrton, consultor virtual que negocia preço de grãos, acompanha mercado e ainda manda áudio com análise pronta. O que antes era privilégio de produtor gigante, agora chega no celular de qualquer um. Só não dá pra esquecer: até a IA mais sabida ainda não substitui a visita do agrônomo.
RADAR DO AGRO
Bioinsumos crescem 15% ao ano e podem superar químicos até 2050

Foto: CrofpLife
Os bioinsumos tão numa alta tão grande que nem dá pra chamar mais de promessa. O setor cresce 15% ao ano e, se o ritmo continuar, vai passar os químicos até 2050. No O Siconbiol, em Gramado, virou vitrine dessa virada verde, com 1.400 pesquisadores e até homenagem a quem ajudou a abrir essa porteira científica
Enquanto a biologia vira protagonista, o agro mostra também sua força em gente. Em julho, o setor puxou a fila do emprego no Brasil, abrindo 206 mil vagas e ajudando a derrubar o desemprego pra 5,6%, o menor nível desde 2012. O campo não só sustenta o PIB como também ajuda a encher as carteiras.
Só que nem tudo são flores . A inadimplência no campo dobrou em três anos e agora ronda os 4%. Nos bancos públicos, como o BB, os atrasos chegam a 6,3%. Entre os produtores, o discurso é claro: a conta não fecha com juros altos, fertilizante caro e preço da saca caindo, sem falar dos prejuízos de produtividade por culpa do clima.
E o aperto já aparece nas estatísticas. A soja, carro-chefe da lavoura, viu a margem de lucro despencar pela metade nos últimos quatro anos. Custos altos, preços mais baixos e produtividade menor espremem o caixa do produtor, especialmente quem depende de arrendamento ou financiamento pesado.
Pra completar, até as tradings ajustaram as expectativas. A Abiove revisou pra baixo a receita das exportações do complexo soja em 2025: US$ 53,1 bilhões, 1,5% menos que no ano passado. O grão em si ainda deve render recorde em volume, mas com preço menor e farelo perdendo força. O óleo é a exceção, com previsão de alta nas cotações e receita.
MENTES QUE GERMINAM
Berço de porquinho

Foto: Canva/Creative Commons
Antes de parir, as porcas gostam de montar o seu quartinho da maternidade, juntando galhos e capim em um cantinho, pra ficar mais aconchegante. Só que no sistema atual de produção, isso não rola: ela fica presa e sem chance de seguir o instinto. Foi daí que surgiu a ideia da startup Nerthus: criar um ninho artificial biodegradável, feito com bagaço de cana e polpa cítrica.
O material parece galho, mas se desmancha em contato com a água, evitando entupir biodigestores e esgoto, ao contrário de palha ou feno. A porca pode puxar, morder e espalhar pela baia do jeito que quiser. O resultado são partos até 30% mais rápidos, menos estresse e leitões mais pesados.
A invenção, desenvolvida com apoio da Fapesp, dura até 48 horas, tempo suficiente pra ela expressar o instinto, liberar hormônios como ocitocina e prolactina e garantir mais sobrevivência pros filhotes. Um simples “galhinho fake” que faz a diferença no bem-estar do animal e no bolso do produtor.
NAS CABEÇAS DO AGRO
Deixa eu passar um açaí quentinho aqui procê

Foto: Canva/Creative Commons
O Brasil acaba de inventar mais um jeito curioso de tomar café: sem café. O chamado “café de açaí” é feito com caroço seco, torrado e moído da fruta amazônica e já começa a ganhar espaço aqui e lá fora. Além de dar destino nobre a toneladas de resíduos que antes iam pro lixo, a bebida é rica em fibras, antioxidantes e vitaminas. Sem cafeína, mas com aquele ar de novidade que dá gosto de contar.
Em Macapá, o casal Valda e Lázaro Gonçalves transformou o incômodo dos caroços jogados na rua em negócio. Hoje, a Engenho Café de Açaí exporta pra gringo e negocia contrato até com os Emirados Árabes, enquanto pesquisadores testam versões em cápsula e blends com café e cacau. Tudo isso sem uma gota de cafeína, mas com gosto amargo e pegada funcional.
E o boom pegou. Tem produtor em Sergipe apostando na bebida depois de anos de teste. No começo, o gosto lembrava Novalgina. Agora, a safra promete até cappuccino gelado de açaí. Será que vem aí o novo hype da gastronomia nacional?
PAUTA VERDE
Filtro de arroto milionário

Foto: AgFeed
O metano dos bois virou alvo de laboratório e de cheque gordo. A startup americana-dinamarquesa Ambient Carbon criou o Meps, um “exaustor” que usa luz UV pra decompor o gás nos currais, prometendo cortar até 90% das emissões. A ideia já conquistou gigantes como Danone, Arla Foods e Mars, de olho em leite e carne com pegada mais limpa.
O trambolho é um cilindro de 12 metros que suga o ar do curral, quebra o metano em água e CO₂, elimina amônia e até odores. De quebra, ainda gera fertilizante verde pros produtores. A diferença pros aditivos misturados na ração é que aqui a vaca não precisa engolir nada: o filtro trabalha sozinho, sem mudar sabor ou produção de leite.
O custo, claro, não é de troco: US$ 250 mil por instalação (R$ 1,3 milhão). A Ambient jura que a conta se paga em até cinco anos, se o produtor cobrar centavinhos a mais pelo leite de baixo carbono. Na Europa e nos EUA, parte do investimento tem sido dividida entre produtores, indústrias e até varejistas. Agora, o Brasil pode ser o próximo da fila, e já tem gigante da indústria sondando a novidade.
PLANTÃO RURAL
Procura-se estagiário. A Mosaic abriu inscrições para o programa de estágio técnico remunerado, com vagas em operações de MG, PR, SE, SP e BA. Os cursos vão de automação a mineração, química e segurança do trabalho. As inscrições são pelo CIEE e vão até 3 de novembro.
ANP quer taxa para fiscalizar combustíveis. A agência de petróleo e biocombustíveis cansou de caçar bandido no fiado. Quer criar uma taxa de fiscalização pra bancar operações como a Carbono Oculto e encher o caixa de um fundo próprio. Sem reforço, a ANP diz que a torneira da fiscalização seca em 2026.
Brasil assina embaixo do Tratado de Budapeste. Com a adesão ao Tratado de Budapeste, pesquisadores e empresas não vão mais precisar gastar uma fortuna no exterior pra registrar microrganismos. Agora, instituições nacionais podem virar depositárias, reduzindo custos e acelerando patentes de bioinsumos.
Sal da Terra aposta em agricultura biossalina. A Embrapa lançou projeto de agricultura biossalina pra transformar água salobra em produção de comida, forragem, tilápia e até microalga. Serão R$ 20 milhões pra mostrar que dá pra colher mesmo onde o sal tenta secar o campo.
Santa Mônica em recuperação judicial. A Justiça aprovou a recuperação judicial da Agropecuária Santa Mônica, do Grupo Marques, que carrega R$ 43 milhões em dívidas. O plano único será apresentado à assembleia de credores, enquanto as operações seguem protegidas.
JBS mira na Europa. Com a listagem em NY reduzindo o custo de capital, a companhia vê um mercado fragmentado e cheio de oportunidades. No Brasil e nos EUA, as compras ficam limitadas pelas regras de concentração.
Deportações ameaçam cadeia da carne nos EUA. Com as políticas de Trump, frigoríficos americanos podem perder até metade da mão de obra. Sem imigrantes, as linhas param, o leite e a carne não saem e o preço na gôndola dispara.
Brasileiro sobe na Syngenta. A multinacional colocou Emilhano Stefanello Lima no comando global de biológicos e Seedcare. O gaúcho quer integrar químicos e biológicos e provar que o futuro do campo tá no mix: fungicida com feromônio, bioestimulante com IA.
Petrobras reacende FAFENs no Nordeste. As fábricas de fertilizantes da Bahia e Sergipe voltam pra mão da Petrobras, que promete reativar ureia, amônia e ARLA-32 até o fim do ano. A estatal fala em retomar a presença no setor e reduzir a dependência externa.
Rech tenta se reerguer com acordo bilionário. Afogada em R$ 660 milhões de dívidas, a Rech Tratores entrou em recuperação extrajudicial. O plano inclui conversão de dívidas em debêntures e aporte de R$ 45 milhões pelo Aqua Capital. Agora é convencer fornecedor a confiar na virada.
Biochar da cana estreia em MG. A NetZero vai investir R$ 15 milhões em Campina Verde (MG) na primeira fábrica de biochar feito da cana. O produto melhora o solo, segura água e ainda rende créditos de carbono. A promessa é colher mais com menos e, de quebra, vender sustentabilidade.
SE DIVERTE AÍ
Quer testar se você manja mesmo de comércio internacional? O Mercosul acabou de fechar acordo com a turma do EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), e a pauta agora é mercado global. Bora jogar o Tradle, o joguinho que te desafia a adivinhar países só pelas exportações. Será que você acerta qual é o próximo parceiro do agro?
VIVENDO E APRENDENDO
Resposta da edição passada: Cravo-da-índia
Pergunta de hoje: Qual planta do Mediterrâneo foi cultivada por fenícios e romanos e é até hoje a principal fonte de azeite?
A resposta você fica sabendo na próxima edição!
